Não contar

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CAMILA

Hoje eu finalmente estava voltando para casa, por sorte minha mãe havia conseguido mudar a data da passagem para a noite seguinte a sua ligação e eu me encontrava ansiosa para rever meus pais e minha irmã. Foram quase duas semanas completas em Miami e eu sentia como se fossem quase um mês, contando com todos os péssimos acontecimentos que ocorreram lá.

Eu ainda me sentia confusa e perdida com as coisas estranhas que venho sentindo, mas tentei esconder tudo isso e focar apenas na paisagem das nuvens envolta do avião e no som que a aeronave transmitia. Minhas amigas resolveram voltar junto comigo e Verônica ainda ignorava minha existência, eu já nem insistia mais para que ela falasse comigo e tentasse me entender, em algum momento a ficha dela teria que cair, mas conhecendo minha amiga como conheço, ela não deixaria seu orgulho de lado.

Também havia conseguido vender os ingressos e recuperado ao menos metade de todo o preço gasto na compra deles, era decepcionante não ter tido ânimo de ir vê-los no show, mas alguém aproveitaria em nosso lugar. Talvez ouvessem outras oportunidades para vê-los cantar em algum momento, mas agora a única coisa que importava era estar de volta em casa.

Sem que eu percebesse o avião pousou, vi Dinah acordar nossa amiga adormecida e caminhamos até o portão de desembarque a procura dos nossos respectivos pais. Estávamos caladas e isso me preocupava se deixaria visível todas as nossas preocupações, a última coisa que eu queria fazer era ter de acabar contando para minha mãe o que acontecerá em Miami.

Eu nunca havia mentido para os meus pais, além de ter ouvido toda a minha vida como mentiras eram as coisas mais feias e desprezíveis do mundo, nós sempre mantivemos um relação de cumplicidade. Minha mãe é quase como o meu diário secreto e sabe de tudo e qualquer coisa que acontecia comigo, eu me sentia mal de não poder contar que sabia sobre Alexa e quem estava com ela, mas eu não daria oportunidade para que o homem fizesse algum mal a minha pequenina.

- Kaki! - a voz de Sofia me despertou e a menina correu pulando em meu colo - você chegou!

- Oi, princesinha! - apertei-a em meus braços e sorri sentindo seu cheirinho de bebê - senti tantas saudades de você!

- Agora não sente mais! - ela riu e tocou meu rosto - nós podemos brincar e fazer o piquenique que você me prometeu?

- Você não se esquece mesmo das minhas promessas, não é? - questionei colocando-a no chão e vi meu pai se aproximar.

- Por isso vou ser detetive igual ao papai! - disse animadamente.

- E será melhor detetive do que eu!

Meu pai exclamando com orgulho sobre as palavras de Sofia e o abracei com força, eu senti tantas saudades de casa e da segurança daqueles braços que talvez fosse acabar chorando, mas me contive em sorrir e apenas apertá-lo no abraço. Era tão bom estar em casa novamente, provavelmente eu nunca mais me mantivesse tanto tempo longe outra vez.

- Isso tudo é saudades? - meu pai riu e tocou meu rosto - esqueci como você é forte.

- Cadê a mama? - questionei não vendo-a para me dar os seus abraços casa.

- Ficou em casa, não se sentia muito bem.

Entendi imediatamente o que ele quis dizer com suas meias palavras e sorri triste, olhar nos olhos do meu pai naquele instante se tornou um tanto imtimidador e apenas o segui até o carro me despedindo das minhas amigas rapidamente antes de seguirmos para casa.

Durante a viagem Sofia não se calava por nada, me contava todos os acontecimentos importantes que ocorreram enquanto eu estava longe e lamentava toda a sua saudade de Alexa que eu compartilhava com a menina silenciosamente. Era estranho não tê-la ali tagarelando tanto quanto sua cópia ao meu lado. Pensar nela fez mais preocupações me perseguirem e eu só desejava que ela estivesse bem e que Lauren a mantivesse em segurança enquanto estivessem nessa maldita situação.

Quando chegamos em casa Sofia continuou tagarelando e me arrastou até a sala para me mostrar seus novos jogos de detetive e acessórios parecidos com os dos detetives da tv, era bonito ver sua animação em querer seguir os passos do nosso pai e ele se orgulhava tanto que vivia a incentivando e se gabando para os amigos do DP que sua filha seria a melhor detetive do mundo.

