CAP. 2 - NOTÍCIA FATÍDICA

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(música: Castle - Halsey)

EMILY

A noite não demorou muito para chegar. Os relâmpagos, que passavam por espaços abertos, iluminavam os corredores do castelo. A chuva do inverno, aguardada pelos moradores do reino, está por vir, talvez não fosse a mais forte, mas algo em sua forma de se alastrar me faz crer que traria alguma grande notícia.

A cadeira em que estou sentada se encontra de frente para a penteadeira e consigo ver o meu reflexo. Os anos que vivi até aqui estão tão explícitos em mim, ou pelo menos para a minha mente que conhece as minhas qualidades e defeitos, os acertos e os erros. O castanho mediano do meu cabelo se estende até um pouco abaixo dos meus ombros, ondulados, muito semelhante ao da minha mãe. Minha pele negra clara, como a do meu pai, se une ao tom escuro de azul dos meus olhos. Muitos dizem que sou a junção perfeita do Rei e da Rainha, nada poderia negar que sou filha deles. Talvez eles não pensassem assim se vissem o que se passa dentro da minha cabeça.

O melhor é deixar de refletir e ir logo para o que me aguarda. Nunca consigo adiar esses jantares, afinal.

~~~

Os corredores do castelo são grandes e longos, mas não me detenho a pensar tanto nesses detalhes, pois minha mente se afunda em pensamentos profundos de si mesma. Há anos existia uma leve sensação de medo ao pensar na possibilidade de me perder por esses corredores, mas a infância passa rápido.

Demoro um pouco até chegar em um dos salões usados para as refeições reais. Atualmente o lugar não esbanja grande riqueza em detalhes, o que passou a ser estranho para uma espécie que há séculos usou a riqueza como repartição de milhares de indivíduos. Há uma mesa longa e pesada, feita pelo melhor carpinteiro de três gerações atrás, na qual foi usada uma rara madeira. Existem boatos de que um dos antepassados da família Whytte matou um poderoso vampiro com uma madeira semelhante a essa. As decorações ao redor são em um estilo quase medieval e rústico, minha família insiste em manter esse tipo de aparência.

— Está atrasada — ouço a voz de meu pai. Encaro-o enquanto puxo a cadeira para me sentar à mesa.

Ele está com sua roupa formal de sempre e traz no rosto uma expressão carregada de um sentimento raivoso que desconheço. Os olhos escuros como a noite estão fixos em mim, por um momento me sinto olhando para as trevas, e os cabelos estão organizados em um corte que torna o seu rosto mais duro.

— Fala o rei mais pontual do mundo — uso um tom brincalhão, esperando ao menos não deixar um clima tão pesado. — Olá, pai.

— Sente-se — sua irritação é quase palpável.

Quando desvio de seus olhos, vejo minha mãe. Ela vem atrás do rei e a chegada separada dos dois deixa claro que o grau da briga que tiveram não foi tão simples, levando em consideração que mesmo com desavenças, eles sempre tentaram deixar as tradições acima das relações pessoais. Seu vestido claro lhe traz uma aparência quase serena. Nossos olhos são semelhantes, mas os dela sempre carregaram um brilho diferente. Os cabelos presos em um coque quase não parecem com os meus, mas a cor é idêntica.

— Boa noite, filha — ela me cumprimenta de uma forma carinhosa.

— Noite, afinal — respondo sem graça, dando um leve sorriso.

— Onde está o "boa"?ela sorri de uma forma calma. Sua energia está nitidamente conturbada, gostaria de perguntar o que a atormenta, meu coração chega a pesar.

— Não temos tempo para isso, Julieta — meu pai parece que está em uma briga.

— Henrique... — minha mãe começa, mas para de falar, parece exausta disso tudo.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora