Capítulo 4

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Espero anoitecer e vou para o quarto de Melissa.

— O que eles fizeram com o seu irmão? — pergunto entrando em seu quarto.

— Eu recusei o Richard no dia do noivado, não acreditava em nada do que me falavam. Uma semana depois, quando minha vida parecia estar voltando ao normal, meu irmão apareceu morto. — Ela começa a chorar. — Eu não esqueço a cena em que o vi. Eles o trataram como um animal e só tinha 10 anos. Foram as cenas mais horríveis da minha vida! Eles não só o mataram, fizeram o sofrer! — Melissa me abraça e chora em meu ombro. — Fui procurá-lo no parquinho, onde ele adorava brincar, encontrei-o amarrado no balanço e tinha um recado para mim em suas mãos. Aceitei e nunca mais tive coragem de ver a minha família depois que fui embora. Eu me sinto tão culpada e eles sofreram tanto... — os apertos de Melissa me sufocam, mas não reclamo, pois sei como é poder desabafar.

— Melissa, não quero perder a minha mãe, não tenho mais ninguém — tento não chorar, mas é quase impossível. Eu não sei como viveria sem a minha mãe. — Mas também não quero me casar. Você não devia ter me escolhido. — Eu queria estar odiando-a agora, mas tudo que sinto é pena.

— Zara, nunca conheci uma garota como você. Regras existem para serem quebradas e não vejo ninguém melhor do que você para acabar com tudo isso.

— Por que não me explica de uma vez isso... de eu ter que quebrar regras? Melissa, qualquer um pode quebrar regras.

— Não! A questão é quebrar tudo, entendeu? Você tem que acabar com o clã, acabar com essa maldita tradição. Levarei você amanhã a um lugar, mas não pode contar a ninguém.

— Tudo bem, preciso me arrumar — falo coçando a nuca. Lembrei que tenho um jantar hoje. — Vou ter que jantar com o seu filho — as palavras saem amargas da minha boca.

— Sinto muito, Zara. — Ela diz.

— Não, você não sente, ou não teria me escolhido. Contei a minha história pra você, sabe de tudo que eu passei e mesmo assim me destinou à uma vida pior do que a de minha mãe — não a espero falar mais nada, apenas saio.

Juro que revirei todo o meu guarda-roupa e não tinha uma roupa para a ocasião, que ele me desculpe, mas vou de moletom e calça jeans.

Já são 20 horas e vou pra sala esperar por ele. Minha mãe aparece e me olha confusa.

— Vai para onde, mocinha? — ela pergunta desconfiada.

— Vou sair com Justin.

— O quê?

— Melissa pediu para ele me mostrar a cidade.

— Filha, tome cuidado e por favor, se acontecer algo mais, me prometa que vai usar camisinha! — Arregalo os olhos. Minha mãe falar isso tornou tudo mais constrangedor.

— Mãe, eu não vou pra cama com um garoto que mal conheço — sussurro para ninguém ouvir nossa conversa constrangedora.

— Filha, você está em uma idade que os hormônios estão a flor da pele, é normal agir por impulso e ele é muito bonito.

— Mãe, eu já disse que não vou fazer nada! — irrito-me com a conversa, cruzo os braços e viro a cara para minha mãe. Já não basta toda essa situação?

— Não se irrite, querida, falo isso por experiência própria. — Ri e sai para a cozinha. Não acredito que minha mãe me falou isso.

— Vamos — ouço a voz dele atrás de mim e viro-me.

— Está atrasado — digo, levantando-me. Ele revira os olhos.

— Você vai pra onde assim? — ele me pergunta e percebo o quão elegante ele está e o quão brega eu estou.

A escolhida. [amostra]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora