Meu dia começou terrível mesmo. Descobrir que Enrico, meu pai, engravidou Caroline é de arrepiar os pelos. Apesar dele quase nunca ser presente nas nossas vidas ele continua sendo meu pai. A morte da nossa mãe abalou a todos da família, mas da forma que afetou Enrico chega ser exagerado. Mesmo não querendo ir muito com a cara dele mas ainda assim eu admirava ele. Meu pai sempre foi um homem de poucos palavras, mas estava sempre ali se a gente precisasse. Era o marido perfeito. Ele sempre foi um homem atencioso, amoroso, cuidadoso e preocupado com a família. Lembro da nossa mãe em um certo dia, explicando para nós o por que nosso pai não estava comemorando a festa dos pais e alunos do colegial. Estava trabalhando. Ele estava quase toda a noite cansado. Já presenciei por diversas vezes ele discutindo no telefone com alguém do escritório sobre uma reunião que ele não podia ir ou por algum contratempo contra sua empresa, que hoje é nossa.
Enrico nunca deixava passar nosso aniversários em branco. Sempre acabava rolando alguma festa surpresa ou algum presente. Todas as noite eu via indo até o quarto dos meus irmão e cobria eles com a coberta. Certa vez eu acordei e o vi no pé da minha cama de cabeça baixo e ombros caídos. Não falei nada. Não queria que ele visse que eu estava vendo ele. Ouvir bem baixinho o grunhir do seu choro. E lá ele ficou. Por alguns minutos até que levantou e saiu. Éramos crianças felizes apesar da sua presença fazer falta. Mas com o tempo nos quatro aprendemos a nos virar sozinhos. Foi então que nossa mãe ficou doente e acabou morrendo. Pensávamos isso iria aproximar Enrico de nós mas tudo só piorou. Ele sem explicação perdeu tudo, começou a beber e passar boa parte com prostitutas.
Não o reconhecia antes e agora parece antes também. Continuo sem reconhecer ele.
Todos nós mudamos mas não para pior. Por que então Enrico não faz o mesmo? Principalmente agora com essa criança que não teve culpa alguma de vim ao mundo. Luíza foi maravilhosa quando fez o parto da minha irmãzinha. Espera...Onde está Luíza?
Estava sendo abraços por meus irmão quando percebi que Luíza não estava mais ali. Mas em que momento ela foi embora? Nem tive tempo de explicar direito sobre Lavínia. Luíza deve tá pensando milhares de coisas e eu não tive tempo de conversar com ela sobre alguns pontos. Mesmo estando triste por saber de tudo isso, conseguir trazer um pouco de alegria para mim, já que agora eu tenho uma irmãzinha. Vou mimar tanto e ser um irmão babão.
-Essa apesar de tudo, está sendo a melhor notícia do mundo. Vamos ter uma irmã...uma linda menininha...-disse Héctor com a voz embargada.-Oh céus...uma menina...ela vai conhecer rapazes na sua idade e eles vão se interessar nela e aí...-ele andava de um lado para outro frenético.
-Calma Héctor. Ela ainda é um bebezinho. Teremos essa dor de cabeça quando estiver maior. Até lá a gente se prepara para esses marmanjos.-respondeu Mariano.
-Primeiro temos que decidir a situação dela.-Juliano disse sério, nem parecia aquele brincalhão de antes.-Enrico não pode manter Lavínia sob seus cuidados agora. Ela precisa de alguém que realmente pode cuidar dela até que ele se resolva financeiramente falando.
-Você tem razão. Lavínia vai ficar na minha casa agora com nana. Se estiverem de acordo, ela ficará comigo.-olho para meus três irmãos esperando uma confirmação.
-Por mim tudo bem. Mas se precisar que mais alguém lhe dê uma olhadinha, pode contar comigo.-Mariano prestou total apoio.
-Eu também. Conte sempre comigo.-Héctor apertou meu ombro.
-E comigo também.-por fim foi Juliano.
-Ótimo.
-Precisamos ver ela. Então vamos até a sua casa e depois voltamos aqui.-Héctor deu um passo à frente.-Vamos, levaremos vocês até em casa.-disse apontando para Xavier e Nana que logo saíram catando pneu.
-Eu encontro vocês aqui na volta. Tenho um assunto pendente para ser resolvido.-pego minhas coisas e caminho até a saída.-Tem uma coisa que vocês precisam saber antes de verem Lavínia.
