— Pode até ser. Todavia, medalha nenhuma apaga aquelas marcas do rosto dele. Quer um monstro para marido, minha filha?
— O senhor as viu?
— Não. Mathias e mais conhecidos meus, que estiveram na cerimônia do quartel, viram. Porque ele não nos convidou? Deve ter receio que o asco seja tão grande que perca a tua mão.
— O que de fato acontece, não é, meu pai? Pois saiba o senhor que a face dele não provoca asco nenhum! Eu a vi! Ele não é um monstro!
Ela estava alterada e falou bem mais alto que deveria.
Amélia assistiu o assombro na face dos pais.
— E falo mais: essas marcas são a insígnia que o senhor pediu tempos atrás, para que ele provasse sua honra e coragem, a fim de merecer minha mão. Aí está. E agora, o senhor volta com a palavra?
— Que é que vale mais? Minha palavra ou a tua felicidade?
— Minha felicidade é ser a esposa de Fabrício — ela asseverou sem nenhuma dúvida.
— Tolice! Está apaixonada. Porém, isso é coisa que passa. Casamento é para sempre. Quero para ti alguém que te fará sentir-se bem onde quer que vás, enquanto viverem.
— Papai! Não me importo com isso. Quero alguém que me faça sentir bem quando estou a sós com esse alguém!
Crisóstomo sentia o sangue a ferver, estupefato pelo modo que a filha lhe redarguia tudo que dizia.
— Estiveste a sós com Fabrício?
Amélia baixou o olhar. O pai insistiu.
— Sim, no baile, na varanda. — Então, corajosa, indagou: — Como achas que ele me deu o anel, se não o via desde aquela cavalhada, antes de ele partir para a guerra?
— Imprudente! Pois me dê o anel que tratarei de devolvê-lo — ordenou.
D. Maria Laura, acossada pela situação, irritada com Crisóstomo, implorou:
— Vamos descer e terminar em casa. O Rio de Janeiro inteiro não precisa saber o que se passa.
— Não me importo com o Rio de Janeiro e, me perdoe, papai, não me importo com a tua opinião a respeito do Fabrício. O anel é meu e do meu dedo só sai se eu estiver morta!
— Ah, omessa! — nervoso ele fechou a mão em seu braço, apertando-o. Tinha vontade de chacoalhar Amélia até deixá-la atordoada, mole no chão. — Menininha petulante! Pois a senhorinha está de castigo por todo esse desrespeito e rebeldia para comigo. Esqueça-te de todos os bailes da temporada!
E ao dizer isso, desceu da carruagem e ficou ali, para ajudar a esposa que, ao descer, ignorou sua mão, endereçando-lhe um olhar glacial. Amélia desceu do veículo feito tempestade. "Como se eu me entristecesse em pôr a perder bailes!... Quando o caso... ah, quando o caso é Fabrício." — Ela pensava indignada. Entrou e, arregaçando as saias, subiu as escadas correndo e chorando, sem acreditar no que acontecia.
"O quê, mas o quê direi ao Fabrício?" — Gritava internamente.
O pai não temia pôr a perder a velha amizade com Emílio Nogueira?
Mais tarde, no escuro, Maria Laura disse magoada ao esposo:
— Tu escolhes tanto para Amélia que ela acaba como minha irmã. Sozinha.
Batiam na porta.
Crisóstomo levantou da cama e, chateado, se enfiou num robe de chambre e foi ver quem era.
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Graciosa [Em Andamento♡]
Historical FictionGraciosa é um romance épico em 2 tomos inspirado no conto clássico A Bela e a Fera e se passa no século XIX, ambientado na corte do Rio de Janeiro, Portugal - Santa Maria da Serra da Estrela e na província do Paraná - Serra da Graciosa. Ela uma Sinh...
Capítulo VIII
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