148, 149, 150

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Mensagem #148.

28 de Maio, 15:01.

Tem vezes que eu acho que fui feita pra entender e não pra ser entendida. Ninguém me entende, ninguém. Eles dizem algo e fazem outra coisa completamente diferente. Eu tô tão cansada de falar palavras que ninguém entende que eu só as guardo lá em dentro de mim. As pessoas dizem que eu posso contar com elas. Mas eu tentei. Eu tentei falar com elas. Mas eu me sinto que a minha vulnerabilidade só cresce se eu faço isso. Como se eu tivesse um calcanhar de Aquiles, um ponto fraco no meio de uma força alusiva, o qual irá provavelmente me levar a uma derrota. Como se as pessoas pudessem usar a minha fraqueza contra mim. Eu odeio me sentir assim. Eu costumava a ser bem mais forte.

Mensagem #149.

29 de Maio, 8:57.

É um sábado. E eu sou forçada a acordar às nove horas porque meu pai ficou entusiasmado demais limpando a casa e começou a cantar Love Me Tender do Elvis Presley. Eu consigo escutar a gritaria que ele chama de cantoria daqui. Nossa, que jeito maravilhoso de começar o meu fim de semana.

Mensagem #150.

30 de Maio, 18:34.

Eu acabei de achar o caderninho que o Cameron me deu alguns dias atrás. Ele ainda tava na minha mochila. Algo sobre ele me fez arrepiar. Então eu soltei um suspiro e o abri. Era um livro de música. Nele tinha também algumas fotos da natureza e alguns desenhos. Desenhos de todo o tipo de coisa. E devo dizer que eles eram incríveis. Eu fui passando as páginas até chegar na última página, onde tinha um desenho que chamou a minha atenção. Era uma menina de olhos azuis e loira. Me levou um tempo pra perceber que aquela garota era eu. Os meus olhos viajaram pra o carro do caderno, onde tinha uma data.

24 de Abril.

Foi um dos primeiros dias que eu vi o garoto da biblioteca. Então por isso que ele ficava me olhando. Ele tava me desenhando. Eu ainda não acredito. Porque alguém ia querer me desenhar? Tinha um texto escrito debaixo do desenho que se lia:

Eu não sei nada sobre ela. Ainda. Eu só achei fascinante o quão concentrada ela tava no livro. Como os olhos dela se arregalavam por alguns instantes e depois voltavam ao normal cada vez que ela lia uma parte diferente do livro. Como ela parava por um instante, mordia o lábio, olhava pro chão e depois voltava a ler. Eu não conheço ela. Ainda. Mas eu vou conhecer. Juro que vou.

Eu ainda tô tentando descobrir o que isso significa.

Coisas Que Nunca Ousaria Te DizerWhere stories live. Discover now