LUÍZA BECKER

8.5K 956 41
                                    




Hoje o desânimo acertou em cheio. Estava sem vontade alguma para ir trabalhar, mas precisava ir. Meus pacientes precisam de mim. Mesmo contra minha vontade levantei da cama indo direto para o banho. Tirei a roupa, que só então percebi que era mesma roupa da noite anterior, e em seguida fui para debaixo do chuveiro. Não usaria a banheira como de costume, não estava nada bem hoje.
Não demorei muito para sair e ir a procura de alguma roupa, por sorte não me preocupava muito, pois tinha uma parte do meu closet só com roupas brancas para meu trabalho. Nem todas as vezes trabalhava com roupas coloridas. Escolho uma calça jeans cintura alta flare com uma blusinha de seda sem nenhum esboço ou desenhos. Para os pés optei por um scarpin bico fino de cor nude. Adorava aqueles modelos. Depois de pegar a roupa, peguei uma lingerie simples na cor branca e me vestir sem pressa alguma. Meu relógio e um colar lindo que Olívia havia me dado de presente eram meus acessórios. Fui até a penteadeira e sentei no Puff rosa que havia lá. Vi meus olhos inchados por conta do choro. Odiava aquela sensação, odiava ainda mais a mim por saber que estava criando expectativa onde possivelmente não teria chance. Não conseguia mais entender meus sentimentos. Pensava inúmeras vezes como cheguei aquele ponto, como era possível em tão pouco tempo e com tão pouco conhecimento sobre o tal, o traiçoeiro coração insistia em algo nada saudável. Eu sabia que estava sendo afetada por Heitor Bravo. Mas não sabia se devia deixar aquele sentimento desconhecido florescer onde só havia espinhos. Por outro lado agora tem mais um utensílio indispensável, mesmo que indispensável quisesse dizer que é de uma forma ruim.
Não entendia nada. Não sabia o motivo pelo qual Fernando voltou. Não sabia quais eram suas intenções. Jamais sentirei sequer sentimento bom por ele, não tem como. Aquele homem, que pensei que fosse o amor da minha vida, hoje não passava de um completo desconhecido para mim. Claro que no começo era diferente, afinal, ele tinha mostrado primeiro seu lado encantador, companheiro e apaixonante. Jamais imaginaria que fosse viver o inferno com ele. Não sabia que ao conhecê-lo minha vida se resumiria no verdadeiro tormento onde viveria os mesmos atos todos os dias. E há quem diga que o inferno está a baixo de sete palmos de areia. Discordo! O inferno é onde estamos, está na culpa de fazer algo ruim, de crimes absurdos e pessoas sem escrúpulos. O inferno não é só o lugar, se basea mais no que fazemos, no que praticamos, na maldade que carregamos mesmo sem querer. E foi exatamente o inferno que Fernando decidiu me apresentar. Hoje me olhava no espelho e perguntava sempre que ele ocupava meus pensamentos, como não tinha pedido ajuda, ou como tinha medo que minha mãe não acreditasse em mim, já que notavasse o carinho que ela tinha por ele. Ou nem era tanto carinho assim, devia ser pelo fato de Fernando conseguir fingir muito bem que era um bom moço na frente de todos e de como me obrigava a ficar dias na casa dele para esconder os hematomas. Arrepio-me só de lembrar de todas as agressões que vive ao lado dele

Lembro como se tivesse acontecido ontem:" Estávamos nos arrumando para comemorar nosso aniversário de 2 anos. Fernando estava bem mais animado que eu, tinha um sorriso no rosto de orelha a orelha. Enquanto eu, bom, percebiasse que eu não estava nada contente. Sentada em frente a penteadeira, tentava inutilmente esconder o olho roxo e os cortes na maçã do meu rosto e nos lábios com maquiagem. Lembro da noite anterior o qual decidir ir embora e Fernando não deixou. Infelizmente ele ainda conseguir me alcançar no caminho para casa da minha mãe. Eu estava esperando um táxi a 3 quadras depois da casa dele quando ele parou seu carro bem na minha frente e sem delicadeza alguma me jogou no mesmo. Lembro de ter gritado com ele sobre minhas malas que acabaram ficando lá. Ele não disse nada. Parou no primeiro sinal enquanto eu chorava compulsivamente e socou literalmente meu rosto. Lembro do soco forte que ele transferiu no meu rosto que me fez ver tudo girando dentro do carro. Ele me socou tanto que já estava a ponto de desmaiar, mas ele me tocava cada vez mais mandado eu acordar. Quando havíamos chegado em casa, ele estacionou na garagem e me arrastou pela casa puxando meu cabelo. Ele me jogou dentro do quarto e já sem forças, no chão fiquei. Fechei meus olhos já perdendo as forças quando o vi com uma caixa de primeiros socorros. Não queria fechar os olhos e ficar naquele quarto sozinha com ele. Temia a morte ao seu lado. Mas meu corpo não me obedecia. Já estava fraca, diria que foi Deus que não permitiu que eu morresse nas mãos dele. Mas não adiantou muito. No dia seguinte ele me obrigou a levantar mesmo completamente dolorida e preparar seu café e fazer as tarefas domésticas. Disse que iria trabalhar e que trancaria tudo. Até homens na frente da casa ele havia colocado antes de sair. Chorei, chorei pedindo a Deus que me ajudasse a sair daquela situação. Mas minhas orações eram sempre sem respostas.
Ao anoitecer ele chegou, beijou meu rosto marcado como um verdadeiro Judas. Mandou que eu tomasse banho que iríamos sair. Não questionei. E aqui estamos, eu tentando esconder esses machucados e ele logo atrás de mim estava Fernando se vestindo como se nada tivesse acontecido. Eu o odiava, mas odiava ainda mais a mim por aceitar aquela situação por medo de morrer. Pensava novamente em tirar minha vida, mas ele tirava tudo que era pontuado ou que pudesse machucar na casa. Aquela noite estava decidida mesmo que custasse a morte, a sair de uma vez daquela situação.
Estava terminando de fazer a maquiagem que conseguiu esconder um pouco o estado que se encontrava meu rosto. Estava prestes a passar um batom, havia escolhido um vermelho para esconder o pequeno corte nos lábios. Quando havia terminado de passar ouvir quando ele disse perfeitamente que eu estava parecendo uma puta com aquele batom e antes mesmo de responder sentir suas mãos apertar minha nuca para que eu erguer-se a cabeça , ele me virou de frente para ele e olhando nos meus olhos xingou-me de todos os palavrões existentes. Ele usou toda a força que tinha nos braços para bater minha cabeça contra a parede, o suficiente para eu desmaiar. Depois daquilo não lembrava de mais nada e nem de ouvir sua cota de palavrões."


POR VOCÊ - Vol 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora