Capítulo 15

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When a man loves a woman
Can't keep his mind on nothin'else
He'd trade the world
For a good thing he's found

When A Man Loves a Woman – Michael Bolton

Matheus

Com o cair da noite, as estrelas ocuparam o céu sem nuvens.

Desde meu acidente que não chove na cidade de Denver e estou com medo de que seja possível farejar o cheiro de chuva esta noite. Raios e trovões não me estavam sendo interpretados como um bom sinal e algo assim era tudo que eu não precisava, não no dia em que criei coragem de visitar minha avó em sua clínica – casa de repouso, como queiram chamar – pela primeira vez.

O centro da cidade não fica tão longe, então a viagem de carro foi bem curta. Assisti o muro largo de cor pastel passar enquanto procurava por alguma vaga para estacionar. Me perguntei o porquê de um muro tão alto, mais de cinco metros de altura com certeza.

É improvável que existam idosos capazes de pulá-lo.

Na verdade é improvável que qualquer pessoa consiga passar por cima deles. Até mesmo detentos com suas roupas cor de cenoura sofreriam se tivessem que fugir de um lugar cercado por esse muro.

Apertei a campainha e disse que queria visitar a Molly, avisando que sou neto e que meus pais a colocaram aqui a pedido de um médico.

Aparentemente, segurança é uma das coisas que eles mais prezam aqui. E olha que eu ainda nem consegui entrar.

Meu coração deveria estar batendo assim tão forte? Levando o barulho dos batimentos para meus ouvidos, como se um coração batesse neles e me fizesse ficar surdo?

Enfim, o portão verde ressoou ao ser destravado e fiz meu caminho para dentro do lugar trilhado por pedras corais em meio à grama brilhante. Luminárias de chão iluminavam os meus passos e levaram-me, silenciosamente, para a área de atendimento. Pude ver árvores, flores, bancos de madeira e até balanços por todo o lugar. É tranquilo, pouco perturbador e até seguro. Um lugar ao ar livre onde os velhinhos podiam ter contato com a luz do sol e o vento fresco no verão.

Aproximei-me da recepção e pedi para falar com a minha avó.

— Eles acabaram de jantar — uma mulher de aparentemente trinta anos avisou, sorrindo gentil e apontando para um corredor iluminado e decorado com papel de parede antigo. — Pode seguir por ali e entrar no salão de jogos. Sua avó deve estar lá.

— Obrigado.

Afastei-me e fiz o caminho que ela mostrou. Não precisei abrir portas e nem nada do gênero, porque uma grande sala se abriu a minha frente e um carpete xadrez se fez aparente abaixo dos meus pés.

Uma música tranquila tocava, cinquenta idosos ou até mais estavam reunidos juntos de algumas meninas bem mais novas que eles, vestindo jalecos. Não sabia se todas eram médicas ou se possuíam, dentre elas, uma parte de voluntários, mas, sem se importarem com essa diversidade, estavam todos sorrindo e conversando. Desde a menina mais nova, abrindo uma caixa mole de peças de dominó, até o senhor mais velho sentado numa cadeira de rodas, arrumando o aparelho auditivo e ignorando algum pedido singelo de uma moça ao seu lado.

— Molly Thomas — disse para uma delas, que observava tudo e todos encostada numa parede.

— Bem ali — ela apontou para o lado de um casal que dançava ao som da música dos anos sessenta. — Fazendo tricô.

Ela estava de costas, não via o malabarismo que eu estava fazendo entre as pessoas para me aproximar. Molly continuava fazendo o tal tricô. Coisa que ela nunca fez antes unicamente por não saber.

Consequências de Uma Noite - Série Consequências Irreparáveis 1.5Onde as histórias ganham vida. Descobre agora