Consequências de Uma Noite - Série Consequências Irreparáveis 1.5

Capítulo 1

Breathe me in, breathe me out
The music's got me going
Breathe me in, breathe me out
No stop until the morning
Breathe me in, breathe me out
You know I'm ready for it
For it, for it
Yeah

— Slow Down – Selena Gomez

Segurei um pedaço de papel higiênico entre os dedos e tirei o excesso do meu batom roxo, apertando o papel em meus lábios. Carol já me ensinou várias técnicas para fazer a maquiagem durar mais e por estarmos indo a uma festa como a de Seamus Dusley não pude deixar a desejar.

Não que eu realmente fosse lunática e quisesse parecer uma das universitárias da parte norte da cidade, mas muitas vezes precisei fazer meus sapatos de galerias parecerem com os de centenas de dólares comprados nas melhores lojas da cidade.

— Deixa que eu te ajudo com isso — Carol se ofereceu.

Sentei-me em minha cama de casal levemente desgastada e observei-a puxar da caixa de papelão colorida uma embalagem preta e redonda de pó compacto. Com uma esponja fina, ela fez pequenas batidas do produto em minha boca e logo passou outra camada de batom escuro por cima. Projetei um leve bico com os lábios e ela piscou sorrindo, aprovando a nova tendência.

Caminhei até o banheiro e encarei meu reflexo. Sem Carol eu não seria capaz de aplicar uma máscara de cílios corretamente, fazer um delineado pine-up sem tremer então...

— Você seria uma excelente cirurgiã, Carol. A precisão que você tem é incrível.

Ela riu ao meu lado, arregalando seus olhos para deslizar o lápis de olho preto em sua linha d'água.

— Sabe que gente com a renda como a nossa jamais seria capaz de pagar uma faculdade como essa. Se a de publicidade eu quase não consegui, a de medicina estaria mais para uma ilusão impossível.

Confirmei com a cabeça apesar de não querer.

Para entrarmos na universidade do bairro quase infartamos com o preço pedido anualmente por eles. Com sorte, os pais de Carol entraram em um acordo e passaram a negar-se algumas futilidades para pagar o ensino da filha, já eu tive que procurar por algum emprego que me ajudasse em, pelo menos, uma parte da despesa.

Não que eu e minha mãe fossemos pobres, mas ela sustentava toda a casa com seu emprego de doméstica na casa da família do Seamus na parte nobre da cidade e mesmo que ela vivesse diariamente na casa de uma das famílias mais ricas de Denver, o salário da senhora Clairy Davis não chegava nem a ser um por cento da fortuna deles. Sem contar que meu trabalho de meio período na loja de conveniência do senhor Remy nunca exigiu tanto de mim. Ainda mais por eu ter folga todas as sextas-feiras por fechar a loja às dez uma noite ou outra.

— Ainda não consigo acreditar que vamos para a festa de aniversário do Seamus. Como foi que você conseguiu essa proeza? — ela revirou os olhos.

— Sabe que ele é gamado em você desde o colegial, não é Raíssa? — sorri. — Mandei uma mensagem para ele numa das redes sociais e disse que se ele me convidasse para a festa, eu daria um jeito de te levar junto.

— Você é uma mulher chantagista — afirmei.

— Sou uma mulher estratégica — ela reverteu, batendo seus grandes cílios negros superiores aos inferiores. — Sabe que meus pais são chatos com horários nos dias de semana, a última coisa que eu quero no final dela é ficar em casa sem fazer absolutamente nada de divertido.