Nova Belinda

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Não aguentava mais ficar sentada na poltrona do avião. Fazia mais de uma hora que aguardávamos a permissão para sair do voo. Um senhor havia passado mal no meio da viagem e tivemos que realizar um pouso de emergência em São Paulo para que a equipe de pronto atendimento realizasse seu trabalho.

O piloto havia avisado a mais de vinte minutos, que iríamos seguir o percurso de volta e em duas horas no máximo estaríamos chegando no Rio. Era tudo o que eu queria, chegar em casa e descansar. De preferência bem longe dos meus pais.

Amo eles, juro, mas todo amor tem limite, principalmente quando eles tentam me comprar oferecendo quase a cidade de Nova Iorque inteira. Acredito que eles pensam que sou dessas garotas supérfluas que ficam loucas quando veem lojas de roupas em liquidação.

Vivo com eles há vinte anos e eles ainda não aprenderam nada ao meu respeito. Ok, eu preciso dar um desconto, já que fui sempre muito independente. Desde pequena sempre consegui me virar sozinha.

Minha mãe sempre tentou se aproximar, mas eu sempre encontrava uma maneira de fugir. Principalmente quando o assunto era sexo. Meu Deus, só de lembrar sua primeira tentativa, quase tenho uma crise de riso.

Eu tinha quatorze anos e estava saindo com um garoto, um possível namorado. Eca. Pensando agora, ainda bem que não passou de uns beijinhos e mãos bobas no meu corpo. Raul era lindo, corpo escultural, um pouco anormal para sua idade, mas quem se importava na época?

Ele era carne fresca na escola e eu queria ser a primeira e gritar que eu ficara com ele. É, eu sei, eu era bem idiota nessa época. Ainda bem que mudei bastante.

Mas, enfim, eu queria sair com ele e tive a brilhante ideia de falar com minha mãe. Foi horrível, pois minha mãe só sabia falar da gravidade que um namoro ainda tão jovem pudesse causar, falou sobre gravidez, camisinha... Ela misturou tanto as coisas que acabei desistindo de falar com ela.

No final das contas, saí com ele algumas vezes e no início foi legal até ele ter a cara de pau de pedir o telefone da minha amiga. Fiquei tão furiosa que quase quebrei seu nariz. Esse foi o primeiro de muitos traumas que eu ainda teria.

— Senhores passageiros, aqui é seu capitão avisando que vamos seguir viagem em cinco minutos. Por favor, desliguem seus aparelhos celulares e quaisquer outros objetos eletrônicos.

— Graças à Deus. Pensei que teria que montar acampamento aqui.

— Eu te disse filha, não iríamos demorar mais do que meia hora.

— Claro que disse mãe. — Falei revirando os olhos.

Eu estava sentada entre meus pais, e eu odiava isso. Me tirava um pouco a minha privacidade. Meu pai estava dormindo há quase três horas, só faltava babar. Minha mãe estava falando com uma mulher logo atrás da gente, enquanto eu enviava uma mensagem para Jessye.

Das minhas amigas, ela foi à única que se propôs a ir me buscar no aeroporto. Ivy e Nanda estavam muito ocupadas com seus namorados para me dar um pouco de atenção.

Ok, eu sei que estou soando como uma vaca invejosa, o que é verdade. Há um pouco mais de seis meses, eu tinha minhas amigas coladas comigo o tempo todo, até Ivy se mudar para Manaus com Pedro, Nanda ir morar com Nick e Jessye... Bem, a Jessye ainda estava pensando no que fazer, e por enquanto era a única com quem eu podia contar.

"Meu voo sairá em cinco minutos, então você ainda tem tempo para dormir um pouco. Bjs"

Mandei a mensagem e desliguei o telefone. Para evitar ficar ouvindo o blá, blá, blá da minha mãe, coloquei os fones de ouvido e fiquei observando o desenho idiota do Bob Esponja.

Antes de você - Livro 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora