Tremhunt: Esperando que o acaso aconteça...

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Certo dia, fui para a faculdade atrasado e cheguei na estação, indo para o último vagão por ser mais vazio. Chegando lá, tinha um carinha. Ele estava lá parado, esperando o trem como eu e começamos a trocar olhares. Entrei no trem e ele ficou do lado de fora. Continuei olhando para ele da janela e então ele entrou, sentando um pouco a frente. Ficamos nos olhando, olhando...... e nada aconteceu.

O tempo passou, e em alguns dias que fui para a faculdade novamente atrasado, reencontrei o rapaz. O estranho foi que dessas vezes, ele começou a me olhar com cara feia, como se fosse um homofóbico. Meu "gaydar" não falha, eu sabia que aquele cara era gay, o máximo que estava acontecendo ali era ele com raiva por eu não ter tomado uma atitude. Mas ele também não tomou. Fazendo uma cara bem feia também, me sentei longe e ignorei aquela existência desaforada no vagão.

As coisas ficaram bem calmas e monótonas nos últimos meses de faculdade. Adiantamos bastante o nosso TCC/TGI e eu comecei a nem me importar com horários. Passei a ir mais tarde, afinal, só precisava ir pra supervisionar meu grupo, cuidar para que continuem trabalhando, já que minha parte eu concluí. E também relaxei nos horários. Em alguns dias, encontrei o zangado novamente, sempre com aquela cara de bravo, e em um dos dias, o vi com um amigo, rindo e conversando. O amigo? Com certeza gay também. Ignorando ambos, segui meu caminho tranquilo.

Em um determinado dia, um rapaz entrou em uma das estações e ficou de pé, de costas para onde eu estava sentado. Quando me viu, não parou de olhar para mim. Fiquei até envergonhado, de tanto que ele olhava, era coisa de torcer o pescoço mesmo. Quando fui descer, ele continuou olhando, sentando no banco e dei um sorrisinho acanhado. Ele apenas olhava, parecia extasiado. Saí do trem e caminhando pela estação, eu o vi olhar de dentro do trem....

E eu gamei nele.

Arrependido por não ter dito nada, por não ter sentado do lado dele, ignorando passar da minha estação, eu anotei o horário e decidi vir no dia seguinte no mesmo horario para poder reencontrá-lo e quem sabe acontecer algo.

No dia seguinte, cheguei à estação e esperei ansiosamente o trem no mesmo horário. Vi um rapaz na plataforma e trocamos olhares. Mas eu não estava nem ai para ele, só pensava naquele que eu ia encontrar em breve. Sentei, peguei um papelzinho e anotei meu telefone para entregar a meu príncipe encantado (kk). O rapazinho da estação sentou na outra ponta do vagão e ficou me olhando. Ele acenou com a cabeça para eu me sentar próximo a ele. Eu balancei negativamente a cabeça...

Chegando na estação em que o rapaz entrou, eu estava trêmulo. Mas ele não apareceu. Desci do trem decidido a encontrá-lo, afinal, ele poderia estar atrasado. Só depois do trem partir que me dei conta do tamanho da minha falta de autoestima... descer atrás de homem em uma estação. Fundo do poço, com certeza. Desisti, e parti no trem seguinte.

Algumas semanas se passaram e reencontrei o rapaz que balancei negativamente a cabeça na estação de novo... e ele estava acompanhado do zangado. Na verdade ele era o amigo do zangado. Uma estação antes de eu descer, o zangado desceu e eu me levantei, já que iria descer logo. Olhei para o rapazinho, que me olhava de forma tímida, e dei um sorrisinho sem dentes para ele. Ele retribuiu com uma cara de pena de sí próprio, como se tivesse dúvida das minhas intenções. Desci do trem e fui andando na plataforma. Quando vi que ele ainda me olhava, levei a mão à boca e dei um tchauzinho apenas com os dedos, de forma discreta, gargalhando sozinho depois, já imaginando o desespero do rapaz preso no trem sem poder voltar, o mesmo arrependimento que me tomou há semanas atrás.

Na semana seguinte, reencontrei o rapazinho na estação e ele caminhou decidido até mim.

—E ai, beleza?

Diário de um ex-virgem gayOnde as histórias ganham vida. Descobre agora