CAP. 25 - A PEDRA DE LUANA

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(música: Poison Tree - Grouper)

EMILY

A presença de Isabelle não poderia ser menos inesperada para mim. Ainda não me é claro como ela conseguiu exatamente acessar esse lugar. De qualquer forma, sua proximidade não é agressiva, o seu olhar não está vazio ou distante, chega a ter uma certa insistência em se mostrar presente. Aceitei pegar sua mão e ela me puxou um pouco, sua pele estava coberta por uma luva e não senti a temperatura de seu toque, mas agora olhando para os seus olhos mais de perto, retorno a questionamentos dentro de mim mesma. No meio de tudo, não consigo acreditar por completo da veracidade desse momento. Se aquilo com Melanie foi um teste, o que mais as fadas poderiam fazer?

— A Fterotós tornou a busca por você uma prioridade, Emily. Não se trata mais da RDIC, os departamentos se uniram para te caçar. Você e Luana — a vampira fala, mas me mantenho calada, tentando pensar nas minhas próximas palavras. — A Cassandra quer te levar para o DEE.

— E você vai trair minha confiança outra vez, afinal. Não somos parceiras nisso no fim das contas — digo e algo lhe atravessa. Na luz azul da tocha, vejo sombras de uma sutil tristeza em seu rosto. Devo estar ficando louca ou ter batido a cabeça quando caí.

— As coisas não são bem como você pensa...

— Suas ações não ajudam para que as pessoas confiem em você

— Não procuro a confiança de todos — ela volta a olhar para frente e caminhamos, a luz percorrendo o lugar e nos seguindo. Ainda acho que é um teste das fadas. Ela fica um tempo em silêncio. — Desisti de te caçar. Essa situação vai muito além de nós duas.

— Você foi para me matar naquela noite.

— Eu queria te livrar de algo pior, Emily — sua voz é livre de camuflagens, ela parece apenas estar aqui. — Não conseguiria te ver sofrendo, você... Não merece o que eles iriam fazer.

Com suas palavras, recordo outra vez da fala de Luana. Melanie representaria o último contato direto com o passado, sua morte poderia causar reações descontroladas em Isabelle...

— Percebi que não conseguiria realmente te machucar quando enfrentei seres híbridos de celestiais e lobos para te deixar fugir, só agora sei disso — assume.

Isso me lembra do dia do restaurante, quando consegui sair daquela cozinha e Isabelle ficou para trás. Recordo agora com mais precisão da reação da vampira sempre que falava sobre aquele dia, havia um descontrole, um medo. Híbridos de celestiais com lobos?

— A verdade é que não sei descrever com exatidão o que sinto por você ou o que você me faz sentir quando está perto — ao dizer isso, Isabelle se aproxima considerável e rapidamente do meu corpo.

— Por que resolveu dizer isso agora? — olho em seus olhos. Ela só se afasta e desvia o olhar.

Se Melanie estiver morta, seria esse o início do descontrole de Isabelle ou ela simplesmente está sentindo algo? "Não caia nisso, Emily", as vozes das crianças me faz retornar a mim. "Ela ainda é a Isabelle", mas a afirmação das crianças se esvazia um pouco quando me percebo tentando adentrar novamente o universo que ela carrega em seu olhar. Talvez esse descontrole não venha de algo totalmente externo, ela pode não estar mais se entendendo, ou algo está... controlando sua mente. Se Melanie é controlada pelas fadas, a Fterotós pode ter feito algo com Isabelle no passado. E se tiverem provocado algum trauma?

— Porque você se tornou especial para mim — sua fala corta totalmente a minha linha de raciocínio.

Perco a fala e a vampira demora alguns segundos parada, como se esperasse uma reação. Em seguida, se repreende e balança levemente a cabeça, tornando a andar com a tocha a iluminar a continuação do túnel. Especial.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora