CAP. 13 - RETORNANDO À MISSÃO

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EMILY

As horas passaram arrastadas, a única maneira que encontrei de me guiar foi pelo sol, que atravessou todo o céu até baixar e retornar ao tempo escuro. O tempo está passando tão rápido, devo confessar que as minhas energias e minha parte humana estão sentindo o impacto de tudo isso. O cansaço, a falta de alimento, as emoções, tudo gerou um combo que me fez vomitar ao entardecer.

Precisei sair do quarto correndo para não vomitar no mesmo cômodo de Isabelle, que continuou desacordada sem o menor sinal de retorno. Durante todas essas horas, não ouvi a aproximação de William e o carro escuro parece ter partido para não retornar. Explorei a casa e a encanação, até encontrar uma única torneira com água limpa, que usei para molhar o rosto e limpar a parte mais visível dos ferimentos de Isabelle.

Aos poucos, principalmente durante a noite, notei que os ferimentos foram se curando, até deixar de sair o sangue escuro. Nunca havia parado para pensar exatamente sobre o sistema sanguíneo de um vampiro, nem sabia que conseguiam ter tanto sangue no corpo, o seu coração não bate como o meu, mas de alguma forma os cortes de Isabelle sangraram bastante. A cama em que a coloquei ficou marcada com manchas escuras.

Quando vi os primeiros raios de sol aparecerem no horizonte pela janela do quarto, que abri após ficarmos sozinhas na casa, encostei-me na parede e me sentei no chão. Outro amanhecer, mais um dia. Uma leve onda de ansiedade tentou me fazer perder o controle, mas permaneci sentada, notando apenas a minha respiração. E fiquei até agora.

Os meus olhos começam a pesar e o cansaço de toda a movimentação bate em meu corpo, os tecidos velhos que usei para tirar o excesso de sangue dos cortes de Isabelle estão pelo chão. Encosto a minha cabeça na parede e observo a cor alaranjada do céu começar a aumentar aos poucos. Tudo parece ficar ainda mais lento...

Adormeço.

~~~

A luz do sol entra pela janela aberta e me acorda ao bater em meus olhos, desperto sem saber que horas são e não vejo Isabelle na cama. Levo a mão para proteger os olhos e levanto, sentindo o corpo dolorido, não há sinal da vampira pelo quarto e nem rastros para indicar para onde poderia ter ido. As manchas na cama ficaram ainda mais escuras, mas o meu estado ainda sonolento diminui o meu raciocínio. Os meus olhos ardem e me afasto da janela, indo na direção do corredor para sair da casa.

Antes de sair da residência, resolvo olhar nos cômodos, nada em nenhum dos quartos. Desço e vou até um banheiro antigo, nada. Na sala ainda destruída pelos acontecimentos de ontem, nada. A cozinha...

Isabelle está sentada à mesa, de costas para a direção em que venho, vejo-a apenas de calça e um sutiã preto. A blusa que usava está levemente úmida e próxima a uma janela com entrada de sol, não há mais manchas de sangue no tecido, o casaco pesado está em um depósito que considero ser o lixo. As botas estão molhadas por fora e encostadas próximas ao banco alto em que a vampira está. Ela está fazendo um trabalho de tirar cada mancha de sangue seco do seu corpo. Há algumas cicatrizes em sua pele, inclusive a da mordida de William, apenas um traço, como uma linha prateada em sua pele branca.

Por um instante, reparo no corpo de Isabelle próximo ao sol, mas não em contato com ele. Ela já me ouviu, sabemos que sim, mas permanece sem me olhar, está mais focada em se livrar de cada rastro dos últimos conflitos. Observo o movimento tranquilo de suas mãos enquanto passa um pedaço do tecido de seu casaco sobre o seu braço direito. Há um recipiente com água na mesa e ela molha o pano depois que limpa a pele. Permito que os meus olhos descansem um pouco enquanto acompanho os seus movimentos, até que resolvo me aproximar.

— Bom dia — tento dar um sorriso leve. Não faço a menor ideia do que me aguarda a partir de agora.

O seu rosto não está mais sujo de sangue, reparo em sua pele vampírica e em como ela não parece mais tão frágil como no dia anterior. Ela termina o seu trabalho em silêncio e pega a blusa ainda um pouco úmida. Dessa vez, desvio o meu olhar por notar que já estou me perdendo demais. De algum modo, após todos os últimos estresses, estar em um lugar silencioso e com sol é o suficiente para que eu consiga me sentir tranquila.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora