CAP. 42 - TREINAMENTO

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(música: Bad - Royal Deluxe)

ISABELLE

Após cinco meses nessa estranha ilha, desenvolvi uma área de treinamento, que fui aprimorando aos poucos. "Estranha ilha", estranha, mas não o suficiente para não se tornar comum. No começo, os pesadelos eram constantes e sufocantes, cuidar de Emily me mantinha acordada, distante do que via depois que tudo ficava escuro. Os apagões eram constantes e perdi o número de vezes que Emily deve ter me carregado para o sofá ou para a cama.

Os pesadelos cansaram minha cabeça, ao ponto de, quando foram embora, deixarem um alívio constante. Alívio o suficiente para que eu passasse a ver tudo com olhos mais amenos. E o estranho se tornou rotineiro, comum, estável... bom. Com Emily ao meu lado, diariamente, nada parecia estar fora do normal.

Com as áreas de treinamento prontas, me propus a entender minhas novas habilidades, assim como as de Emily, que estava com suas pré-transformações cada vez mais desenvolvidas. Nesse ritmo, não demoraria a se transformar completamente. Mas ela não quis. Passou os próximos dois meses sem querer ao menos pensar em suas transformações licantropes, o que me fez lhe treinar apenas em combates humanos.

Enquanto ela embarcava em sua arriscada aventura de não incendiar a casa enquanto aprendia como flambar alguns alimentos na cozinha, mergulhei nos livros da casa. Livros sobre história, sociedades e culturas. Idiomas. O meu ritmo de leitura aumentou rapidamente e os papéis com minhas próprias anotações se acumularam. Em meio aos meus estudos, investi em formas de desenvolver as habilidades de Emily lentamente, sem que percebesse por completo. Um dia ela me agradeceria.

Em um amanhecer, enquanto observo uma nova área de treinamento, Emily se aproxima. Está com um sorriso no rosto que passei a conhecer, e abraça minha cintura, me beijando em seguida. Levando um pouco o seu queijo e baixo minha cabeça para lhe beijar, suas mãos se entrelaçam em minhas costas. Sorrio. Seus desejos são quentes, como sua pele. As batidas rápidas e fortes do seu coração me enlouquecem. Quando os seus braços me envolvem, sinto sua energia em mim, seus gemidos perto do meu ouvido me fazem arrepiar e a querer ainda mais.

O calor de Emily poderia me manter aquecida de qualquer sensação de frio, suas unhas arranhando minhas costas me mantinham ainda mais consciente. A dose de dor o suficiente apenas para aumentar minha vontade, o cheiro de sua pele me fazendo desejar beijá-la, mordê-la.

Empurro os objetos de treinamento da mesa e a sento na superfície. Suas pernas me envolvem com força e ela não entenderia o quanto isso me enlouquece. Seus olhos e os seus lábios, também me fazem explodir. Sua vida queimando em cada movimento, seus dedos segurando o meu cabelo na altura da nuca com força. Não há medo em nenhum de seus movimentos.

— Assim não vou conseguir treinar — sua voz está entrecortada, seu sorriso pendendo entre o desejo e a diversão.

O sol nasce devagar no horizonte e os raios tornam os seus olhos ainda mais claros. Ela morde levemente o seu lábio inferior, olhando para a minha boca. A sensação de estarmos perdendo nossos limites a cada dia me excita cada vez mais. Sua presença é eletrizante, energia pura.

— Você que veio assim — também sorrio. Ela ainda me segura com suas pernas e olha o meu rosto.

Nos primeiros meses, com o passar das semanas, percebi que minha euforia em buscar Emily não era sinônimo de entrega. Percebi que, na verdade, havia muito medo envolvido. A realidade me mostrando que intensidade não significava permanência. Senti medo ao vê-la dormindo e me colocando ao seu lado. Senti medo sorrir quando a via demorar para levantar da cama. E, outra vez, após tantos outros meses, a realidade me fez perceber que não se tratava de qualquer medo. Eu me sentia vulnerável.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora