Capitulo 18

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Abro os olhos sem entender muito bem onde estou.

Olho para os lados e estou num quarto quase que completamente no escuro. Estou deitado numa cama hospitalar. Sento na cama e sinto minha cabeça girar.

Flashes começam a vir em minha cabeça. Gritos. Sangue. Alba.

Quanto tempo será que estou aqui? Por quanto tempo me fizeram apagar?

Saio cambaleando do quarto em busca de algum rosto conhecido.

Encontro uma enfermeira que me leva em direção à sala que meus amigos estão.

- Burak, graças a Deus você despertou. Como você está? - Esma está séria. Seus olhos estão inchados e sua aparência carregada, diferente da tranquilidade que sempre aparenta ter.

- Como ela está? Quero notícias. Preciso falar com o médico.

- Calma Burak. Você dormiu por 6 horas. A cirurgia já acabou. Calma, vou chamar o médico para conversar com você.

Após alguns minutos Esma volta a sala com um homem alto de cabelos grisalhos e feições simpáticas, do tipo "avô mais legal".

- Senhor Burak, com esta se sentindo?

- Dr como estão minha mulher e meu filho? Preciso vê-los. Onde eles estão?

- Calma meu jovem. Vamos até minha sala para conversarmos.

Ele me encaminhou a seu consultório e pediu que eu me sentasse em frente à ele. Fez uma ligação ao setor de enfermagem e então se voltou para mim:

- Burak, a cirurgia de sua noiva foi muito complicada. Ela perdeu muito sangue pois estava com uma severa hemorragia. O ferimento foi profundo.

Um calafrio percorre minha espinha e sinto um incômodo gigantesco ao ouvir aquelas palavras.

- Mas ela está bem, não está? Quando vou poder vê-la?

- Calma. Ela está na unidade de terapia intensiva ainda. Não poderá recebê-lo pelas próximas 24 hs. Em algumas horas deixaremos vê-la através do vidro. Mas antes temos que conversar sobre alguns.....eh.....pontos. - ele está escolhendo as palavras para continuar - Como eu ia dizendo, ela perdeu muito sangue. Estamos mantendo ela sedada pois precisamos nos certificar de que sua pressão sanguínea e sinais vitais se estabilizem.

- Por quanto tempo ela ficará sedada, doutor?

- Tudo vai depender de como ela vai responder aos medicamentos. Nossa intenção é que ela não fique sedada por muito tempo. É importante que você saiba que a perda contínua de sangue ocasionou a não oxigenação completa do cérebro. Não sabemos como irá reagir quando ela despertar.

- Mas ela poderá ter alguma sequela como perda de memória?

- Não. É muito provável que não tenha. Talvez algum esquecimento momentâneo, mas nenhum dano cerebral permanente. Fizemos tomografia e não mostrou nenhuma lesão cerebral. Quanto a isso estamos muito tranquilos.

Apoio a cabeça nas mãos e respiro fundo. Ela vai sobreviver. Uma sensação de alívio me domina neste momento. Por um tempo cheguei a pensar que perderia minha vida para sempre. Essa ideia chegou a me enlouquecer. Não sei o que seria da minha vida sem minha pequena. Ela é tudo pra mim. Minha vida já não tem sentido algum sem ela e meu filho.

- Doutor e como está nosso bebê? Imagino que o choque tenha sido muito grande para ele. Pobrezinho, ainda nem nasceu e já está passando por tudo isso. E tudo por causa de uma louca descontrolada.

Neste momento a porta se abre e uma enfermeira entra trazendo um saquinho e me entrega.

Abro e vejo os brincos de Safira que dei a ela no Natal. Retiro de dentro também um colar com o símbolo do infinito. Me lembro de ver pela primeira vez em em seu pescoço quando estávamos em Madri: "Esse é o tamanho do meu amor por você, Burak Aksal". A sombra de um sorriso brota em meus lábios. Pego então o anel de noivado que dei a ela em Veneza. Lembro dos seus olhos negros tomado por lágrimas de surpresa e felicidade quando abri a caixinha a sua frente. Foi uma noite mágica para ambos. Penso em como ela se tornou tão essencial em minha vida. Justo eu que nunca precisei de ninguém. Ou pensava que não precisava. Sempre achei que eu me bastava. Estava errado. Hoje, depois do desespero e do pânico que vivi, tenho mais certeza que nunca que não sou tão imbatível quanto imaginava.

O fato de hoje me fez ver o quanto sou dependente. O quanto sou fraco. Ela é meu ponto fraco. Eu não a protegi como deveria. Me descuidei e nunca vou me perdoar por isso. Ela sempre esteve a meu lado, a maior companheira que eu poderia ter em minha vida e eu falhei com ela. Eu sou um bosta mesmo. Envolvi minha pequena nessa loucura que é minha vida e não tomei as precauções que deveria. Volto a chorar copiosamente.

A enfermeira me entrega um copo de água que eu pego mas não bebo. Apenas fico olhando para o copo e me lembrando da aparência tão frágil de Alba nos meus braços a caminho do hospital. Tão machucada. Choro ainda mais em pensar na dor que eu trouxe pra vida dela.

- Senhor Burak, isso não é tudo. - o doutor limpa a garganta e continua.

Levanto a cabeça e vejo em seu rosto dificuldade em continuar a falar. Ele tem uma ruga entre as Sombrancelhas.

- Como o senhor sabe, o bebê depende absolutamente em tudo da mãe. Alba foi atingida no abdômen e a hemorragia fez com que o fluxo sanguíneo fosse interrompido para o feto. - ele faz uma pausa e eu me levanto da cadeira já em pânico. - eu sinto muito, mas infelizmente seu bebê não resistiu.

Minha cabeça instantaneamente começa a girar. Será que eu ouvi direito? Fico olhando pra ele em estado de choque. Não consigo respirar. Isso não pode estar acontecendo. Isso é um maldito pesadelo. Não posso acreditar.

- NÃÃÃÃOOOOO - grito chorando e esmurrando a parede. - a enfermeira imediatamente se aproxima e novamente sinto uma agulha me espetando o braço. Novamente minha visão começa a ficar turva. Uma sensação de calma toma conta de todo o meu corpo quase que instantaneamente. As lágrimas continuam jorrando dos meus olhos. Meu rosto está completamente lavado. Eles me ajudam a sentar e fico parado estático, sem conseguir pronunciar qualquer palavra. Olho para um ponto no infinito. Meu olhar continua vazio, vago.... As palavras do médico continuam ecoando em minha cabeça. Sinto uma dor profunda em minha alma. É uma dor física. Acabou e não posso fazer nada para mudar isso.

Como a vida pode se transformar em questão de segundos? Tudo com ela estava tão perfeito e agora não sei o que vai ser de nossas vidas

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Como a vida pode se transformar em questão de segundos? Tudo com ela estava tão perfeito e agora não sei o que vai ser de nossas vidas.

Apoio os cotovelos nos joelhos e fico durante horas de cabeça baixa pensando em como vou conseguir ajudar Alba daqui pra frente já que estou tão quebrado.

UM ATOR EM MINHA VIDAWhere stories live. Discover now