CAP. 17 - LUANA

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(música: Storm The Sorrow - Epica)

EMILY

Luana se sentou próxima ao vidro, o sol lhe iluminava enquanto observava as nuvens do céu. O tempo pareceu parar por um momento, mas tudo voltou a ficar pesado quando as algemas de metal reluziram em azul.

— Nada me garante que posso confiar em você — sua voz é consciente.

Sua colocação é o suficiente para me deixar outra vez em uma posição de decisão. Acabei de me aproximar de Isabelle e de deixar muita coisa de lado, mas não posso me anular, isolando qualquer possibilidade de entender o que me rodeia. Se eu me permitisse ter essa postura ao seu lado, seria apenas como ter trocado uma prisão por outra.

— Você não parece estar em uma posição de ter muito a perder — observo sua reação e concluo que eu seria péssima em manipular pessoas.

A mulher encara o céu outra vez, os seus ombros caem um pouco, talvez por desesperança. De certo modo, ela parece já ter aceitado um fatídico destino.

— Conheço a Isabelle desde criança — os seus olhos ainda estão perdidos através do vidro. — Ela e meu pai tinham um certo tipo de contato e eu confiei nela. Era pequena demais para reconhecer o perigo que ela poderia demonstrar — para um pouco e retorna. — Até já cheguei a admirá-la, de verdade. As coisas mudaram quando reconheci a minha raça — ela me olha e vejo uma coloração azul intensa em seus olhos, não mais verdes — Ela teve medo e ela muda muito quando está com medo.

— E como ela está agora?

— Assustada — seus olhos voltam ao mesmo tom anterior de verde. — Com medo. E de algum modo ela parece achar que eu sei a razão disso.

— Você não parece preocupada.

— Estava certa... Não tenho o que perder — desabafa. — Ela tirou tudo o que eu tinha com aquela explosão. E sim, estou com muita raiva, mas chega um ponto que você entende que é suicídio enfrentar ela sem um plano.

— O que você é, exatamente? — me aproximo um pouco, estamos ambas sentadas no chão.

— Uma celestial — a espécie não me é totalmente nova. — Estou vivendo na forma humana, como mortal. Somos divididos em três níveis, precisamos acessar o primeiro para termos acesso maior às habilidades. Alcancei o primeiro nível há treze anos, Isabelle estava perto, ela conheceu minhas habilidades. Agora é a sua vez. O que você é?

Há anos ouvi falar nos celestiais, seres que vivem no Reino dos Céus, possuidores de grande ligação com os humanos e dominadores de grandes disfarces. Até onde sei, o primeiro nível das evoluções dessa espécie é chamado apenas de "celeste", uma forma inicial. Nunca tive a oportunidade de estar cara a cara com um deles antes.

— Licantrope — digo, vejo surpresa em seu rosto, que logo mostra um ligeiro sorriso. Luana talvez já tenha mesmo desistido, seu corpo não demonstra tanta energia para reações. — Vim do outro lado do oceano.

— Linhagem Pura? — endireita sua postura.

— Prefiro não chamar dessa forma.

— Reino do Oeste após a revolução? — sugere minha origem, sua segurança me deixa surpresa, ela sabe sobre os reinos e as revoluções.

A menção feita é sobre uma revolução que houve dos licantropes "impuros" contra o rei "puro", no Oeste. Foi um grande levante, uma das causas era a busca por equidade entre as duas linhagens. Desde então, todos que se colocam a pensar os licantropes como uma única espécie, não mais repartida, é relacionado àqueles ideais.

— Leste. Whytte — respondo, sentindo uma empolgação peculiar. Como a sensação de se falar sobre um assunto no qual se possui domínio, após tanto tempo sem ideias nítidas sobre a realidade.

— Whytte... — seus olhos me observam. — É uma honra, alteza — sorri. — Sempre soube que vocês tinham segredos — agora ri para si mesma, não vejo agressão em sua expressão, nem sarcasmo ou ironia, como se respeitasse os títulos. — Agora me diga, que raio acertou a Isabelle para te aceitar? Interesses pessoais?

— O que sugere? — a pergunta sai mais rápido do que o meu controle.

— Informações e acesso — ergo um pouco as sobrancelhas e ela continua. — Você é uma porta de acesso ao homem que mais mandou matá-la. Este é o meu palpite — Luana volta a olhar para o céu. — E você viu o quão rápido ela destrói as coisas.

Reflito sobre sua resposta e voltamos a ficar em silêncio. De fato, ainda sou um meio de acesso ao Reino do Leste. Minha mente vai avaliando as hipóteses e sinto o meu coração apertar ao lembrar de minha mãe. E se eu a tiver colocado na mira de Isabelle sem perceber?

Seria uma resposta perfeita, matar os meus pais depois de eu tentar adentrar sua vida para encontrar minha liberdade através de uma das missões mais importantes do rei.

Ouço o barulho da fechadura do quarto e a porta é aberta. Isabelle.

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Música(s) do capítulo:
- Storm The Sorrow - Epica

[Todas as referências estarão nos créditos no fim do livro]

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora