29 - A traição de Zeus

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Uma nuvem carregada despejou sobre o santuário de Athena uma chuva intensa, raios cortaram o céu desenhando em clarões uma mensagem do deus do trovão. As escadas ficaram mais escorregadias a medidas que os pés da nova aluna de Camus se firmava para descer em direção a décima primeira casa. Algo acelerava o coração da garota, como se em segundos fosse ser engolida por uma onda de tensão que acabaria com sua vida, entretanto, ao mesmo tempo que batia, seu coração a alertava da aproximação de perigo.

— Volte... — a voz em sua mente pareceu irada com algo, mas ainda assim demonstrava verdade e preocupação.

— Você não pode mandar em mim...
— Volte para perto deles, agora! — a voz se tornou mais firme contraditória a si mesma.

Ora mandava-a para longe de seus amigos e ora queria-a perto deles, sua intuição — como tratava a voz em sua cabeça — parecia cada vez mais indecisa. Em seus sonhos seus amigos e os cavaleiros de Athena eram o terror de sua mente, mandá-la de volta para eles era no mínimo uma loucura.

— Você é indeciso demais, ainda não entendo porque te dou ouvidos...

— Você me escuta porque somos um só, é impossível separar o que foi unido pelo verdadeiro amor. — a pequena fechou os punhos, pouco entendia sobre amor e gostava de não saber muito, mas aquelas palavras, de alguma forma, a deixavam mais tranquila, e estar tranquila enquanto aquele motivo era perturbador.

Seu corpo girou, as gotas geladas enfiavam-se por sua roupa e cabelos, escorriam por sua pele trilhando o caminho até o chão, quando seus olhos tiveram o perfeito vislumbre do caminho de volta para a casa de Afrodite e seu coração finalmente aceitou as ordens daquela voz, um clarão quebrou ao meio a barreira de Athena que se erguia por todo o santuário.

Todos sentiram o tremor abalando toda a estrutura daquele lugar. Um raio desceu a frente de da garota perdida em meio a chuva, empunhando uma comprida espada o deus dos deuses se revelou para Ly. Os cabelos do deus desciam pelos ombros num tom de cobre idêntico aos de sua filha mais nova, seus olhos se confrontavam com os da nova amazona de Athena no mesmo tom e na mesma proporção. Depois de tantos anos, vê-la novamente era como se arrepender da sentença que havia dado ao irmão do meio.

— Sua beleza continua intacta, embora esse corpo humano seja uma ofensa para sua divindade. — as falas do deus deixaram Ly um tanto confusa, não era sempre que era confundida com outra pessoa no meio de uma chuva dramática. — Infelizmente, não posso deixar que estrague os planos que fiz com sua irmã.

Zeus referia-se a Athena como  se ela soubesse sobre seu plano de trair os outros deuses, entretanto, até aquele momento, a deusa da sabedoria não concordara com nada que pudesse pôr a vida de seus amados humanos em risco. Matar aquela garota era a chave para despertar a ira de Hades, e somente Athena sabia o quão cruel seu tio conseguia ser enquanto irado.

— Não o tema, — a voz ditou deixando o corpo da mais nova paralisado. — nossos cosmos são um só, Zeus jamais conseguirá te machucar.

Para uma divindade, alcançar seus primeiros vinte séculos é chegar a idade adulta, Perséfone pedia a seu pai um único presente ao atingir a maior idade: uma festa. Festa essa em que todos pudessem se divertir, que todos pudessem estar unidos; entretanto, os deuses do Olimpo não gostaram muito da ideia de enviar ao submundo um convite, mas Perséfone tinha o dom da persuasão, convencê-los foi fácil.

