— Eu me preocupei tanto com você, Kiko. Te defendi quando achei que você precisava... E pra quê? — e o silêncio foi quebrado pela pergunta que me matava por dentro. — Pra você ter mentido pra mim do jeito que mentiu? Me feito de boba...? Foram seis meses me fazendo de boba... Por que você não pensou em mim?!
— Eu só fiz isso, linda. Todos os dias da minha vida... eu só pensei em você... — eu até tentava, mas sabia que não tinha justificativa aceitável.
— Mentira, Cristiano! Você fez isso, porque não confiou em mim. Como se eu fosse uma mentirosa. Mas, no fim, o mentiroso aqui é você.
Eu baixei a cabeça, recolhi os braços que a envolviam. Não conseguia mais olhá-la.
Ela suspirava pautado, enxugando o nariz com o dorso da mão. O jeitinho de menina ainda ali. O olhar ingênuo magoado, perdido, como se não entendesse direito o que acontecia.
Me sinto a pior coisa do mundo ao me dar conta que pus o amor puro, desprovido de maldades e segundas intenções que ela sentia por mim, à prova.
Essa foi a pior cagada.
Eu arranquei à força a ingenuidade dela. Essa confiança cega e incondicional que ela tinha no nosso amor, eu consegui destruir tudo. A deixei completamente exposta, com a ferida da inocência aberta.
O sentimento de traição dela é compreensível. E fica ainda mais claro quando chego perto e ela se acua, parecendo sentir medo de mim.
O que fiz é imperdoável. Mas eu a amo mais que tudo. Mais que a minha vida. E não sei abrir mão disso. Dela.
Cada um do seu jeito, somos dois perdidos nessa realidade.
***
A caminho de casa, chorei de novo. De ódio, remorso, frustração... De saudade.
Meus recursos pra reconquistar a minha linda tavam se esgotando. Ao mesmo tempo que, cada hora que eu passava sem ela se tornava ainda mais insuportável. Uma abstinência talvez pior que a de um viciado na droga mais pesada.
Sem conseguir ver solução, resolvi ligar pro Bola pra chorar na orelha dele. Ainda não tinha contado pro meu brother o que rolou, mas, diante da situação, não tinha mais a que apelar.
***
— Porra, cara... Que merda da grossa. — merda, Bola? Põe merda nisso...
— Faço o quê?
— Não sei. Preciso pensar.
E ficou quieto.
— Tentou falar com ela quantas vezes?
— Três... Fora as ligações.
— E?
— Hostil... Gritou comigo. Me chamou de mentiroso.
— Sabia que ia dá merda, ponto-e-vírgula. Te cantei esse bola...
— Já era, cara. Preciso pensar daqui pra frente.
— Tá certo... Mas, na boa, dá uns dias pra ela... Melhor coisa. Pelo jeito da Mila, ela precisa de um tempo pra botar a cabeça no lugar. Deixa passar um pouco a raiva. Ela tá magoada contigo.
— Eu sei.
— Você traiu a confiança dela.
— Precisa me jogar isso na cara?! Liguei pra pedir ajuda e não pra tomar sermão. — não queria me indispor com aquele gordo escroto, que sei que ele faria o impossível pra me ajudar. Mas tava foda manter o controle.
— Foi mal aí... Mas cê sabe que o anjinho é diferente. Difícil achar mulher como ela no mundo.
— "Muito obrigado" por me lembrar.
— Tô falando sério, ponto-e-vírgula. Ao mesmo tempo que é pra pedir em casamento, a Mila é pior perfil de mulher pra dobrar numa situação como essa.
— Não tá ajudando...
— Mas é verdade, cara. Ela faz parte do meio por cento da população que tá cagando e andando pra quem você é, pra sua grana, seu cartão de crédito. O que importa pra mulher como ela é a relação, a confiança, ficar junto... Por isso funcionou tão bem a sua versão pé-rapado. E é por isso que eu tô te falando pra deixar a poeira baixar um pouco. Depois você retoma as investidas e tenta conversar.
— Como isso, cara?!!! Eu sou louco por ela... Como é que eu...
— Ponto-e-vírgula, vai por mim... Se ficar marcando em cima, vai continuar tomando pé na bunda.
— Eu não vou desistir!
— Mas tu tá parecendo aqueles "jumento empacado" que estudavam com a gente no colégio! Eu falei alguma coisa de desistir?!
Dessa vez, tive que calar a boca.
— Caralho... Tô tentando ajudar, mas cê parece que não escuta.
— Foi mal... É que tá muito foda...
— Tô ligado.
— Por mim, já tinha sequestrado a Mila e trancado dentro de casa.
O Bola até riu.
— Deixava lá o tempo que fosse, até ela me querer de volta.
— Mas que "ideia genial", ponto-e-vírgula. Aproveita e liga pro seu Miguel pra pedir um resgate. Cê tá precisando de grana mesmo, pra trocar aquela ximbica que fede a merda.
— Caralho, Juliano!!! Vai dar meia-hora de bunda, cara!!! Cê vai ajudar ou só atrapalhar??!!! — acho que nem lembrava o nome de registro desse meu brother... Mas o cara tava me tirando do sério.
— Se quiser, aceita minha sugestão, Cristiano. Senão, sinceramente, não tenho como te tirar dessa. — e botou uma pedra no assunto.
Na real, eu tinha esperança que o Bola me surgisse com uma solução mágica... Que puxasse alguma coisa da cartola e resolvesse meu problema amanhã, como da primeira vez, com o plano que ele inventou pra eu conquistar a Camila.
Mas, infelizmente, isso não existia. E era essa ausência de alternativas que me destruía.
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(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...
RomanceEm meio a um ginásio lotado e duas torcidas adversárias em guerra, surge uma visão inebriante atrás do gol. Algo inexplicável, que mexe com todos os sentidos... Impossível de definir ou... descrever. Sem pensar duas vezes, Cristiano abandona os co...
CAPÍTULO 36 - Verdades na cara
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