Estranhei não ver minha mãe perambulando pela casa juntando as bagunças das meninas e nem na cozinha arriscando criar mais um dos seus pratos saudáveis, esses eram os hobbies da mulher. Resolvi não questionar e subi para o quarto tentar relaxar um pouco e desfazer as malas, depois a procuraria.

Eu pretendia ganhar tempo desfazendo as malas para conseguir pensar em como agir e o que dizer para minha mãe, eu poderia tentar mentir o quanto quisesse, mas ela me conhecia o suficiente para entender os mínimos sinais de quando algo estava errado comigo ou então quando eu tentava esconder algo. Talvez por isso em casa eu era taxada como uma péssima mentirosa, era de se compreender já que eu odiava mentir para eles.

Neste momento mesmo eu estou tentado respirar fundo enquanto guardo minhas coisas de volta no closet e repenso se é melhor manter Lauren e minha irmã em segurança ou se devo contar de uma vez por todas essa maldita confusão. O meu maior medo é que Cody machuque Alexa ou que acabe fazendo algo irreversível, também tem o fato de todo o mal que ele causava para Lauren e, por mais que eu não quisesse pensar nisto, era quase impossível não imaginar que ele pudesse estar machucando-a novamente.

- Está tudo bem, mi hija?

A voz da minha mãe vindo da porta me tirou dos devaneios e a encarei, sentia saudades daquela voz e daquela presença. No entanto assim que meus olhos encontrou-a escorada no batente da porta pude sentir meu coração quebrar, minha respiração pesar e as preocupações voltarem com ainda mais força que antes.

Minha mãe tinha os olhos verdes esmeralda sem o seu brilho constante, agora eram num verde escuro e triste. As olheiras abaixo dos seus olhos eram escuras e denunciavam as noites mal dormidas, seus cabelos que também ficavam sempre bem arrumados estavam desgrenhados e ela parecia não se importar com tudo isso.

- Camila, me responda - minha mãe entrou no quarto e desviei meus pensamentos - você estava totalmente paralisada e distante quando cheguei aqui.

- É... Eu... Uhm... - respirei fundo e o olhar da minha mãe era quase que mortal em minha direção.

- Vai dizer que foi a água desta vez? - questionou se sentando ao meu lado - eu sei que você mentiu para mim naquela ligação, Karla Camila.

Sentei-me ao lado da mulher na cama e voltei a puxar o ar aos pulmões tentando me manter calma e pensando no que dizer. Ela conseguia ser ameaçadora quando queria e isso me deixava sem saber o que fazer e eu não poderia acabar deixando escapar tudo o que eu sabia, são poucas coisas, mas já ajudaria bastante em encontrar Alexa.

- Filha, me conte o que está acontecendo.

Toquei o rosto da mulher e tentei sorrir, vê-la destruída daquele jeito estava fazendo uma dor dolorida queimar em mim e em seguida a abracei o mais forte que eu podia. Tudo que eu queria fazê-la sentir era que naquele momento eu estava ali para ela e para o que ela precisasse. Afinal de contas a culpa também batia em minha porta, não estava sabendo muito bem como lidar com isso e com a responsabilidade que Cody jogou em minhas costas, obrigando-me a esconder isso das pessoas que mais estavam sofrendo com tudo isso.

- Camila...

- Eu senti saudades, mama! - sorri tentando não deixar as lágrimas correrem soltas e ela voltou a segurar meu rosto analizando minhas feições - sabe que eu te amo, não é?

- Claro que sim, hija! Eu também te amo, mais do que pode imaginar - ela acariciou meu rosto com um sorriso que não lhe chegava aos olhos como sempre fora - me desculpe estragar sua viagem, vocês nem puderam ir ao show, não é?

- Não se preocupe com isso, teremos outra oportunidade, o que importa agora é eu estar em casa e poder cuidar de você.

Deitei-me com a cabeça sob as pernas de minha mãe e senti suas mãos carinhosas nos meus cabelos e fechei meus olhos. Era disso que eu precisava, dos carinhos e palavras sábias que só ela sabia dar, talvez esse fosse o momento para falar sobre tudo o que me incomodava sem tocar no nome de Alexa, não era certo colocá-la em perigo.

- Mama, estou me apaixonando!

Amor a distância {BOOK ¹}Where stories live. Discover now