Hades voltou ao céu pela primeira vez desde que fora banido, ninguém o avisou que era uma comemoração e quando a anfitriã lhe cobrou um presente sua única atitude foi dar-lhe o que tinha no bolso: uma estrela de prata com letras grafadas formando a frase "para sempre seu". A paixão pelo presente que ganhara cresceu até chegar a pessoa que lhe tinha presenteado, Hades e Perséfone apaixonaram-se tornando toda a briga entre Hades e Zeus uma grande ironia, o que poderia separar o amor se nem mesmo a ira dos deuses pôde matá-lo?
Zeus estava ali para acabar com a vida de Ly, ato que teve medo de fazer no passado, mas que agora estava tão certo quanto estava certo que continuaria sendo o rei dos deuses. Sua mão firmou-se na espada que segurava, ao longe já podia sentir o temor dos cavaleiros por sua aparição, um novo raio desceu do céu atingindo seu corpo e na velocidade da luz o deus atingiu seu alvo em cheio.

Uma explosão fez o chão sagrado de Athena estremecer, os cavaleiros correram escadaria abaixo buscando amparar o corpo desacordado de Ly que descia o grande penhasco no qual caíra; Aquário e leão saltaram juntos amparando a garota ao mesmo instante e com sincronia retornaram para as escadarias. Não havia sinal de ferimento.

— Acorde... — Aiolia suplicou preocupado. — Vamos...
Demorou cerca de dez segundos até a garota apertar as orbes e abri-las procurando alguma explicação para aquela aparição de Zeus.

— Como se sente? — Camus questionou preocupado, seu semblante comum havia dado lugar a um olhar de espanto. — Consegue nos dizer o que aconteceu?

Ela pensou no que devia responder, seria prudente confiar em todo mundo que parecia estar ao seu lado.

— Minta... — a voz ordenou gentil, contradizia-se novamente naquele jogo de interesses.

— Foi um raio...

[...]

— Um raio? — o questionamento de Saga fez o corpo de Saori estremecer, como todo geminiano, o cavaleiro conseguia ir de anjo a diabo em questão de segundos, há pouco eles se entendiam na tranquilidade de uma noite após um dia tenso e agora estavam todos numa reunião de urgência. — Um raio quebrou a barreira de Athena?

— Você por acaso acha que ela seria capaz de fazer algo neste nível, uma garota quem não tem ideia do cosmo que possui seria capaz de mandar a barreira de uma deusa ao chão? — o cavaleiro de Áries deu um passo á frente mostrando impaciência perante a brincadeira de esconder dos novatos a verdade. — Estamos brincando com a vida de seis humanos em vão, mantê-los no escuro não vai nos ajudar a chegar numa resposta!

— E o que devemos fazer? — Saori perguntou receosa, seu corpo tremia de medo mas seu coração batia por amor a humanidade. — Eles são crianças diante o nosso poder e eu como deusa protetora da Terra tenho a missão de protegê-los, até que tenhamos certeza do que aconteceu essa noite iremos continuar agindo normalmente.

Camus sentiu seu peito desconfortável, como se duvidasse das palavras da deusa que defendia, — e duvidava, no fundo sabia muito bem disso — o posicionamento que Athena tomava diante aquela confusão fazia-o duvidar se seu dever como cavaleiro incluía desrespeitar seu dever como homem.

— Infelizmente, mentir para eles não tem sido fácil, Athena, — foi a vez de Aiolia manifestar o que sentia. — muitos de nós nos envolvemos demais com nossa missão, isso se tornou mais pessoal do que podíamos imaginar e é justamente por isso que não queremos continuar com toda essa mentira.

— Sua sugestão pode acabar os colocando em um risco que nem mesmo nós cavaleiros somos páreos, — a observação de Saga acalmou-os naquele instante. — irritar os olimpianos nesse momento não é uma proposta inteligente, não temos estrutura para uma guerra e acima de tudo Athena precisa honrar seu acordo com Zeus, ou nem mesmo seus cavaleiros poderão protegê-la.

Não era justo arriscar o amor numa jogada incerta, mas também não podiam deixar de lado o juramento que haviam feito para retornar a vida. Mais uma vez as peças do tabuleiro estavam se movendo


Enlouquecendo seus Ídolos - O Começo (Cavaleiros Do Zodíaco) Where stories live. Discover now