03.1 | ou ❝eu sou joão jordan❞

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Quando João Jordan está sério, pode começar a se preocupar.

— Só porque você é uma imbecil que não sabe ficar de boca fechada, — elaborou ele, dando alguns passos na minha direção, com o olhar fixo no meu rosto — e me implicou nessa investigação estúpida, isso não significa que não sejamos amigos.

Ele me fitou por mais alguns segundos, e a expressão séria que ele provavelmente estava se contorcendo para sustentar por tanto tempo se dissipou. Um sorriso sincero se formou em seu rosto, e os braços cruzados se arreganharam na prévia de um abraço que eu realmente estava precisando.

— João Putão. — minha voz saiu abafada pelo aperto de seus braços fortes.

— Val do Mal.

Eu o abracei com tanta força, e ele me tirou do chão ao retribuir; eu o abracei como há muito tempo não abraçava um amigo.

Aliás, eu o abracei como há muito tempo não abraçava ninguém.

— É bom tê-la de volta. — confessou ele, sem conseguir me soltar.

— Até parece.

Nos olhamos com sinceridade por algum tempo. Eu tentei repassar mentalmente tudo que João sabia sobre a minha parte no incêndio, o que era, basicamente, nada. No segundo em que eu me dei conta de que João Jordan estava em Vitória, eu só quis concentrar todas as minhas forças para fazê-lo se mandar de lá, porque aquela história de misturar dois núcleos da minha farsa não tinha a menor chance de acabar bem.

A grande ironia era justamente o fato de que a colisão dos meus núcleos históricos, a dizer, João e Lorena se pegando, fora exatamente o motivo pelo qual eu havia sido descoberta.

Só não era culpa dele. A culpa era minha, por roubar o namorado da garota que supostamente era minha melhor amiga.

João não sabia de nada sobre o meu papel no incêndio. Ele não sabia se eu tinha tocado fogo na escola, explodido o laboratório, e também não sabia se eu era inocente ou se estava fugindo de alguma coisa. Tudo o que ele sabia era o que ele tinha visto quando se enfiara no meio das chamas para tentar me resgatar, sem ter noção de que eu não precisava de resgate.

E João me avistou enquanto eu fugia para cortar os fios do alarme de incêndio, mas passara todo o tempo tentando acreditar que aquela visão era apenas um delírio causado pela intoxicação de toda aquela fumaça.

Só naquele momento me ocorreu que João não sabia que eu não tinha colocado fogo na nossa escola. Não, tudo o que ele sabia era que tinha me fingido de morta e fugido da cidade para viver em outro lugar.

— Meu advogado diz que sua publicidade está melhorando, agora que você sai de casa. — ele quebrou o silêncio depois de algum tempo.

— Não sei como ele pode achar isso. — devolvi, me sentindo perigosamente feliz por estar conversando com alguém que, de fato, passava pelo mesmo que eu.

— É uma coisa boa, eu acho. Estava começando a ficar realmente irritado com toda aquela atenção que você estava recebendo. — confessou ele, em tom de brincadeira, e meu deu um soquinho amigável no antebraço que, por amigável que fosse, quase me desmontou.

— Pode ficar à vontade para pegar toda essa atenção para você. Eu odeio aqueles caras. — fiz, referindo-me aos paparazzi.

— Acho que eles vão te deixar em paz agora. — assegurou João, e eu não sabia de onde ele estava tirando tanta convicção.

— Não sei não. A maioria das pessoas realmente acredita que eu sou a incendiária.

O silêncio de João só podia ser interpretado de uma forma. Ele não sabia de nada, mesmo. Nem João, nem Nicholas, nem Alan, nem ninguém que não fosse meu pai. Naquela cidade, ninguém sabia o que realmente tinha acontecido no dia do incêndio, ou porque eu tinha fugido, ou de quem... e se é que eu tinha realmente outra razão para fugir que não a minha provável culpa no acontecido.

Quem Brinca Com FogoWhere stories live. Discover now