O resultado dos exames

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Kadu

Quase um mês já havia se passado desde que Belinda descobriu ter leucemia. Na noite em que ela me procurou, ela estava perdida, foi a primeira vez em que vi Belinda perder o seu chão. Parecia uma criança assustada quando bateu na minha porta.

Ficamos vendo TV até ela pegar no sono e adormecer sobre meu ombro. Parecia um anjo caído do céu, um rosto de porcelana e as suas sardas só a deixava ainda mais bela e serena. Não quis acordá-la e ver seus olhos tristes mais uma vez. Peguei-a em meus braços e a levei para o meu quarto.

Ela se mexeu, mas não acordou. Acredito que depois de um dia exaustivo que teve, o cansaço acabou derrotando-a. Tirei suas sandálias, a cobri com o meu edredom e apaguei a luz antes de sair do quarto.

Peguei meu computador e voltei para a sala. Meu sono fora embora de vez, então fiquei a madrugada fazendo pesquisas sobre a doença de Belinda.

No dia seguinte ao acordar no meu quarto, ela ficou assustada e um pouco sem graça por dormir na minha cama. Foi melhor que dormir na cama do meu irmão. Egoistamente, eu não gostei da possibilidade dela dormir com o cheiro dele, mesmo sabendo que nada nunca mais aconteceria entre eles.

Não conversamos muito sobre a noite passada. Belinda ainda estava tentando digerir as informações. Não consegui convencê-la a falar com suas amigas. Pelo menos para seus pais ela me disse que contaria.

Ainda na mesma semana, Belinda começou a usar os medicamentos para enfraquecimentos das células cancerígenas. Consegui depois de muita insistência lhe acompanhar em algumas consultas. O seu médico sempre falava frases positivas e eu fiquei confiante que tudo acabaria bem e que Belinda logo estaria curada.

Na segunda semana, os medicamentos tiveram que ser alterados. Belinda havia adquirido uma alergia e isso começou a deixá-la mais fraca e enjoada. Ela se manteve forte e não sei como conseguiu esconder os remédios de Jessye e Kira e ainda dar conta do jornal.

Na terceira semana, ficamos um pouco distantes, a briga com meu pai me obrigou a me ausentar um pouco. Eu mal tinha tempo para estudar. Ainda estava procurando meios de ter os direitos sobre os cuidados da Eduarda sem que meu pai soubesse e tentasse me impedir.

Por muitas vezes pensei agir irresponsavelmente, contar a verdade para minha mãe e Nick, mas ao contar isso, só abalaria os dois ainda mais. Estava difícil carregar mais um peso sozinho, mas eu encontraria uma saída.

Falava com Belinda algumas vezes quando me sobrava tempo. Eu queria saber como ela estava e queria que ela soubesse que mesmo distante, eu estava presente. Ainda estava um turbilhão de sentimentos não explicados entre nós dois.

De uma hora para outra, eu me encontrava querendo saber como ela estava. Belinda, a ex do meu irmão, a marrenta de nariz empinado que estava lutando contra uma doença grave estava plantando algo dentro de mim, e isso estava me assustando.

Segurar o segredo dela estava sendo mais um peso sobre meus ombros, mas prometi-lhe que não contaria nada a ninguém e manteria minha palavra.

No início da quarta semana, eu tinha acabado de encerrar mais uma revisão de um processo quando meu telefone tocou. Olhei a tela e vi o número da Belinda.

– Belinda.

– Oi, desculpa se estou interrompendo... – ela falou antes que perguntasse qualquer coisa.

– Está tudo bem, já estava encerrando meu dia. – falei puxando o nó da gravata afrouxando um pouco. – Estou surpreso com sua ligação, geralmente sou eu quem ligo.

Antes de você - Livro 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora