34 - A desgraça

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O dia voltou a amanhecer, como se o passado realmente fosse passado e toda a dor fosse apenas ilusão; o dia retornou radiante e lindo, mas não deixava de ser um dia significativo para os cavaleiros e até mesmo para a própria Athena. A deusa da sabedoria tinha tomado sua grande decisão e a faria valer a partir de hoje.

O leite na xícara parecia muito para o que podia passar pela garganta da aluna de Camus, até então sua comida não parecia digna, pois não havia sequer tocado em um mísero pedaço.

— Você precisa estar forte para essa manhã, tente comer. — o mestre deslizou a mão por seus cabelos tentando esconder o desconforto atrás do rosto sério.

Ly sorriu timidamente. — Preocupado comigo? — a amazona questionou levando um pequeno pedaço do bolo a boca. Diferente dos bolos que estava acostumada a comer, esse era um bolo branco feito somente de ovos e farinha de trigo, não tinha o gosto que desejava encontrar como os bolos do século XXI.

— Quero você bem, sempre, independente da situação. — aquela fala era a expressão de que ele estava mais que preocupado, que sentia remorso em ter que participar daquela ação.

Mas como nem toda consciência é a mesma, Camus ainda não se sentia mais culpado que Shaka, que ao observar Ana se arrumando tinha medo que aquela fosse a última vez que pudesse estar tão perto da mulher que amava.

Os cavaleiros eram, acima de qualquer coisa, protetores de Athena. Era impossível fazê-los descumprir sua primeira missão, mas quando seus corações estivessem prontos a pesar, eles pesariam. Lutar em nome de Athena não os fazia melhor do que aqueles que lutam em nome de Hades.

As verdades, quer queira quer não, são inteiramente circunstanciais. Os deuses não tinham em mente o quão forte o amor poderia ser, duvidavam da força que o deus do submundo e sua amada esposa poderiam ter, e enquanto Athena se empenhava em destruí-lo pela raíz, Hades se edificava no coração de quem ela faria mal.

[...]

— O que estou fazendo aqui neste horário? — Ly questionou com um sorriso um tanto descontente. Não havia motivos para estar no salão de Athena tão cedo, ou ao menos ela não se lembrava de ter feito besteira.

— Eu tenho uma coisa importante para tratar com você, —Saori insistiu enquanto se aproximava. Naquele instante Ly já podia sentir seu próprio cosmo envolvê-la como uma manta de proteção. — uma coisa na qual todos esperamos saber.

Enquanto a garota de cabelos lilases falava a outra garota começou a notar que os cavaleiros adentravam o grande salão em ordem de suas respectivas casas, formando ao seu redor um círculo. O frágil coração de Ly se acelerou naquele momento, ela desejou estar com seus amigos, seus verdadeiros amigos, aqueles que jamais a abandonariam mesmo em seus momentos mais escuros.

Um calafrio percorreu seu corpo, como um aviso de perigo, sobre as mãos de Saga a menina avistou uma grande adaga dourada, que se bem lembrava, fora usada para tirar a vida de Athena na última guerra santa contra Hades, era uma adaga para sacrificar um deus.

— O que isso significa? — seu olhar buscou seu mestre, o cavaleiro da décima primeira casa, ela colocou nele sua única esperança de saber ao menos do que tudo aquilo se tratava.

— Ly, fique calma, Athena apenas acha que Hades tenham se manifestado em você e verificaremos seu a alma dele está machucando a sua.

— Eu saberia se algo assim acontecesse! — ela esbravejou. — Pode parecer que não, mas ainda sei exatamente sobre o certo e o errado, fazer isso contra minha vontade não me parece certo.

Saori deu dois passos a frente, seu cosmo divino se manifestou obrigando o corpo de Ly se ajoelhar diante de seus pés, os olhos da aluna de Camus ferveram de ódio, como se não bastasse a mentira, Athena se atrevia a ser orgulhosa e soberba.

— O que vai fazer?

— Há muito que sei o que você é, só ainda não tinha como te matar, mas agora que tenho, não hesitarei em salvar a humanidade! — as falas de Athena assustaram os cavaleiros, que confusos não tiveram uma reação imediata.

A mão de Saori deslizou pelo ar e atingiu, com a adaga, o coração da menina ajoelhada a sua frente. Naquele instante os olhos de Ly buscaram o céu lá fora, como se estivesse suplicando aos céus algum tipo de ajuda divina. Sua boca entreaberta despejou um sangue escuro que escorreu por seus lábios, o gosto da morte lhe tomou a garganta no mesmo instante que Aiolia a tomou nos braços.

— O que você fez? — o cavaleiro de leão gritou em desespero na direção de Athena.

— Havia nos prometido que não a mataria! — foi a vez do cavaleiro de Áries esbravejar.

— Eu não podia deixá-la fugir, matá-la matará de uma vez por todas a alma de Hades. — os dourados estavam paralisados, incrédulos do que ouviam. — Não podemos nos dar ao luxo de cometer o mesmo erro que cometemos com Shun.

O céu azulado se turvou, um negro macabro transpassou a atmosfera dando acesso a outra dimensão frente aos olhos de todos, o corpo sem vida de Ly moveu-se rapidamente para perto daquele vácuo negro; uma silhueta masculina se formou ali para amparar o corpo da menina, e com todo carinho do mundo, o homem que surgiu por ela soprou o nariz da menina lhe devolvendo a vida.

— Estou feliz que tenha a machucado, — o homem de longos cabelos negros era o próprio Hades, em seu corpo original, manifestando seu maldoso e devastador cosmo. — assim ela entenderá qual é o lado certo. — enquanto ele demonstrava em palavras sua felicidade, Ana, Lucas, Marcus, Guilherme e Bea adentravam o grande salão ainda com o vislumbre do corpo morto de Ly nos braços de Hades.

Os cavaleiros entraram em posição de batalha, Saori, já descrente de sua vitória, quase se paralisou quando viu a garota que acabara de matar tocar os pés ao chão, viva, e embora suja de sangue, sem esbanjar nenhuma expressão de dor.

— O que você fez com ela? — Ana gritou agarrando a amiga para si, e num abraço necessitado deixou as lágrimas despencarem.

— Athena achou que sua melhor amiga era meu novo receptáculo, — Hades explicou com a voz calma. — mas desta vez resolvi que faria meu retorno bem diferente dos anteriores.

Ly agora tinha certeza da voz que a assombrava. Hades estava em sua mente por todo aquele tempo.

— Como pôde? — foi a vez de Lucas se irritar, o coração do virginiano se despedaçou a ver a mais jovem de suas amigas totalmente envolta por sangue. Sua vontade era de matar Saori com suas próprias mãos. — Nos enganou por todo esse tempo então? Seu único interesse era apenas saber se Hades estava usando a Ly?

— Ela enganou até os próprios cavaleiros!

— Eu senti seu cosmo nela! — Saori esbravejou ao ser colocada contra parede. — Eu tinha certeza que você estava ali.

— Eu me comunicava constantemente com a Ly, uma conexão que somente eu e ela temos e que você já deve saber o porquê! — Hades segurou a cintura de Ly calmamente e com o bater do vento nos cabelos da menina Athena pôde ver o castanho oscilando para o ruivo, como se visse a imagem de irmã mais nova ressoando sobre a imagem de Ly. — Seu plano com Zeus para nos separar está começando a dar errado, minha amada sobrinha.

Athena correu para perto de sua estátua, crente que podia emitir um chamado para o deus do raio, mas ao dar de cara com a falha mentalizou que talvez Hades estivesse armando esse plano há muito tempo.

— Não vai adiantar... — seu tio sorriu contente. — Zeus também tentou tirá-la de mim e agora descansa numa ânfora com meus selos o trancando para sempre!

— Selou Zeus quando ele me atacou? — Ly questionou abismada se lembrando do evento em que quase morrera.

— Eu prometi que ninguém te colocaria em perigo e pretendo cumprir essa promessa, custe o que custar. — eles sorriram um para o outro, sua conexão era a conexão que Aiolia desejava ter, mas que jamais seria capaz.

Hades e Pérsefone se amavam acima de qualquer outra coisa e era esse amor que estava colocando em risco o reinado da deusa Athena.

Enlouquecendo seus Ídolos - O Começo (Cavaleiros Do Zodíaco) Where stories live. Discover now