Quando tudo está perfeito demais...

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─ Acredito que terei que preparar logo o seu café da manhã. ─ disse me dando um sorriso meio boca. ─ Depois podemos continuar de onde paramos.

Não pude deixar de rir também.

*

Nosso fim de semana foi perfeito. Passeamos pela cidade, fizemos algumas compras e depois voltamos para casa. Senti algumas dores, mas disfarcei para não estragar o que estávamos vivendo.

Devido aos remédios, eu acabei apagando enquanto Kadu me falava mais sobre sua relação com seus pais, Nick e Eduarda.

De volta para casa, tentei ao máximo não dormir, mas foi impossível. Dormi ouvindo Kiss me do cantor Ed Sheeran. A partir daquele momento, ela seria minha preferida. Chegamos em casa logo depois do almoço. Kadu recebeu uma ligação do seu advogado e partiria direto para se encontrar com ele.

─ Eu não queria te deixar aqui sozinha depois do que vivemos no fim e semana. Eu pretendia sentar com você e conversar.─ Kadu começou a falar ainda com o carro ligado. ─ Mas é sobre a Eduarda.

─ Kadu, eu não estou te cobrando nada. Entendo que nesse momento, sua irmã deve vir em primeiro lugar. ─ falei com sinceridade.

─ Tentarei ir à sua consulta.

─ Kadu, todo mundo estará lá, meus pais, nossos amigos. Estarei bem amparada. Entenderei se você não aparecer. Agora vai logo antes que o advogado canse de esperar. ─ falei já soltando o cinto e abrindo a porta do carro.

─ Belinda, espera. ─ Kadu segurou minha mão, me impedindo de sair.

─ O que foi?

─ Dará tudo certo.

─ É claro que vai. ─ eu sorri.

Kadu se aproximou e me beijou sem se importar se alguém presenciaria a cena.

─ Vamos conversar a noite, ok?

─ Ok. ─ respondi e saí do carro.

Abri a porta traseira e peguei minha mochila e segui para meu apartamento. Quando cheguei em casa, encontrei Jessye e Kira conversando sobre o balcão.

─ Oi meninas.

─ Até que enfim. Pensei que ficariam mais um dia. ─ disse Jessye vindo em minha direção.

─ Eu bem que queria. Paraty é perfeita. ─ falei colocando a mochila em cima do sofá e sentando ao lado.

─ Conta tudo, como foi? Kadu se comportou?

─ Calma Jessye, uma pergunta de cada vez.

─ Onde ele está que não veio com você?

─ Caraca! Meu fim de semana foi perfeito. Ponto. ─ falei já me levantando e pegando minha mochila novamente. ─ E Kadu teve um imprevisto. Me deixou aqui e saiu novamente.

─ Não liga para ela, Belinda. ─ Kira veio se juntar a nós. ─ Ela está paranoica desde que você saiu com Kadu.

─ Jessye, eu estou doente, mas acredito que posso cuidar de me mesma. ─ eu ri. ─ Estou morrendo de fome. O que tem para comer?

*

Contei como foi meu fim de semana sem dar muito detalhes. E nem toquei no assunto eu e Kadu na mesma cama. Esse assunto era algo particular que eu ainda não queria compartilhar, ainda mais sabendo o que Jessye achava dele.

Minha consulta estava marcada para às cinco e até esse horário, Kadu não apareceu ou enviou mensagem. Jessye foi comigo para o hospital e quando chegamos lá, Nanda e Nick já nos aguardavam.

Meus pais chegaram dez minutos depois, pareciam que eles não dormiam a dias. Cortava-me o coração ver a preocupação deles e também dos meus amigos.

O médico não demorou a vir falar comigo. Ele estava tratando outro paciente e me pediu desculpas pela demora. Eu até que achei bom, assim daria tempo para caso Kadu aparecesse. Mas ele não apareceu, e antes de entrar na sala, olhei rapidamente para o ambiente procurando por ele. Vi apenas meus amigos sorrindo e cruzando os dedos me desejando boa sorte.

Na sala, doutor Paulo pegou minha pasta, contendo meus exames, deu uma lida enquanto eu e meus pais nos acomodávamos nas cadeiras. Olhei para os dois e sorri antes de encarar o que o médico tinha para falar.

Ele demorou mais do que necessário e isso foi me deixando cada vez mais nervosa. Por fim, ele baixou a pasta, cruzou os dedos sobre ela e nos encarou.

─ E então? ─ meu pai foi o primeiro a perguntar.

─ Temo não ter boas notícias.

Oh! Meu Deus! ─ minha mãe começou a chorar.

Eu soube do resultado no momento em que ele colocou a pasta sobre a mesa. O olhar derrotado que ele me lançou disse tudo. Meus batimentos que estavam acelerados quando entrei na sala, pareciam ter triplicado. Eu podia sentir meu coração batendo na minha garganta.

─ O que houve de errado? Ela tomou todas as medicações.

─ Senhor...

─ Fale sem rodeios. O que deu errado? ─ meu pai começou a levantar o tom da voz.

─ Minha menina... ─ os soluços da minha mãe só aumentavam.

─ O tratamento não teve nenhum efeito sobre as células cancerígenas. Partiremos agora para a doação de medula.É outro processo, mas tenho certeza de que...

─ CHEGA!!! ─ falei me levantando da cadeira e me afastando deles. ─ Chega de me darem falsas esperanças. Aceitem que estou morrendo. Parem de me fazer acreditar que tenho cura.

As lágrimas começaram a banhar meu rosto, enquanto via os rostos assustados dos meus pais e do meu médico.

─ Belinda, a doação de medula é a nossa única chance. ─ disse meu médico.

─ O transplante de medula precisa ser de um irmão compatível, sou filha única. Não ficarei em uma fila de espera enquanto tentam encontrar um doador. Estou cheia de dor, meus cabelos começaram a cair... Chega, eu não aguento mais.

Abri a porta do consultório e corri pelo corredor. Eu queria fugir do lugar, do hospital... De todo mundo.

Meus amigos estavam na recepção conversando quando me viram correndo. Nanda foi a primeira a vir em minha direção.

─ Belinda...

─ Por favor, não.

Eu só chorava. Não havia como segurar as lágrimas. Me afastei quando Nanda tentou me tocar e passei correndo pelo outros procurando a porta de saída. A porta foi aberta e eu me choquei com Kadu que acabava de entrar.

─ Belinda...

─ Kadu. ─ o abracei com o resto de força que me restou.

─ O que aconteceu?

Eu não conseguia falar em meio aos soluços.

Kadu me afastou do seu corpo, me forçando a olhar em seus olhos.

─ Belinda, eu preciso que você respire e me conte o que aconteceu.

─ Eu... Meus exames... A doença... Ela...

─ Seja qual for o resultado, nós daremos um jeito.

─ Não tem mais jeito, Kadu... A doença me derrotou.

─ Tem que ter um jeito. Não vou perder você. Ouviu Belinda? Eu não vou te perder.

Kadu me puxou e me beijou sem se importar com o que nossos amigos iriam pensar.

─ Você não pode desistir, Belinda. ─ disse enquanto finalizava o beijo.

Antes de você - Livro 3Where stories live. Discover now