Capítulo 3

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Subo as escadas junto a Melissa, que continua séria. Entro em seu quarto e me sento. Melissa permanece de pé.

— Me dê um minuto. — Ela pede.

Ela fica parada, pensando. Observo como ela está vestida hoje. Usa um vestido azul-claro que se cola no seu corpo deslumbrantemente. Ela disse ter 45 anos, mas aparenta ter uns 30. É perfeitamente cuidada e sofisticada, sempre opta por blusas e vestidos que cubram totalmente as suas costas e braços. Ela não deve gostar de expor o seu corpo.

— Como posso te dizer isso? — Ela respira fundo. — Desde quando você entrou nesse quarto atrás do cesto de roupas suja e fez uma piada atrevida sobre o meu filho, e depois não parou mais de tagarelar, me encantei por você, Zara. Tão nova e determinada, veio parar logo na minha casa. Você foi um anjo que caiu do céu. Comuniquei as mulheres do clã e elas tiveram a certeza de que você é a escolhida... — interrompo-a.

— O que é isso de clã? Vocês são loucos? E eu fui escolhida para o quê?

— Para se casar com o meu filho — caio na gargalhada. — Estou falando sério, Zara.

— Não irei me casar com o seu filho. Melissa, não me leve a mal, mas tenho planos e casamento, no momento, não é a minha prioridade.

— Agora terá que ser. — Ela fala como se fosse a minha mãe.

— Não mesmo! Você não manda em mim! E posso escolher com quem vou me casar e se vou me casar. Você é louca! — começo a gritar e me lembro que a minha mãe está lá embaixo.

— Você não tem opção, Zara! — Ela passa a mão pelos cabelos. — Quando a mãe escolhe a sua escolhida, ela deverá ser a submissa do seu filho. É isso que está escrito, Zara. A escolhida deverá aceitar o seu destino, ou sofrer até a sua morte. Zara, não me faça explicar o que é sofrer para eles.

— Eles quem?! — pergunto gritando. Meus olhos marejam. Eu estou com medo, muito medo!

— Zara, existem tradições que a minha família segue e você foi a escolhida para algo além de se casar com o meu filho. Você quebrará as regras. Então tem duas opções: se casar com o meu filho, ou ver a dor de perder quem você mais ama.

— Não vou perder ninguém e você vai para um hospício!

Isso não é verdade, não pode ser verdade! Eu não vou acreditar nessa louca!

Ela abaixa a parte de trás do seu vestido deixando as suas costas expostas. Meu queixo cai quando vejo o seu corpo com marcas recentes e cicatrizadas.

— Isso foi ontem. Não consegui satisfazer o meu marido da forma que ele queria, então ele seguiu as regras. Ele me puniu. — Ela me encara, chorando. — Deito todas as noites com o homem que um dia eu acreditei amar, mas descobri que ele era apenas um monstro que segue regras doentias. Você pode livrar a mim e milhares de mulheres no mundo inteiro que têm maridos que seguem essas regras, tornando-as livres. Se lembra do que sentiu quando percebeu que a sua mãe não sofreria mais? Também quero sentir isso, mas não posso se você não ajudar. Eu não deveria ter contado sobre a minha mãe para ela.

— Se quer tanto que eu me case com o seu filho, deveria ter inventado uma história melhor — digo.

— Não tem opção quanto a casar com o meu filho, mas pode escolher nos ajudar ou não. As regras são claras: se não se casar com ele, eles virão atrás das pessoas que você mais ama, começando pela sua mãe — meu sangue ferve quando ela fala da minha mãe. — Farão você sofrer a ponto de pedir para morrer. Aceite, que será mais fácil. Você precisa entender como funciona a tradição, o clã, as regras. Quebre as regras, Zara.

A escolhida. [amostra]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora