CAP. 43 - PERDÃO E PERDA

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EMILY

A chegada nas terras dos Quatro Reinos foi súbita e todo o ambiente se mostrou diferente. Diferente de qualquer outro momento, o portal em que aparecemos era próximo de uma avenida asfaltada, mesmo ainda estando em contato com o rio. Percebemos, na medida em que nos deslocamos, que a área florestal geral dos reinos diminuiu.

O Reino do Oeste foi o mais próximo que identificamos. Mesmo com todas as modificações, ainda consegui me localizar e me orientar. A sensação era a de estar voltando para casa. Tivemos que buscar disfarces ao longo do caminho, não conseguimos coisas muito elaboradas. Foi o suficiente. Adentramos uma pequena cidade do Oeste.

Uma passeata percorria pelas principais ruas da cidade. As casas eram simples, a mais desenvolvida não se aproximava de uma de classe média em reinos como o do Leste ou do Norte. Passamos três anos em outra realidade, isso foi tempo o suficiente para que a situação econômica e política dos reinos tenha passado por complicações maiores, principalmente após a invasão da Fterotós. Tudo se tornou imprevisível e, por isso, não tive confiança o suficiente para mostrar abertamente o meu rosto pelo caminho.

Os caminhantes da passeata se direcionavam para uma praça, que era dita como a praça central da cidade. Ver as estruturas das residências deixava nítidas as diferenças sociais entre os reinos. O número de casas é elevado, umas sobre as outras. Com um grande número de habitantes. Muitas crianças correm nas ruas e há licantropes mais velhos vendendo alimentos nas calçadas. Esse tipo de mercado não era permitido no Reino do Leste, meu pai acreditava que enfraquecia a imagem da coroa e que o seu governo era o suficiente para equilibrar o comércio.

Dos Quatro Reinos, o Reino do Oeste sempre foi o que passou por mais dificuldades econômicas e sociais. O índice de pobreza nas cidades desse reino nunca baixou. As divisões que as gerações anteriores de licantropes insistiram em manter, divide os lobos transformados em vida e os lobos que trazem a licantropia desde os seus nascimentos. Com o passar da história, guerras e grandes conflitos mudaram a concepção de mudança e o dinheiro passou a valer tanto quanto a forma de transformação dos indivíduos.

Em um mundo com tantas divisões sociais, sempre foi desafiador buscar manter uma perspectiva de igualdade. Os lobos que lutam pelo título de "lobos puros" passaram muitos anos buscando provar que suas habilidades eram superiores. De fato, não podemos negar. Entretanto, isso fez com que um preconceito estrutural se espalhasse em todos os reinos, mesmo no Sul, que se absteve das discussões políticas desde o pacto com o Leste. As habilidades dos humanos que eram transformados em vida se divergiam, mas não poderiam ser subestimadas, isso era uma consciência que faltava em lobos como os da minha família, da família Daves e de tantas outras partes da elite licantrope.

As revoluções do Oeste nunca saíram tanto de seu próprio território, mas quando olhamos para a história, eram grandes revoluções. O Norte e o Leste sempre trocaram farpas entre si, disputando para mostrar qual conseguiria esbanjar um maior poderio militar, enquanto isso, os estudos revolucionários do Oeste aumentavam e as revoluções eram elaboradas por classes sociais mais baixas. Se o Leste temia que o Norte provasse ter um número maior de soldados e armas, deveria temer o que a inteligência dos licantropes do Oeste poderia causar.

Isabelle é encostada de forma súbita e forte em uma parede e isso quebra minha linha de raciocínio sobre o reino. Não acompanho a velocidade da pessoa que faz isso, mas vejo-a parada, contendo Isabelle com seu braço em seu pescoço. A mulher é mais baixa que eu e tem cabelos longos e escuros, seus olhos são amarelos vivos e ainda utiliza óculos. Isso me lembra de alguns licantropes que permaneceram com os seus óculos de grau, mesmo sem precisar utilizar.

Não vejo Isabelle em posição de ataque, mesmo a mulher estando em um estado de pré-transformação licantrope. Elas... Se conhecem?

— Layla? — a voz de Isabelle está surpresa. A mulher abraça Isabelle fortemente.

A Última Vampira (2ª ed.) - Coleção A.U.V.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora