Um ombro amigo

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Belinda

Saímos da boate sem nenhum problema. Kadu estava calado e pela maneira como saiu cantando pneu do estacionamento, nem me dei ao trabalho de falar com ele. Fizemos uma viagem silenciosa até o hotel. Pensei que passaríamos apenas para fechar a conta e depois voltar para o Rio, mas ao invés disso, Kadu pediu para ficássemos um pouco mais só até ele se acalmar.

Fui para o meu quarto tomar um banho. Depois da emoção vivida, eu precisava relaxar. Tomei um banho demorado e quando saí do banheiro, fiquei apenas de roupão. Deixaria para colocar a roupa quando fosse embora. Ainda não conseguia acreditar que o pai de Kadu havia tido a ousadia de me tocar mesmo sabendo quem eu era. Ele era um tipo de pessoa que não tinha caráter. A maneira como ele falou, como se tudo o que estava fazendo fosse a coisa mais normal. Ele pouco se importou se eu ouviria ou não, simplesmente jogou a merda no ventilador.

A atitude de Kadu me surpreendeu. Nunca imaginei que ele enfrentaria seu pai, ainda mais para me defender. Confesso que fiquei aliviada quando ouvi sua voz. Quando entrei no quarto e me deparei com ele, eu tinha certeza que estava perdida. Depois que o ouvi conversando com a mulher e que permitiu a entrada de outro cliente, eu entrei em pânico. Tive vontade de sair correndo, mas eu precisava ver até onde ele iria, mesmo que para isso, eu tivesse que permanecer no quarto.

E para me deixar com mais nojo ainda do babaca, ele ameaçara o próprio filho, seu sangue, caso ele deixasse a empresa e rompesse seu noivado. O que me pegou de surpresa, já que não sabia que ele e Babi estavam noivos.

Deitei-me na cama e fiquei perdida em meus pensamentos. Dez minutos depois, ouvi uma leve batida na porta. Deveria ser o serviço de quarto, eu acabei pedindo um lanche, estava morrendo de fome. Abri a porta e me deparei com Kadu.

– Posso ficar um pouco aqui? Posso fazer uma loucura se ficar sozinho.

Pela primeira vez eu estava vendo um Kadu perdido. Seu semblante estava triste e pesado, parecia estar carregando uma montanha nas costas.

– Claro, entra. Eu pedi um lanche. Estava morrendo de fome. – falei abrindo passagem para ele passar.

Kadu andou até a metade do quarto e depois se virou para me olhar.

– Está tudo bem com você? – ele perguntou.

– Eu é que deveria estar fazendo essa pergunta. Nosso plano não saiu como combinado. Eu não esperava encontrar seu pai, e muito menos que ele me reconhecesse.

– Eu deveria ter imaginado algo assim. Eu estava tão furioso, quer dizer, ainda estou, que nem perguntei se ele havia feito algo com você antes da minha entrada.

– Confesso que fiquei morrendo de medo.

– Porque não saiu de lá?

– Eu precisava descobrir mais algo.

– Ele tocou em você. O filho da puta do meu pai tocou em você.

As veias do pescoço de Kadu ficaram exaltadas e sua foz estava saindo carregada de raiva.

– Ele só tocou meu ombro.

– Se eu não tivesse entrado no quarto, o que ele teria feito com você?

– Ele não iria muito longe. Fiz aula de karatê. Com um chute, aposto que ele ficaria de licença por uma semana sem sair da cama.

– Mesmo assim Belinda. Você foi imprudente. E eu também. Eu não deveria ter te envolvido nisso.

– Deixa disso Kadu. – falei me aproximando. – Você fez bem em trazer. Agora sabemos exatamente no que ele está metido. Você tem as provas.

Antes de você - Livro 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora