CAPÍTULO 36 - Verdades na cara

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— Eu me preocupei tanto com você, Kiko. Te defendi quando achei que você precisava... E pra quê? — e o silêncio foi quebrado pela pergunta que me matava por dentro. — Pra você ter mentido pra mim do jeito que mentiu? Me feito de boba...? Foram seis meses me fazendo de boba... Por que você não pensou em mim?!

— Eu só fiz isso, linda. Todos os dias da minha vida... eu só pensei em você... — eu até tentava, mas sabia que não tinha justificativa aceitável.

— Mentira, Cristiano! Você fez isso, porque não confiou em mim. Como se eu fosse uma mentirosa. Mas, no fim, o mentiroso aqui é você. 

Eu baixei a cabeça, recolhi os braços que a envolviam. Não conseguia mais olhá-la.

Ela suspirava pautado, enxugando o nariz com o dorso da mão. O jeitinho de menina ainda ali. O olhar ingênuo magoado, perdido, como se não entendesse direito o que acontecia.

Me sinto a pior coisa do mundo ao me dar conta que pus o amor puro, desprovido de maldades e segundas intenções que ela sentia por mim, à prova.

Essa foi a pior cagada.

Eu arranquei à força a ingenuidade dela. Essa confiança cega e incondicional que ela tinha no nosso amor, eu consegui destruir tudo. A deixei completamente exposta, com a ferida da inocência aberta.

O sentimento de traição dela é compreensível. E fica ainda mais claro quando chego perto e ela se acua, parecendo sentir medo de mim.

O que fiz é imperdoável. Mas eu a amo mais que tudo. Mais que a minha vida. E não sei abrir mão disso. Dela.

Cada um do seu jeito, somos dois perdidos nessa realidade. 

***

A caminho de casa, chorei de novo. De ódio, remorso, frustração... De saudade.

Meus recursos pra reconquistar a minha linda tavam se esgotando. Ao mesmo tempo que, cada hora que eu passava sem ela se tornava ainda mais insuportável. Uma abstinência talvez pior que a de um viciado na droga mais pesada.

Sem conseguir ver solução, resolvi ligar pro Bola pra chorar na orelha dele. Ainda não tinha contado pro meu brother o que rolou, mas, diante da situação, não tinha mais a que apelar.

***

— Porra, cara... Que merda da grossa. — merda, Bola? Põe merda nisso...

— Faço o quê?

— Não sei. Preciso pensar.

E ficou quieto.

— Tentou falar com ela quantas vezes?

— Três... Fora as ligações.

— E?

— Hostil... Gritou comigo. Me chamou de mentiroso.

— Sabia que ia dá merda, ponto-e-vírgula. Te cantei esse bola...

— Já era, cara. Preciso pensar daqui pra frente.

certo... Mas, na boa, dá uns dias pra ela... Melhor coisa. Pelo jeito da Mila, ela precisa de um tempo pra botar a cabeça no lugar. Deixa passar um pouco a raiva. Ela magoada contigo.

— Eu sei.

— Você traiu a confiança dela.

— Precisa me jogar isso na cara?! Liguei pra pedir ajuda e não pra tomar sermão. — não queria me indispor com aquele gordo escroto, que sei que ele faria o impossível pra me ajudar. Mas tava foda manter o controle.

— Foi mal aí... Mas sabe que o anjinho é diferente. Difícil achar mulher como ela no mundo.

— "Muito obrigado" por me lembrar.

falando sério, ponto-e-vírgula. Ao mesmo tempo que é pra pedir em casamento, a Mila é pior perfil de mulher pra dobrar numa situação como essa.

— Não ajudando...

— Mas é verdade, cara. Ela faz parte do meio por cento da população que cagando e andando pra quem você é, pra sua grana, seu cartão de crédito. O que importa pra mulher como ela é a relação, a confiança, ficar junto... Por isso funcionou tão bem a sua versão pé-rapado. E é por isso que eu te falando pra deixar a poeira baixar um pouco. Depois você retoma as investidas e tenta conversar.

— Como isso, cara?!!! Eu sou louco por ela... Como é que eu...

— Ponto-e-vírgula, vai por mim... Se ficar marcando em cima, vai continuar tomando pé na bunda.

— Eu não vou desistir!

— Mas tu parecendo aqueles "jumento empacado" que estudavam com a gente no colégio! Eu falei alguma coisa de desistir?!

Dessa vez, tive que calar a boca.

— Caralho... tentando ajudar, mas parece que não escuta.

— Foi mal... É que muito foda...

ligado.

— Por mim, já tinha sequestrado a Mila e trancado dentro de casa.

O Bola até riu.

— Deixava lá o tempo que fosse, até ela me querer de volta.

— Mas que "ideia genial", ponto-e-vírgula. Aproveita e liga pro seu Miguel pra pedir um resgate. precisando de grana mesmo, pra trocar aquela ximbica que fede a merda.

— Caralho, Juliano!!! Vai dar meia-hora de bunda, cara!!! vai ajudar ou só atrapalhar??!!! — acho que nem lembrava o nome de registro desse meu brother... Mas o cara tava me tirando do sério.

— Se quiser, aceita minha sugestão, Cristiano. Senão, sinceramente, não tenho como te tirar dessa. — e botou uma pedra no assunto.

Na real, eu tinha esperança que o Bola me surgisse com uma solução mágica... Que puxasse alguma coisa da cartola e resolvesse meu problema amanhã, como da primeira vez, com o plano que ele inventou pra eu conquistar a Camila.

Mas, infelizmente, isso não existia. E era essa ausência de alternativas que me destruía.

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde as histórias ganham vida. Descobre agora