O resto do dia passou voando e no final dele acenei um adeus a Lyra e entrei no carro com minha mãe.
— Como foi a escola? — Ela pergunta com um sorriso, sim, ela ainda me fazia essa pergunta.
— Normal — Digo olhando para os prédios do outro lado da janela.
— Depende do que você classifica como normal — Disse com um meio sorriso dançando no rosto.
— Conheci uma menina, o nome dela é Lyra, tenho que fazer um trabalho escolar e ofereci nossa casa pra fazer, sei que você detesta quando eu saio sem vocês — Olhei para ela, esperando uma reação.
— Você fez uma amiga?! — Tirou os olhos da estrada e sorriu para mim — Como ela é?! Ela é legal?! — Parece que isso tinha sido a única coisa que ela ouviu.
— Ela não é minha amiga... Ela é minha colega, e sim, ela é uma boa pessoa, mas não sei direito, conheci ela hoje — Volto meu rosto para o vidro do carro.
— Querida, no Alaska você era completamente solitária, não deixava nenhuma criança local fazer amizade com você... Estou preocupada, você tem que ter amigos! — Diz, sua voz parecia suplicante.
— E depois abandoná-los sem dizer adeus?! — Nessa hora virei meu rosto para ela, sei que podia sentir o fogo na minha voz.
— Helena... Hayley era... — Ela começou.
— Não, mãe, você não pode falar sobre ela, não quando você foi a causa disso — Lutei para que as lágrimas não descessem — Eu me despedi de muitas pessoas, mas nenhuma delas convivi por 2 anos! Ela era minha pessoa e vocês tiraram ela de mim! Ela provavelmente deve me odiar, eu não a culparia se isso acontecesse! Olhe para mim, mãe! Não tenho uma vida normal e você e papai querem me convencer de que isso não é verdade! — Gritei.
Nunca tinha falado assim com ela, tenho medo das consequências, mamãe é bem assustadora quando quer, mas eu nunca falei sobre o que aconteceu na Califórnia depois que fomos pro Alaska.
Ela ficou calada, com as mãos firmes no volante até chegarmos em casa.
Assim que estacionou, eu sai rapidamente e adentrei a casa sendo recebida pelo meu pai.
— Oi, querida! Onde está sua mãe?! — Um sorriso se estendia no rosto, mas eu simplesmente passei por ele e subi pro meu quarto.
Bati à porta e me joguei na cama, finalmente, deixando as lágrimas caírem.
A última vez que chorei foi na noite em que deixei Hayley para trás, depois dessa noite, prometi nunca mais me apegar a ninguém, porque eu sei que as pessoas partem e eu sou uma dessas pessoas, mas isso não significa que não me machuque.
As vezes falo de Hayley como se ela tivesse morta, a dúvida da grande surpresa que ela preparava para mim ainda continua assombrando meus pensamentos, no final, Hayley vai ser o fantasma que sempre vai me assombrar, vai me olhar com seus olhos castanhos e me perguntar por que eu me afastei daquele jeito.
Ouvi batidas na porta e tratei de me recompor.
Enxuguei as lágrimas e me envolvi com a coberta.
— Entre — Minha voz está rouca, pareceu décadas desde que subi.
Meu pai saiu detrás da porta, segurando uma colher de pau envolta de uma samba canção branca.
— Vi em missão de paz — Diz balançando a cueca de um lado para o outro, eu ri com o rosto manchado de lágrimas — Bem melhor assim, não é princesa?! — foi mais uma afirmação do que uma pergunta.
Eu acenei e ele adentrou um pouco mais o quarto, colocou sua "bandeira" de paz na cômoda e se sentou ao meu lado na cama, os dois de costas contra a cabeceira.
Ficamos em um silêncio confortável por alguns minutos, até ele abrir a boca.
— Miranda me contou o que aconteceu — Ele afirmou.
— Ela está com raiva de mim?! — Perguntei, brincando com a baia da blusa.
— Sua mãe nunca ficaria com raiva de você — Depois virou seu rosto para mim, pegando meu queixo para encarar seus olhos tempestuosos.
— Eu sinto muito, papai — As lágrimas começaram a rolar sobre minhas bochechas mais uma vez.
— Está tudo bem, querida — Ele me puxou para um abraço curto e depois me fez encara-lo novamente — Eu só quero que você compreenda, Lena... tudo o que fazemos é unicamente para sua proteção, nós nunca vamos deixar ninguém machucar você, posso dar minha vida antes que isso aconteça — Ele falou tão sério que um medo irracional percorreu minha espinha.
— Não quero perder você — Afirmei, tentando descobrir se a afirmação dele era uma promessa.
— Helena, você sempre vai me ter, eu criei você, você é parte de quem eu sou, foi eu e sua mãe que criamos seus princípios, fomos nós que te criamos na boa pessoa que é hoje e é por isso que vamos ser sempre sua mãe e seu pai — A voz dele é seria, me fazendo acreditar em cada palavra, eles são minha mãe e meu pai, nada vai mudar isso.
— Eu sei — Meus olhos nunca deixaram os seus.
