Expose I: Alerta de Segurança

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Desde o semestre anterior da faculdade, algumas vezes eu saía pelo estacionamento (saída proibida para pedestres) para não ter que dar uma volta enorme na faculdade. Quando eu saía por aquele local, observava que um segurança (e ele retribuía  me observando).

A cara que ele fazia não era muito boa.

Eu ignorava, afinal pagava mensalidade (mentira, era bolsista) e saía por onde quisesse dali. Mas o segurança era bonito, eu ficava olhando-o com certa desconfiança, sem saber por que era observado daquela forma.

Um dia, saí por lá com uns amigos. O segurança estava de pé fora do seu balcão e começou a me olhar. Então resolvi encarar. Fiquei olhando pra ele. Uma de minhas colegas viu e ficou indignada.

—Por que você tá encarando o rapaz, Arthur?

—Eu? Eu não, to me olhando no espelho aqui... (tinha um espelho entre mim e o segurança).

Na quinta feira seguinte, terminei uma prova e desci para a biblioteca para ver se havia algum TCC que eu pudesse pesquisar relacionado ao nosso projeto final. Não encontrei nada e me dirigi ao elevador.

Na porta do elevador, estava o segurança, saindo de uma sala de exposição de quadros. Eu o cumprimentei, ele respondeu e foi saindo. De repente, voltou. E parou do meu lado na porta do elevador. Entramos e ele perguntou:

—Qual andar?

—Três...

Ele apertou. Comecei a olhar para ele, não com a seriedade de antes, mas com serenidade. Ele então deu um sorrisinho sem jeito.  (!!!)

Descemos no três e cada um foi para um lado. De repente, pensei:

—Pro lado que ele foi, só há o banheiro...

Voltei e subi para o banheiro. Comecei a lavar as mãos. Logo, ele saiu e a porta pela qual ele saiu fez um barulho forte de batida. Eu ri e disse:

—Porta nervosa, hein...

Ele riu, começou a lavar a mão do meu lado. Os olhares que trocou comigo estavam dizendo que ele estava tão a fim quanto eu.

Mas eu estava com muito medo (novidade, né?), além de nunca ter nem cogitado em fazer nada em banheiros .

Mas aqueles olhares...

—Trabalha faz tempo aqui?

—Há três anos...

—Como é?

—É legal... mas as vezes enche o saco.

—É, como tudo, né...

—Você estuda aqui? Qual seu nome?

—Arthur. E você?

—Miller.

Saímos do banheiro, e não sei por que continuei andando atrás dele, que ia com passos largos caminhando. Passamos pelo corredor. Eu tinha que conseguir chegar a meu objetivo até o fim daquela conversa. Ele prosseguiu, me perguntando:

—Você estuda o que?

—Design...

—Pô, eu gosto desse curso. Bem legal.

—É sim... E você, só trabalha? Ouvi dizer que quem trampa aqui pode fazer curso de graça...

—Ah, mas eu sou terceirizado.

Descemos as escadas. Eu não sabia pra onde ele estava indo.

—Mora sozinho, Miller?

—Moro sim. Mas trabalho de segunda a sábado. Não é muito bom morar só.

—Ah, eu gostaria. Qual sua idade?

Chegamos no corredor térreo.

—Tenho vinte e oito, tô ficando velho.

Bom sinal, eu pensei, vinte e oito é a idade da maioria das pessoas com que me dei bem.

—Tá nada, pra mim é uma boa idade. Tenho vinte e quatro.

—Vinte e quatro? Idade perigosa, hein...

Dei uma risada e tinha nas mãos a oportunidade perfeita.

—Ah, mas não tenho problema quanto a isso, não, já me decidi. Sou gay mesmo.

—É?

—Uhum.

—E faz o que?

Essa é a famosa pergunta que adoram fazer, a posição sexual. Respondi a ele quase que automaticamente que eu era passivo (única posição que eu sabia até então).

—Mas e você? É gay também?

—Não.

"Não"? "NÃO"? Mas e aqueles olhares? E aquelas insinuações? Com certeza aquilo era mentira. Com certeza meu gosto sexual era o mesmo que o dele e por isso ele recuou na hora "H".

—Tenho uns amigos que curtem e quando sua amiga falou de você estar olhando pra mim no estacionamento, desconfiei que fosse por esse motivo. Mas não tenho nada contra.

Chegamos então ao fim do corredor.

—Vou ter que descer aqui pra pegar meu crachá. Até mais, Arthur, a gente se vê.

Sai de lá com o coração disparado, sem saber o que pensar. Eu tinha me exposto por que tinha certeza que algo sairia dali. Das certezas, só restaram dúvidas. Afinal, aquele segurança foi sincero ou escondia algum esqueleto em seu armário?

Diário de um ex-virgem gayOnde as histórias ganham vida. Descobre agora