Capítulo 1 (Parte 1)

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E apesar de outrora já ter pegado muito pesado na academia, sua preocupação sempre fora manter-se apto o suficiente para as atividades que sua carreira na polícia lhe exigiam. Agora, sua preocupação era mesmo a saúde, ponderou, tomando o seu último gole de café.

Pediu uma segunda xícara e seus pensamentos se desviaram para Açucena. Era muito intenso o que sentia por ela. Tão intenso que, às vezes, ficava preocupado com aquilo. Nunca havia experimentado um sentimento tão forte. Ele sempre acreditou que o peso do compromisso e o apego para com o dever tornavam o seu coração forte o suficiente para mantê-lo a salvo de qualquer relacionamento afetivo mais profundo. Mas não fora! E aquele anseio que dominou o seu peito, apesar de toda a sua relutância, havia mudado muita coisa lá dentro, e se assentado de forma constante e inabalável. E ele foi obrigado a tomar decisões que mudaram os rumos de sua vida, pensou, um pouco furioso com o sentimento de impotência que aquela paixão despertava nele. Se Açucena imaginasse o poder que tinha sobre sua vida, podia fazer o que quisesse dele, até fazê-lo de um simples capacho!

Um sorriso irônico surgiu no canto dos seus lábios nesse momento. Era ridículo como havia se tornado um idiota apaixonado! Justo ele que sempre fugiu às armadilhas do amor. Justo ele que sempre preferiu os riscos do trabalho em campo, a um relacionamento amoroso!

Mas não havia como mudar aquilo. Não havia como voltar atrás. Se é que existiam cupidos, um desses malditos havia acertado em cheio o seu peito desde o primeiro momento que viu Açucena à sua frente. E não havia mais como fugir ou renegar aquele sentimento avassalador que o dominou por completo desde então, concluiu, com algum pesar.

Esforçando-se para conter a irritação e a impaciência que se apoderaram dele na sequência, prolongou aquela segunda xícara de café, tomando-o em minúsculos goles. Não queria arriscar-se a uma terceira xícara, visto que o excesso de cafeína já começava a circular em suas veias como uma corrente elétrica.

Olhou para o seu relógio de pulso no momento exato em que o ponteiro dos segundos alcançou o 12 e o ponteiro das horas apontou para o número 5. Nos dez minutos seguintes, mais uma miríade de coisas se passou por sua cabeça, aumentando ainda mais sua ansiedade e também um pouco do seu mau humor.

Foi quando um homem moreno, alto e forte, trajando uma calça jeans e uma camiseta preta, de mais ou menos sessenta anos de idade e cabeça quase raspada, se aproximou.

— Desculpe o atraso. Tive um pequeno contratempo — justificou-se rapidamente.

Com o humor ainda oscilante, Eduardo levantou-se para cumprimentar o amigo e ex-chefe com um aperto de mão e alguns tapinhas nas costas.

— Sem problema.

Belchior sentou-se na cadeira em frente e chamou o garçom. Pediu um copo de água mineral e um café preto também, já que faria plantão naquela noite e não podia se dar ao luxo de beber qualquer coisa que tivesse o mínimo de álcool. A seguir, engatou uma conversa moderada. Falou sobre sua recente separação, por causa de uma traição por parte dele, e da reação de seus dois filhos. Falou também de outras coisas mais amenas, da corporação, etc. Mas como não era um homem muito chegado a lengalenga, pelo contrário disso, era um homem muito direto e franco, logo abordou o assunto que o levou a marcar aquele encontro:

— Soube que está morando em Maués, com aquela jovem que foi investigar...

— Estou sendo monitorado? — Perguntou Eduardo em tom de brincadeira, tentando disfarçar o incômodo que aquele comentário gerou em seu íntimo e também dissimular sua apreensão. — Sim, é isso mesmo. Por quê?

— Você sabe que a regra básica de um investigador é nunca se envolver com...

Eduardo não esperou que ele concluísse.

Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora