Capítulo 15

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Justin e eu subimos para o nosso quarto onde Luciano dorme calmamente. Deitamo-nos ao seu lado.

— Ane me pediu para cuidar dele — digo, passando as mãos por seus cabelos castanhos. — Ela tinha medo de que algo acontecesse com Lúcio e ele ficasse sem ninguém. Então eu prometi que cuidaria dele. — Solto um longo suspiro. — Mas não tenho certeza de que devo esperar alguma coisa acontecer com Lúcio para cumprir minha promessa, tenho medo do que ele pode fazer à Luciano. Não tenho certeza de como ele trata essa criança.

— Tenho certeza de que Lúcio o trata bem, é o filho dele, Zara. Você viu o que ele falou, ele acha que pode encontrar Ane.

— Você não sabe o quanto isso doeu, não tem nada pior que ter que explicar para uma criança o que significa a morte.

— Então você tem que entender que não deve estar sendo fácil pra ele, que agora ele está tendo que lidar com uma criança sozinho. Só faz 3 meses desde a morte dela. Se Ane acreditava que Lúcio é capaz de cuidar dele, você também deve acreditar, só dá um tempo pra eles se acostumarem e não tem nada que você possa fazer contra Lúcio — de certa forma, ele tem razão, não posso fazer nada contra Lúcio, não agora. Ane acreditava que Lúcio era capaz de cuidar dele, mas ela também acreditava que uma pessoa horrível, como ele, merecesse viver. Beijo Luciano e prometo a mim mesma que, se ele sofrer nas mãos de Lúcio, eu irei tirá-lo dele, não importa como. — Você precisa descansar, durma com ele. — Ele vem até mim e beija-me.

— Boa noite — acomodo-me na cama, abraçando Luciano.

— Qualquer coisa, estou no quarto de hóspedes — sorrio para ele, que sai em seguida.

Quando acordo de manhã, Luciano já não está mais do meu lado. Arrumo-me e desço para encontrá-lo. Ouço barulhos vindo da sala e encontro os dois jogando o que parece ser um jogo de futebol. Sorrio quando Luciano comemora um gol, é a primeira vez que o vejo falar.

— Eu não vou aceitar perder para uma criança de 4 anos.

— Quase cinco — Luciano diz e sua voz é tão fofa quanto ele.

Vou para a cozinha e vejo que eles ainda não tomaram café. Fico pensando em como Justin deixa uma criança com fome até 10 horas da manhã, sorrio imaginando como ele será com Jake. Preparo cereal para eles e como apenas uma fruta. Eles só percebem minha presença quando eu os entrego uma tigela de cereais, mas logo me ignoram, voltando a atenção ao jogo. Sento-me ao lado deles, sorrindo com suas reações, Justin é péssimo com games, pois Luciano já o venceu umas quatros vezes desde que cheguei, percebo o quão esperto ele é para sua idade.

A campainha toca e levanto-me para atender, é Lúcio que me parece estar mais calmo hoje.

— Posso levar meu filho embora, você vai me impedir de novo? — o tom de ironia na sua voz é mais carregado de humor do que de raiva.

Tenho medo da bipolaridade desses homens do clã, parece que é um traço de todos eles.

— Por favor — digo, fazendo um sinal para ele entrar. Quando Lúcio aparece na sala, Luciano corre alegre para seus braços.

— Papai — o abraço de Luciano é tão apertado que tira de Lúcio uma grande risada, é a primeira vez que vejo algo sincero nele.

— Oi, garotão. — Lúcio faz cócegas nele, fazendo-o cair em uma risada gostosa. Percebo agora os traços que ele carrega de Lúcio e Ane, os olhos, com certeza, são de Ane e o sorriso gentil também, mas todo o resto o transforma em um mini Lúcio. — Nunca mais fuja de casa, entendeu?

— Desculpa. — Ele atropela as palavras, fazendo-as soar erradas e engraçadas. — Queria achar mamãe — seu olhar triste para Lúcio é como se ele tivesse decepcionado o pai. — Queria que você não chorasse mais... — Lúcio parece envergonhado com a revelação de seu filho.

A escolhida. [amostra]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora