Tremhunt: Esperando que o acaso aconteça...

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Perguntou, e o trem já vinha chegando.

—Beleza.

Respondi, sem aparentar interesse. Entramos e um rapaz sentou do meu lado e ele de frente para mim, com outro rapaz sentado ao lado dele. Só faltando uma estação para descer é que conseguimos sentar lado a lado. O nome dele era Kevin. Tivemos uma conversa rápida e xôxa.

—Eu vou te passar meu número... —Eu disse, abrindo a bolsa.

—Ah, não é muito indiscreto?"

—Ah, beleza então... Nos vemos amanhã.... talvez. —Terminei, partindo e deixando-o seguir viagem.

No mesmo dia, descendo as escadas da faculdade, vi um rapaz no bebedouro e desci na frente dele. Saímos da faculdade, caminhando para a estação e parecíamos estar apostando uma corrida silenciosa, às vezes ele me passava, ai eu ia e o passava de novo. Ambos caminhavam em um determinado ritmo. Em nenhum momento ele demonstrou algum interesse. Meu "gaydar" não detectou nada. Chegando na estação, ele foi comprar passe e eu finalmente olhei para trás, ganhando a corrida. Lá embaixo, me sentei e ele veio após um tempo. Ao passar por mim, eu o olhei e ele se sentou do meu lado.

—Oi... Tudo bem?

Perguntou, e respondi que sim. Começamos a conversar e viemos o caminho inteiro falando de faculdade e cursos. Em minha estação, tirei meu caderno e coloquei meu msn e telefone para ele, sem nem saber se ele era ou não gay. Uma pena que ele não adicionou e nem ligou.Vai ver for alarme falso.

O moral da história é que é complicado procurar o acaso, esperando que este aconteça. Se é acaso, como esperar por ele? Acaso é acaso... Não se pode esperar uma segunda chance para ter uma primeira ação e as certezas podem ser duvidosas, assim como as dúvidas acabam provando-se certas se investimos. Mas de qualquer forma, o que esperar de alguém que se encontra na caça do trem? Não muito...

Bom, pelo menos não me envolvi com o Kevin. afinal, poderia dar algum rolo com o zangado, que pelo jeito é amigo dele e um dia rolou uma faísca conosco. Melhor tudo ficar como está mesmo.

Certo?

Eu achava que sim. Mas o que acontece também não é o que achamos... Estava eu na terça feira esperando o trem e surgiu o Kevin, todo sorridente.

—Oi, Arthur... Vem cá, minha amiga está aqui comigo, disse que a gente se conhece faz tempo.

Fui arrastado por ele e nós três começamos a conversar. O que achei que seria uma péssima situação até que foi legal. Do meu lado, o Kevin começou a, de braços cruzados, acariciar meu braço de forma bem discreta. Chegando na minha estação, eu peguei meu celular para ver a hora e ele pegou da minha mão, anotando o número dele. Mas eu de qualquer forma não poderia ligar.

—Acho que você deveria cabular aula hoje...

Disse o Kevin, e eu disse que não podia. Me despedi deles e parti. O que aquele garoto estava querendo fazer lá na estação que ele desce eu não sei, mas não sou desses.

Na quarta feira, descobri um pouco mais a respeito do Kevin. Outra amiga apareceu e fomos conversando até ela decidir dormir. Então eu e ele começamos a falar de algumas intimidades. Foi ai que ele me contou de seu namoro quando tinha apenas 16 anos, com um garoto de 14. Seus olhos encheram de lágrimas nesse instante e finalmente encontrei a resposta...

Caçadores do trem também tem coração. E a resposta estava em mim o tempo todo, considerando que eu caço no trem em busca de amor cotidiano e verdadeiro. Em busca do que eu estava tendo ali, encontrando o garoto todos os dias e conhecendo aos pouquinhos. Ele começou a acariciar meu braço de novo.

—Ontem eu fiz isso também...

—Percebi, né?

—Posso parar se você quiser...

—Não, não, rsrs..

Eu disse, quase que de imediato, e rimos muito. Em um ato impulsivo o convidei para ver Harry Potter no cinema e ele disse que estava sem dinheiro, mas que me ligaria para saber se poderíamos sair à noite.

—A aula que eu tenho hoje é muito chata, eu não quero ir... Então eu te ligo.

De tarde, me ligou e combinamos de nos encontrar às 18:20 na Barra Funda. E lá estava eu, no horário, como em raras vezes. Descendo ao metrô no horário de pico, vimos uma briga de neandertal..... quer dizer, de Palmeirenses na estação e ele ficou temeroso. Chegando ao cinema da República, ele disse não ter dinheiro MESMO e decidimos apenas caminhar. Bebemos um suco em um bar não-gay e depois saímos, conversando e rindo. Uma química legal surgiu e fomos para a pracinha quase vazia da Viera, onde atrás de uma banca finalmente ficamos.

E foi ótimo!!

O dono da banca bateu pelo lado de dentro algumas vezes e tivemos que sair. Fiquei fulo da vida, mas de longe vimos uns caras na banca bem mal encarados e pensamos: "Será que ele nos avisou para ficarmos espertos?"

Na volta, o Kevin encontrou mais um amigo (o terceiro diferente essa semana, cada dia um....) na estação e ele era MUUUITO gay, daqueles BEM afeminados mesmo. Só ao chegar na minha cidade tivemos um tempo curto juntos. Combinamos de nos ver no dia seguinte, mas eu tive que me abrir:

—Seu amigo da estação não gosta de mim, Kevin. Se você estiver com ele, não me espere...

E por fim, na sexta feira, cheguei na estação e lá no final, avistei o Kevin com seu amigo. Decidi não ir para lá. Meu celular tocou.

"Alô? Arthur? Já tá chegando? Estou aqui com meu amigo, ligando do celular dele, inclusive. Tô esperando."

Quando eu fui falar que ia me atrasar...

"O trem da plataforma dois não presta serviço, favor desembarcar."

Fui denunciado pelo auto-falante da estação de trem.

—Já estou chegando, Kevin...

E lá fui eu, como se caminhasse para o matadouro, prestes a passar por uma situação constrangedora. Ao me aproximar dos dois, o zangado de costas e o Kevin me esperando, fiz sinal de quem corta o pescoço para ele, que riu sem jeito, e falei com uma voz doce:

—E ai, Kevin...

Apertei sua mão, e ambos ficamos nos olhando enquanto o zangado permanecia de costas, provavelmente tinha me visto de canto de olho...

—Will, esse é o Arthur.

Ele se virou, e finalmente nos encaramos.................................

Diário de um ex-virgem gayWhere stories live. Discover now