Capítulo 10

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Acordei mais tarde do que o normal hoje. Queria muito não ter que encontrar ele, queria mesmo, mas hoje é domingo. Ele dormiu no outro quarto, o que foi ótimo pra mim. Não queria brigar, a morte de Ane ainda é muito dolorosa e tudo que eu menos quero é mais dor. Desço para tomar café, esse leãozinho dentro de mim é um morto de fome. Não encontro ninguém, tomo meu café em paz e resolvo ligar pra minha mãe. Ela só vive viajando para representar a empresa agora. Tenho certeza de que Richard faz isso para evitar tê-la perto de mim. Não reclamo, pois minha mãe adora viajar.

— Oi, mãe — digo assim que ela atende.

— Oi, filha, que saudade de você — ela diz chorosa, minha mãe é a pessoa mais chorona que conheço.

— Eu também estou morrendo de saudade de você, queria tanto te abraçar.

— Filha, daqui uma semana, estou voltando e não vou largar você.

— E seu netinho.

— Netinho? — Ela pergunta quase gritando. — Zara, eu não acredito que você está grávida.

— É o que parece, mamãe.

— Eu vou ser vovó, meu bebê vai ter um bebê.

Sorrio com seu drama.

Passo horas conversando com ela no telefone. Contei sobre Ane pra ela e ela foi a única que conseguiu acalmar meu coração. Ela ficou tão feliz que o medo de estar grávida foi se amenizando.

— Zara — ouço Justin me chamar, mas não respondo. — Contei para minha família. Minha mãe já está vendo um médico para você — continuo calada. Não quero falar com ele e nem o deixei contar para todos. — Queria que isso fosse um momento feliz.

Levanto-me e saio, voltando para meu quarto. Momento feliz? E se for menina? Duvido se ele faria alguma coisa para impedir o clã. Nenhum deles faria.

Faz uma hora que eu estou deitada na cama fingindo estar dormindo. E faz uma hora que o Justin está sentado de frente para mim, olhando-me. Ele está fazendo jogo sujo para nós voltarmos a nos falar. Não vou falar! Passei um mês sem falar e não é agora que vou. Justin consegue ser a pessoa mais chata do mundo quando ele quer. Esse mês só não foi um total inferno porque me diverti com sua idiotice. Melissa me trata feito uma criança e parece que faz questão de me ver enjoada, porque toda hora me traz comida. Richard só sabe usar meu filho para importância dele para família, pois será mais um no clã. Sempre brigo com ele quando fala que não quer uma menina. Tenho medo de Richard, assim como tinha medo de Bruce, mas não me calo com ele, assim como não me calava com Bruce.

Nunca mais fui às reuniões do clã porque a casa de Amélia só me lembra Ane, também passo a maior parte do tempo enjoada e dormindo. Amélia odiou saber que eu estou grávida, ela disse que isso adiaria tudo, também faltei muito na escola por causa disso. Richard quase me obrigou a desistir, mas não aceitei.

— Uma hora, vai ter que falar comigo. Eu sou o pai do seu filho. — Ele veio até mim e ajoelhou-se do lado da cama e continuou a me olhar. Seus olhos foram em direção a minha barriga e ele sorriu, aproximando-se. — Oi, eu sou seu pai. — Que idiota, abro os olhos e observo a cena. — Sua mãe não consegue me entender e por isso não está falando comigo. Mas você pode dizer pra ela que eu a amo? — me segurei para não sorrir. — Amo ela mais do que tudo, que eu sou um verdadeiro idiota, porque só um idiota que nem eu encostaria a mão nela. Pode pedir pra ela pegar mais leve com o papai também? Existe muita pressão sobre ele ultimamente — Seu olhar pousa em mim e ele sorri. — E que está arrependido e promete defender ela mais daqui por diante? — Ele beija minha barriga e a acaricia. — Eu vou ficar com meus joelhos doendo esperando-a me perdoar.

A escolhida. [amostra]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora