21 - Sonhando com o inimigo

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A chuva se tornou mais intensa e junto com ela uma imensa vertigem invadiu a cabeça de Ly, ela respirou fundo tentando permanecer consciente, mas junto com a tontura vieram pequenos calafrios que a fizeram desistir de permanecer acordada, sua cabeça reencostou na poltrona e junto com um raio sua consciência partiu.

Tudo tornou-se apenas branco. Sua memória não se recordava de nada que fosse parecido com o lugar que via. Não havia paredes, nem teto, nem chão, o branco parecia inundar seus olhos e tirar de sua mente qualquer coisa que tivesse lógica. Ela preferiu entender que estava sonhando.

— Queria poder fazer com que todos pudessem sonhar comigo… — ela deu um passo, percebeu que naquele corpo seus cabelos eram maiores, seu corpo estava envolto por um vestido longo e branco. — ou talvez eles pudessem entender melhor que eu.

A cada passo era possível ouvir e sentir o peso de uma gota tocando o chão, seus olhos castanhos ousaram olhar para trás e chocaram-se ao notar que a cada passo que ela dava gotas de sangue despencavam e colidiam contra o branco daquele sinistro chão.

— Eu gostaria que todo mundo tivesse o mesmo medo de sangue que você, — uma voz firme lhe arrancou um arrepio, seu corpo girou procurando por alguém, mas ainda estava sozinha. Ly levou as mãos a cabeça e segurou-a enquanto se agachava desesperada. — quem sabe assim eles teriam medo de machucar as pessoas.

— Sai da minha cabeça! — ela esbravejou trêmula, aquela voz enlouquecia.

— Não tem como tirar da cabeça o que vive no coração. — seu coração humano bateu descompassado, dolorido, cheio de emoção. Seu corpo se sentou ao chão e por alguns segundos ela apenas respirou tentando encontrar uma alternativa. — Você está sendo ingênua em achar que isso tudo é  um sonho, mas estou gostando de saber que você tem sentimentos tão aparentes, eles vão servir pra me ajudar.

— Quem é você? Por que está me atormentando tanto? — Ly tirou a mão do rosto revelando um olhar avermelhado, nem ela sabia dizer se era desespero ou medo.

— Eu quero te ajudar, Michaelly. — ela travou, há anos ninguém pronunciava esse nome com tanta propriedade. — Como você se sentiria se a pessoa que mais fez mal ao mundo tirasse de você a única coisa que você ama?

Ela apertou os dedos e notou que não sentia dor.

— Eu me sentiria triste, com raiva, não sei…

— Eu também me senti assim!

— VOCÊ NÃO EXISTE! — a garota gritou desesperada. — Você é só coisa da minha cabeça, um sonho meu.

— Eu sou a solução pro mundo, Ly, nós vamos nos encontrar e quando isso acontecer eu tenho certeza que você não vai querer sair do meu lado. — a voz saiu risonha, divertida, como se tivesse uma grande intimidade. — Estou te esperando, sem pressa, continue jogando.

Houve um clarão ao final da frase. Uma luz irritante entrou por seus olhos obrigando-a a fechá-los e quando voltou a abri-los ela teve uma visão generosa dos olhos de Ana sobre seu corpo.

— Ly! — a mais velha a ajudou a se sentar. — Você está bem?

— Onde estamos? — a menina questionou enquanto esfregava os olhos.

— Em Tóquio. — a voz que explicou foi a de Aiolia. — Você desmaiou no meio da viagem, chegamos faz pelo menos quatro horas.

Talvez o sonho tivesse levado muito tempo, ou depois dele ela não tivesse conseguido acordar.

— Hm… — seus olhos reparam que aquele quarto pertencia a um hospital. — E vocês se aproveitaram para me fazer exames?

Eles deram de ombros. Existia melhor opção?

— Por incrivel que pareça sua febre acabou e o que foi mais surpreendente é que seus exames indicam um corpo muito saudável. — Shaka cruzou os braços abaixo do peitoral e, de olhos abertos, encarou Ly com um semblante sério. — Alguma coisa aconteceu?

— Eu não me lembro… — a garota mentiu, não se sentia segura para contar ao cavaleiro o que pensava, e pior, há muito desconfiava que ele e os outros estivessem escondendo alguma coisa. Desde de sua conversa com Saga na festa de Afrodite ela tem ficado atenta ao comportamento dos cavaleiros. — Podemos ir para a mansão Kido? Eu gostaria de tomar ao menos um banho e troca de roupa antes de retornar a Grécia.

Ly escondia algo, Shaka sabia disso, mas não podia obrigá-la a dizer o que sentia ou o que havia acontecido para seu corpo se recuperar tão rápido de uma febre que quase a matou. Tudo devia ser feito no tempo certo.

[ … ]

Marcus, Lucas, Guilherme e Bea estavam reunidos nas escadarias da casa de sagitário, eles tinham marcado aquele encontro para conversar entre si sobre o que estava acontecendo em suas casas.

— Afrodite tem me feito inúmeras perguntas, principalmente de como eu conheci a Ana e a Ly. — Lucas desabafou descontente.

— O Milo não me perguntou nada, ou melhor dizendo, ele não está estranho comigo. — foi a vez de Guilherme falar. — Eu não acho que eles estejam estranhos, talvez seja impressão nossa, afinal, eles não são o que achamos que eram.

— Pode até ser, Gui, mas isso não anula o fato de que alguma coisa está acontecendo nesse santuário. — Marcus contradisse convicto da certeza de Lucas. — A Ly tem uma saúde de ferro, bastou um pequeno descontrole do cosmo e ela ficou muito doente, chegando a passar horas desacordada e sofrendo com febre altíssima.

— Realmente, isso não é normal… — Bea suspirou. — Se fosse alguma doença humana o Dite teria conseguido ajudá-la, isso me intriga até agora.

— Seja o que for, eu tenho certeza que devemos ficar sempre juntos. — Lucas afirmou, ele já havia dito isso ao mestre e ia repetir para os amigos. — Eu sei que eles são praticamente nosso sonho de consumo, mas foi juntos que chegamos aqui, qualquer coisa que fique longe disso pode nos por em confusão.

— Você acha que os cavaleiros fariam algo contra nós? — Beatriz colocou a mão no coração sentindo-se um pouco traída.

— É claro que sim, principalmente se formos algum tipo de ameaça para Athena. — Marcus interviu na resposta de Lucas. — Não podemos esquecer que eles são cavaleiros dela, vão fazer de tudo para vê-la a salvo.

Eles ficaram em silêncio. Será mesmo que os cavaleiros de ouro teriam coragem de matá-los para proteger Athena? Seja qual fosse a resposta, ele já tinham noção de que algo muito errado estava acontecendo e precisavam descobrir mais sonre isso o quanto antes. Saber de tudo talvez fosse a única maneira de mantê-los a salvo, pelo menos por enquanto.

Enlouquecendo seus Ídolos - O Começo (Cavaleiros Do Zodíaco) Where stories live. Discover now