Capítulo III - Parte 1

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– Pense... Qual brincadeira prefere querida?

– Acho que... Pintar.

Pela mão a dirijo a sala de pintura. Copio as ações de Kathy e a peço para me desenhar, enquanto desenho-a. Não há nenhum protesto. Com essa descontração transforma-se, fica menos acanhada. Decorremos a tarde na sala de pintura, com quadros da natureza, de castelos e autorretratos. Betty despede-se com um abraço apertado e murmura "obrigada por ficar comigo", revelando sua carência. Acaricio seu cabelo e falo que o prazer foi todo meu. Entrego um pequenino chocalho para Lalani presentear Kathy, e peço que dê lembranças minhas.

No tempo de cuidar do jardim não há muito o que fazer, rego as flores e aparo uns arbustos. O tempo teria seria melhor aproveitado com Edgar. Lamentavelmente, não há momento livre para tocar o piano, por isso, me encaminho diretamente para meu quarto, onde France me aguarda para pôr vestimentas adequadas e fazer um novo penteado para o jantar.

– Vossa mercê está bem France? Está desconfortável com algo? – Questiono observando seu rosto pelo espelho da penteadeira, enquanto ela desembaraça minhas mechas. Sua boca abriu-se como se fosse dizer algo, mas indecisa, calou-se.

– Há um adolescente, mendicante. Anda pelas ruas perto de minha casa. Vossa Alteza consideraria arranjar uma vaga para ele no Avita? Os orfanatos vizinhos aquela região são horríveis, com péssima organização!

– Arranjarei! Não é preciso ter receio de fazer pedidos, amanhã mesmo enviarei uma carta ao Avita solicitando que aceitem um adolescente levado pela Sra. France.

– Estou gratificada, Celine. Vossa Alteza é uma jovem com coração muito bondoso.

Na sala de jantar, como visitantes estão um casal e um rapaz, os quais Edgar se referiu.

– Filha querida, esse é Joan e Anastasia Sorales, junto de seu filho, Fernando Solares. Grandes autoridades de outro reino, de imenso prestígio e merecedores de muito respeito!

Por Henrique os apresentar pomposamente deduzo que são importantíssimos e os mesuro com o máximo de educação.

Alimento-me apressadamente, ansiando que os convidados vão embora para que Mary e Henrique entrem em seus aposentos. Assim, os empregados podem ter seu descanso e eu posso ir ter com Edgar.

Os casais papeiam, enquanto Edgar distrai Fernando. Minha atenção não é fundamental. Com convidados prestigiosos, não tenho autorização para subir as escadas. Convidados de outro reino não são tão comuns. Curiosamente, os examino; possuem cabelos loiros, peles levemente bronzeadas, olhos azuis. Fernando e Joan vestem-se semelhantes a nossos cavalheiros, contudo, com sapatos diferentes e estranhos e cores mais chamativas, como azul e verde. Os paletós dele parecem casacos, são mais longos. Anastasia está num vestido esbelto, um amarelo forte, cor raramente usada em nosso reino, e menos justo que o comum. Não está de espartilho, o que é uma regra aqui. As despedidas, por fim, ocorrem. Eles são gentis, e sorriem a mim.

Meia hora após recolher-me em meu quarto, dou o primeiro passo fora dele. Caminho na ponta dos pés, como fazia ao ir sorrateiramente de madrugada ao meu esconderijo. Mas, dessa vez, vou ao encontro de alguém.

Ao alcançar o esconderijo de Edgar, cato a chave da porta no chão. Deve ter a deixado aqui para o caso de eu comparecer com antecedência. Destranco a porta e procuro o interruptor. A luz amarela expõe a sala pequena. Sinto temor de que ele não apareça. Olho o céu, para me entreter com outra coisa. Chove bastante e venta forte, não obstante, as estrelas ainda brilham com toda a beleza. As gotas estão para numa direção diferente e não atingem a janela aberta.

– O que se passa na sua cabeça, Celine?

Reconheço a bela voz de Edgar e sorrio, admirando mais um momento as estrelas, antes de o olhar parado na porta. Está com a roupa formal, da janta. Despiu o paletó e desabotoou alguns botões da camisa branca. Traz um ar arrojado, com um cabelo sedutoramente bagunçado.

O Céu de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora