Capítulo Vinte e Três

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   Um silêncio capcioso foi o que nos englobou quando finalmente saímos do torpor que tínhamos entrado após a saída sorrateira de Murilo. Com a ajuda de Júlio, por fim, consegui levantar daquela bendita cadeira e sair daquele maldito galpão. A noite escura e leve nos acompanhou até o carro de Júlio, que estava um pouco longe do galpão. Eu tentei não prestar atenção nas coisas a nossa volta, pois a cena de conflito era aparente demais para eu pensar em como ela havia exatamente ocorrido. Não havia a sombra de ninguém vivo, além de nós, nos informando que Murilo cumpria com a sua palavra de deixar-nos ir sem complicações.

   A viagem de carro até o apartamento tinha sido com nós dois completamente presos em nossos próprios mundos.

   As coisas que eu acabei de viver com as coisas, quase inacreditáveis, que acabei de saber eram demais para serem absorvidas de uma só vez. Tudo se passava na minha cabeça em uma confusão insana: sequestro, quase morte de Júlio, um pai internacionalmente procurado, proposta...

   Com isso rodando na minha cabeça e parecendo rodar na de Júlio, frases não pareciam caber no carro entre nós.

   Quando finalmente chegamos no prédio e entramos dentro do apartamento o silencio só se tornou mais aparente para nós que, nas últimas duas semanas, sempre fazíamos algum tipo de barulho quando estávamos aqui juntos. 

   Dessa vez eu fui até a janela da sala e Júlio se afundou no sofá. Chegando na janela a abri e deixei que a leve brisa da noite adentrasse um pouco o apartamento e talvez, levasse o silêncio capcioso para longe. Mirando meus olhos no céu comecei a focar nas pequenas estrelas dispersas, que enfeitavam a escuridão azulada. Focando nelas tentei deixar meus pensamentos fluírem para um lugar não tão conturbado....

—Você deveria aceitar... —ouvi a voz calma de Júlio alguns minutos depois.

—O que? —perguntei sem entender quando virei para ele que, se encontrava ainda sentado meio curvado no sofá com os cotovelos nos joelhos e olhos presos nas mãos a sua frente.

—Você deveria aceitar a proposta...

Acho, que eu não ouvi direito o que você acabou de dizer. — eu praticamente sussurrei ainda tentado fazer sentido no que ele dissera.

—Você ouviu perfeitamente, Lívia. Você deveria aceitar a proposta que seu pai fez!

—Ele não é meu pai! —rebati sem me importar de ter quase gritado.

—Ele é seu pai! Você querendo ou não, Lívia! —rebateu Júlio, mesmo ainda estando na mesma posição de minutos atrás. —Você deve aceitar a proposta dele!

   Minha testa franzida e descrença absoluta enfeitavam meu rosto em choque. Sua sentença só fez eu ficar sem palavras, pois eu mal podia acreditar que Júlio, estava tentando me convencer a aceitar a proposta insana de Murilo!

—Você só pode estar brincando! —eu balanço a cabeça em descrença e continuou olhando para ele que, olhava firmemente para suas mãos juntas e sua respiração branda era a única coisa que o fazia se mexer.

—Eu não estou brincando. Eu estou dizendo para você aceitar a ajuda do seu pai!

—Você está pensando em aceitar? —pergunto descrente.

—Não, eu não vou aceitar. —ele levanta e olha para mim pela primeira desde que essa conversa insana começou. —Mas estou dizendo para você aceitar e deixar a birra de lado.

—Birra?! Você acha que eu estou fazendo birra?! —me revolto ao ouvir sua afirmação e imediatamente sinto um sentimento quase angustiante entrar em mim. — Você teve apoio da sua mãe e uma família de verdade ao seu lado praticamente toda a sua vida! Eu nunca tive! Isso aqui não é uma birra! É um sentimento que você parece não ter sentindo, pois eu não consigo acreditar que você está dizendo isso!

Perdendo-se pelo CaminhoWhere stories live. Discover now