— É difícil nos despedir de pessoas que amamos, Helena... mas temos que colocar nossas prioridades a frente, Hayley era uma boa amiga e tenho certeza de que ela está tendo uma vida ótima, mas você é nossa prioridade, iremos onde achamos que é o melhor para nossa família — Eu sei que ele está certo, ele sempre costuma estar.
A porta se abriu de repente, mostrando minha mãe com a mão na maçaneta.
— Tudo bem por aqui?! — Ela pergunta, seus olhos nos examinando.
— Sim, como você vê, o quarto ainda não explodiu — Papai brinca, dando um leve empurrãozinho no meu ombro, eu reviro os olhos.
— Que bom que estão bem! — Fala se aproximando e sentando do outro lado da cama, do meu lado.
— Me desculpe, mãe — A desculpa escorregou pelos meus lábios tão suavemente que mamãe teve que se esforçar para ouvir.
— Está tudo bem, eu compreendo — Diz e olha nos meus olhos — Mas que essa seja a última vez, eu sou sua mãe, e não quero ouvir você falando assim comigo outra vez — A severidade maternal casou bem com o olhar nos olhos dela.
Eu assenti, com medo de que qualquer palavra que eu dissesse não fosse boa o suficiente para ela.
— Ótimo — Ela me olha com satisfação — Mas tem mais um coisa — Eu sabia que eu não ia sair fácil disso.
— O quê?! — Meu olhos se tornaram grandes.
— Você vai dar uma chance a essa garota... Lyra — Fala e sinto papai olhar com confusão para ela.
— Quem é Lyra?! — Ele pergunta para minha mãe.
— É a coleguinha que a Helena fez — Todo o olhar de severidade foi substituído por excitação e ela de repente ficou de joelhos sobre a cama e se virou para o meu pai com um grande sorriso.
— Sério?! Você fez uma amiguinha, querida!? — Desencostou as costa da cabeceira e se aproximou da mãe, ambos compartilham o mesmo sorriso, só que dessa vez virados para mim.
Tem como ser mais constrangedor?! Eu gemi, me deitei na cama e fingi me sufocar com o travesseiro.
Papai tirou o travesseiro do meu rosto, deitando ao meu lado.
— Como ela é?! Ela não tem um namorado, não é?! — As sobrancelhas dele enrugaram e eu não aguentei, comecei a chorar de rir.
— Eu só conheci ela a um dia! — Digo limpando as lágrimas felizes do rosto.
Mamãe não querendo ficar de fora, deitou na minha cama(que felizmente é de casal) e apoiou a cabeça com o cotovelo no colchão.
— E o que tem a garota ter um namorado, Henry?! — Mãe pergunta, sabendo exatamente a resposta do meu pai.
— Vai ver esse garoto tem um irmão! Ou pior! Esse irmão parece aqueles modelos adolescentes que só pensam em sexo! — Papai gesticulou as mãos, também com o cotovelo apoiado na cama.
— Pai... — Reclamei, não tem coisa pior do que seu pai falando de sexo com você — Vocês dois são constrangedores.
— Podemos ser mais constrangedores, não é mesmo querido? — Minha mãe tem um sorriso sujo no rosto.
— Claro que sim, querida! — Papai retribuiu com um sorriso malicioso.
Okay, agora sim, a pior coisa é ter seus pais fazendo insinuações sexuais enquanto você está literalmente entre eles.
— Tá bom, pessoal, vão para um quarto! — Eu me levantei da cama, interrompendo o que quer que fosse aquilo.
Eles riram e se levantaram, caminhando até a porta.
— Te esperamos pro jantar — falaram enquanto papai se adiantou para pegar sua "bandeira" da cômoda e sair do quarto, meu quarto ficou silencioso mais uma vez.
Pensei no que me falaram, tirando toda a parte constrangedora... Eu deveria dar uma chance a Lyra, e mesmo que eu não quisesse admitir, ela causa um efeito em mim, não sei o que é, mas é quase reconfortante, protetor...
O som do meu telefone me tirou dos meus pensamentos, e corri até a cômoda, eu não tenho nenhum amigo ou parente, quem poderia ser?!
Sem olhar o identificador, atendi o celular.
— Alô! Quem é?! — Mas a linha ficou muda, apenas se ouviu o som de uma respiração, mostrando que tinha alguém ouvindo — Alô?! Quem é?! — Tentei mais um vez, mas desta vez, a ligação foi cancelada.
Fiquei por um momento com o telefone no ouvido, tentando entender o que acabara de acontecer.
Deslisei o celular do ouvido e olhei o identificador de chamadas.
A chamada tinha o código do Estado da Califórnia.
Mas quem na Califórnia iria está ligando pra... Ah, não... Deixei o celular cair no chão, como se ele tivesse queimado minha mão.
— Hayley?! — Perguntei para o quarto vazio.

Oi, amores!
Gostaram do capítulo?! Cometem pra eu ver se vocês estão realmente gostando dessa nova versão! Isso é muito importante pra mim! ❤️
Obrigada ☺️😘

Helena - A Filha Do Mar E Da Sabedoria (Reescrevendo)Where stories live. Discover now