CAP. 15 - IDENTIDADE PRÓPRIA

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EMILY

— Seu tempo está acabando Emily Whytte. Mate-a, simplesmente... Mate-a, agora que ela se mostrou tão próxima. Você sabe como fazer isso, ainda temos tempo — a voz fala e consigo imaginar um sorriso em seu rosto.

— SAI DA MINHA CABEÇA! — o medo rasga o meu peito.

— Eles vão te achar e vão te acorrentar ao casamento com o príncipe. E nem a Isabelle vai conseguir matar todos os Reis. É isso que quer?

— PARA COM ISSO! — grito outra vez.

— Veja o tempo passando — a voz parece se divertir. — Acha mesmo que vai poder beijá-la? Pareceu bom, não pareceu? Mas acorde.

— Ela tem sentimentos, eu sei que sim. Humanidade... — repenso minhas palavras e sinto um nó na garganta. — Talvez eu faça o meu pai reconsiderar...

— Não seja tola, criança — a voz ri. — Ela também quer e vai te matar. Agora... Acorde!

Acordo arfando e buscando ar, meus pulmões queimam e sinto a minha temperatura elevada. Caio da cama quando tento me levantar e os meus sentidos me atormentam. Com esforço, vou rapidamente ao banheiro e fecho a porta com ferocidade atrás de mim, minhas mãos trêmulas se apoiam na parede branca e vejo minhas unhas sujas de sangue marcarem a tinta.

No espelho, o meu reflexo mostra um amarelo vivo em meus olhos, começo a tossir. Apoio-me na pia e sinto os meus braços queimarem, estou sem o casaco, apenas com uma regata branca. Arranhões se estendem pelos meus braços... Minhas unhas. O sangue ainda está saindo, foram recentes.

— Emily? O que acontece? — a voz de Isabelle parece distante, há um barulho constante em meus ouvidos.

A água da torneira está morna e começo a lavar os arranhões, que se curam lentamente. Não são profundos, mas estão em grande quantidade. Os meus instintos estão mais próximos, não sei até quando irei controlá-los. Em menos de um ano farei vinte e um anos e isso já é tempo o suficiente para uma transformação licantrope completa.

— Tem sangue seu em cima da cama! — a voz da vampira está alterada, ouço os seus passos se aproximando e tranco a porta do banheiro. — Abre logo, Emily.

Outra vez no espelho, vejo que os meus olhos ainda estão amarelados, mesmo que os arranhões já estejam desaparecendo. Lavo as minhas unhas e tiro o sangue dos meus dedos. Isabelle bate com força quatro vezes.

— Vai sair ou quer que eu chame a família Whytte para te ajudar, princesa?

Suas palavras tiram o meu chão, sinto um frio percorrer a minha espinha e não consigo concentrar os meus pensamentos para reter a pré-transformação. Ela sabe... A voz do pesadelo retorna em minha mente. "Ela também quer e vai te matar", fica em um tipo de eco em meus ouvidos. Sinto minha respiração e o meu coração sai do compasso.

— Será que o Henrique consegue te tirar desse banheiro? Ou a Rainha Julieta? — ouvi-la falando em meus pais é como entrar em outro pesadelo.

A hora chegou? É agora que irei lutar com Isabelle Monther? Engulo em seco e sua voz falando no nome da minha mãe me causa um frio desconfortável. Tento relembrar de sua proximidade na noite anterior, mas nada parece o suficiente... Ela bate na porta com força outra vez. Abro-a e vejo o seu rosto encarando os meus olhos ainda amarelos. É instintivo, o castanho de seu olhar se torna vermelho em pouco tempo.

— Então era verdade — ela dá alguns passos para trás para que eu saia do banheiro. Não consigo identificar o que se passa em seus olhos. — Como não percebi? — sussurra para si. — Vai tentar me explicar, Emily... Whytte, que porra você pensa que está fazendo? — levanta o tom.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora