Capítulo 17

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— Devo agradecer você?

Ele não responde. Pega um de seus chicotes.

— Este é o menos doloroso. Vire-se de costas — me viro, pois, sei que não tenho outra opção. A sala que estamos é grande e branca, tem um espelho que cobre a parede à minha frente. Posso vê-lo encarar o chicote em sua mão. Ele abre o zíper do vestido que uso, deixando minhas costas expostas. — Nenhuma marca, aquelas sumiram, como eu presumia. Tire o resto de sua roupa.

Respiro fundo antes de o obedecer, tiro toda minha roupa, tento me cobrir com minhas mãos, mas logo estou me abraçando na esperança de me esquentar. Meu corpo treme de frio. O olhar de Lúcio segue cada parte do meu corpo pelo espelho, suas mãos se apertam no chicote. Quando o vejo levantá-lo em minha direção, fecho meus olhos e espero apenas pela dor, mas ela não vem. Abro os olhos e Lúcio ainda está com seu braço erguido e os olhos cheios de lágrimas.

—Vista sua roupa — diz e abaixa sua mão.

— Por quê? — Lúcio é dotado de mistérios e agora ainda mais. Eu deveria ficar calada e agradecer por ele não ter feito isso, mas minha curiosidade fala sempre mais alto.

— Só saia da minha frente antes que eu mude de ideia! — grita comigo. Visto-me e saio de lá, mas não vou para outro lugar além do corredor. A única coisa que consigo imaginar é Ane sofrendo naquele quarto. Sento-me encostada à parede e escondo meu rosto entre os joelhos enquanto choro. Ouço a porta se abrir e os passos dele próximos a mim, ele apenas se senta ao meu lado.

— Eu pensei que conseguiria, mas a única coisa que me veio à mente foi Ane dando seus últimos, agoniantes suspiros. — Ele se derrama em lágrimas. Ela levou parte de mim.

— Por que está falando isso pra mim? — Pergunto indignada, eu não consigo parar de pensar nela.

— Porque é a única que conheço que vai ouvir isso e me julgar da forma que mereço — diz entre intermináveis soluços, eu queria sentir pena dele, mas eu não consigo.

— Só quero que pague por tudo que fez com ela.

— Isso não vai acontecer. Porque nós nunca perdemos... — não diz isso contente, o que me chama a atenção. — Eu vou ter que ser isso por toda a minha vida e você vai sofrer isso por toda a sua.

— Não me parece feliz com isso.

— Ninguém é, mas eu cresci sendo ensinado a fazer isso. Levanta-se, preciso tirar você daqui antes que os outros líderes cheguem. Eles não podem ver você sem marcas.

— Como assim?

— Era parte do acordo, eu tinha que fazer isso com você, se descobrirem que eu não consegui, vão por minha liderança em prova, podem me fazer até matar você. Eu já passei por isso antes, quando meu pai denunciou meu casamento com Ane e não quero que isso aconteça de novo. — Eu percebo a dor no seu olhar. Ele tenta se levantar, mas eu seguro seu braço.

— O que fizeram com você?

— Você não vai querer saber. — Ele se levanta dessa vez.

Fico ali sentada, tentando entender esse mundo em que me forçaram a entrar, essas pessoas que se dividem entre o bem e o mal, um clã que aparentemente é tão solido, mas que, aos poucos, vou descobrindo que isso não é totalmente verdade. Eles também têm falhas.

Lúcio volta depois de alguns minutos.

— Vou levá-la para casa. — Ele para na minha frente. — Esqueça o que viu hoje.

— Esquecer?

— Esqueça da maneira fácil ou posso deixar essa lembrança em seu corpo.

— Tudo bem.

A escolhida. [amostra]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt