4 - Safiras familiares

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— Senhorita. — Corrigi-a.

Rimos como duas idiotas. Juliana tirou de sua bolsa a calça jeans que estava usando na noite anterior, e uma camiseta de manga comprida branca. Calçou suas sapatilhas de oncinha e penteou os cabelos castanhos com minha escova, deixando a franja impecavelmente caída sobre a testa. Fomos até a cozinha, meu pai segurava uma xícara escura, provavelmente estava cheia até a borda com um delicioso chocolate-quente.

— Bom dia, pai...

— Bom dia, Sr. Pedro!

— Bom dia, meninas. — Respondeu-nos ele.

Ele usava um pijama listrado de azul e preto, a barba estava rala e havia olheiras implantadas sob seus olhos claros, sua aparência lembrou-me muito aqueles caras de filmes antigos. Peguei pães de leite num dos armários da cozinha e duas xícaras em outro, e preparei chocolate-quente para mim e Juliana também, depois, sentamo-nos nas cadeiras uma ao lado da outra e começamos a tomar nosso café da manhã tranquilamente.

— Ele nem desconfia do nosso esquema. — Brincou Juliana.

— Fique quieta!

Saímos de casa assim que acabamos nossa refeição. Eu estava confusa por causa do sonho, então não parecia muito animada por estar matando aula, ao contrário de Juliana, que parecia estar indo à alguma festa.

— Su, a gente podia fazer compras... O que acha?

— Hum... não, eu só trouxe dinheiro para comermos alguma coisa.

— Nós poderíamos passar em minha casa, eu entro pela janela do meu quarto...

— Não, Ju, vamos à padaria, compramos algo, e depois vamos ao parque.

— Só isso? Vamos ficar durante horas no parque fazendo o quê?

— A gente vê depois, okay?

— Okay... — Ela resmungou.

Juliana e eu andamos por pouco mais de dez minutos até chegar à padaria Andolini, cujos donos eram dois irmãos italianos muito conhecidos na cidade. Fomos até o balcão e uma jovem loura nos atendeu, ela parecia nervosa, como nunca a havia visto lá, deduzi que seu nervosismo se desse por conta de ser seu primeiro dia de trabalho.

— Bom dia! — Ela me saudou, sorrindo.

Com a intenção de lhe transmitir mais confiança, sorri também.

— Bom dia. Eu quero... seis dessas rosquinhas de coco — pedi, apontando para um monte de rosquinhas no vidro — e dois lanches frios, por favor.

A moça começou a preparar meu pedido, olhei para uma prateleira com bebidas não geladas, e peguei duas garrafas pequenas de suco de uva. Alguns minutos depois, a atendente me entregou dois sacos de papel.

— Obrigada! — Ela me disse.

— Eu que agradeço... bom trabalho.

Enquanto caminhava em direção ao caixa, eu tentava pegar meu dinheiro no bolso apertado do jeans, e quando consegui, olhei para baixo para contar, o que foi um grande erro, pois no mesmo instante dei um encontrão com alguém, que derramou seu café em mim. Estiquei o dinheiro para Juliana e olhei meu suéter, estava com a frente toda molhada, além do líquido quente ter feito minha pele arder um pouco. E o pior é que a culpa era minha, de certa forma.

— Droga! — Exclamei. — Desculpa, eu não estava prestando... — olhei para cima e vi a pessoa que derramara café em mim — atenção...

Olhos azuis esverdeados.

Abra os olhos, Anjo (livro 2)Where stories live. Discover now