Capítulo 18

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- Abram o livro na pagina 394.

Logo que entramos na sala de química, havia outro homem lá. Corriam rumores de que nosso professor havia contraído uma intoxicação enquanto preparava a aula prática com ácidos básicos. Esse tal "professor substituto" era velho, não posso negar. Tá, uma palavra mais adequada seria... "experiente"? O caso é que ele já tinha cabelos brancos e uma barba que parecia uma mistura de peruca de papai Noel com pelo de gato que não é lavado a uns cem anos. Vestia roupas antigas e de cores pastel, incluindo um colete de lã que o fazia parecer um cowboy expulso da cidade. Seu cheiro – doce, como uma colmeia de abelhas que amam margaridas - era perceptível em qualquer parte da sala; o que me fez perguntar se ele não havia espirrado seu perfume por entorno da nossa classe. Livros e mais livros estavam espalhados por toda sua mesa, tendo títulos como "Composições e misturas químicas", "Dissecação de sapos" e o pior de todos: "Como ensinar primatas a diferenciar mesas de cadernos".

- Com licença, professor... Vocês não nos disse seu nome. – Amanda, uma das garotas que sempre sentam na frente, perguntou ao professor.

Senti uma corrente fria percorrer minha coluna e me vi torcendo para que o dia acabasse o quanto antes. Havia uma energia estranha na sala, só não conseguia decifrar se era boa ou ruim.

Ele nos encarou por um segundo e, então, tirou seus óculos de formato circular dos olhos e encarou a turma, falando logo em seguida:

- Vejo que gostam de estabelecer uma forma de contato verbal com as pessoas. - começou - Muito bem, vamos realizar uma especie de dinâmica na classe. Direi o meu nome e vocês dirão os seus, seguido pela resposta a pergunta "O que eu mais desejo para o presente?". Combinado?

Todos se entreolharam, um pouco confusos, mas acabaram por balançar a cabeça positivamente.

- Podem me chamar de Mr. Stormrage. Como viram, estarei substituindo seu professor de química por tempo indeterminado. Sigam as regras impostas no quadro, estudem e não fracassem. É tudo o que precisam saber no momento. Você - o professor falou após uma pausa, apontando para o garoto em sua frente -, seu nome e a resposta.

Todos olharam para ele no mesmo segundo. Não conseguia compreender se estava mais nervoso por causa desse ato, pelo olhar intimidador do Mr. Stormrage ou pelo fato de ter sido escolhido o primeiro a falar. Verdade seja dita, eu nunca havia notado esse garoto em nossa classe até agora. Ele deve ser daqueles que sentam no canto (como estava agora) e fica rezando pro dia acabar e ir pra casa.

- M-meu nome é... Jackson, e... - ele gaguejou até parar de falar, observar a sala, fechar os olhos e prosseguir - Ugh, eu quero muito deixar de ser invisível.

Seu desejo impactou a todos. Deixar de ser invisível? Dentre tudo que poderia desejar, ele apenas queria que as pessoas o notassem? Imagino como isso seja. Não ter amigos e nenhum tipo de confidente ao seu lado. Será que por não ser notado, implica em não ter nem mesmo algum inimigo? Alguém que não goste dele? Duvido muito. É completamente injusto julgar uma pessoa sem a conhecer, ainda mais quando ela não tem nem mesmo a oportunidade de se expressar. 

Completamente invisível.

Duas fileiras já haviam falado. Ouvi tantas respostas sobre o que desejavam que eram impossíveis de segurar a risada; coisas do tipo: "Quero passear em um unicórnio", "Ter uma coleção de ursinhos de pelúcia que criam vida" e até "Escrever uma fanfic que faça sucesso no Wattpad". Dá pra acreditar nisso?

- Bem, meu nome é Harry. Harry Styles - ele falou isso com tanta calma que parecia estar falando com uma criança sobre seus sonhos se tornarem reais - E apenas desejo que o presente continue como está. Minha vida está perfeita.

Harry falou isso sorrindo e pude ver que o professor também sorria. Quando digo que esse garoto é magico, ninguém acredita. Assim que ele terminou de falar, o foco do Mr. Stormrage mudou e seus olhos recaíram sobre mim. Pude sentir o sangue congelar em minhas veias. Não, sério, acho que minha pressão baixou aqui um pouco. Por que a sala está girando?

- Meu nome é Georgia Rose... Fletcher - tomei coragem, respirei fundo e parei de encarar o professor, continuando - E o que eu desejo para o presente é que... Ugh, eu queria que tudo isso fosse apenas um sonho.

Escolha de palavras super instigante, Georgia Rose.

Todos os alunos me encaravam como se eu fosse um animal de circo fugindo do treinamento. Meu rosto ferveu. A única coisa que queria para o presente era poder desaparecer e não voltar nunca mais para essa cidade recheada de pessoas confusas.

- Desculpe-me, mas não entendi qual é o seu desejo. Poderia repetir para a classe, por favor? - o professor falou.

Essa é a minha chance.

- A-ah, apenas disse que desejava poder... ver... - olhei ao redor da sala, pensando em algo para completar a minha sentença, logo encontrando algo simplesmente maravilhoso: - Neve.

Acontece que Storytown parece ser a cidade premiada como "diferente". Enquanto nevava em praticamente todas as cidades vizinhas, aqui não fazia frio o suficiente para isso, então acabou sendo meio que algo incrível e completamente mágico pra mim.

Bem estúpido, não acha?

Eu não.

.

.

.

A aula prosseguiu com sua típica monotonia chata e, logo que ouvi o sinal de final de aula, foi como se os anjos cantassem uma melodia que soava um tanto quanto agradável a meus ouvidos - e de todos os outros estudantes, obviamente. Ainda não tinha entendido a finalidade daquela "dinâmica" que o professor nos fez participar. Pra falar a verdade, ainda não tinha entendido aquele professor. Todos estavam especulando que ele é um agente do governo infiltrado na escola para descobrir o segredo dos adolescentes. Sendo agente, jornalista ou até mesmo um professor que odeia a própria vida, sei que não gostei da forma como age. É sinceramente muito suspeito.

Eu, Harry e Joe nos reunimos na entrada da escola. Pedi que não chamassem mais ninguém. Ainda haviam duas atividades que precisava realizar nesta tarde, uma mais complicada e arriscada que a outra:

Número um: escolher uma fantasia para o baile.

Número dois: tirar a Maddie da cadeia.

Continuo achando a segunda tarefa muito mais fácil.



BUM! Capítulo surpresa!

Ficou bem curtinho, eu sei, mas só queria que vocês matassem a saudade da história. 

Pra quem não viu, tem capítulo adicional lá no cinco. É tipo uma parte dois pra completar mais o momento. Não vou dar muitos spoilers, por isso VÃO LER AGORA! Eu deixo *u*

Capítulo novo já ta em processo e tem uma mini história vindo aí também.

XX <3


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