— Agradeça Zara e Justin para nós irmos. — Ele muda de assunto. A ficha só cai para mim quando vejo o olhar derrotado de Lúcio encarando seu filho, talvez eu tenha o julgado, em partes, de forma errada, mas isso ainda não muda o monstro que ele é.

— Obrigado. — Ele abraça Justin.

— Quando você vir aqui de novo, não vou deixar você ganhar. — Justin bagunça seus cabelos e ele ri. Em seguida, vem até mim, abaixo-me com dificuldades para ficar da sua altura.

— Obrigado, Zara — sorrio.

— Sempre que você quiser, pode vir aqui, tá? É só pedir pro seu pai que ele vai te trazer. — Ele sorri e abraça-me. O olhar surpreso de Lúcio ainda está colado em mim. Eles vão embora e suspiro de alívio, a simples presença dele me irrita.

Eu deveria ser uma garota normal indo para o seu baile de formatura, mas tem uma barriga enorme que me impede de me sentir uma garota normal. Já estou de 8 meses e sinto que estou prestes a sair rolando toda vez que ando. Nem queria ter que ir ao baile, mas eu tinha Justin, Maia e Andrew me obrigando.

Escolhi um vestido azul longo e tomara que caia, Justin disse que, se eu não fosse a mais linda desse baile, ele fingiria que eu não existo. Desço as escadas e encontro Justin deslumbrante de terno ao lado de Maia, que também está linda em um vestido longo e rosa, com seus cabelos ruivos em um penteado muito elegante.

— Você está perfeita. — Ele me beija e passa sua mão por minha cintura.

Maia tira uma foto nossa. Tive que dar um empurrãozinho para Andrew convidá-la. Não é legal uma aluna com um professor, mas Maia disse que queria lembrar de ter ido ao seu baile com o professor mais gato da escola e não com um idiota qualquer. Maia acha a maioria das pessoas desprezíveis, menos Andrew. Quando chegamos ao baile, já me arrependo, os olhares se voltam para mim, mas do que costumam se voltar por eu ser a única garota grávida no colégio. Ignoro os olhares e sento-me. Minha barriga está cada vez mais pesada.

— Ainda lembro do meu baile — Justin diz, pegando em minha mão. — Acho que nunca beijei tanto na minha vida como naquela noite — o orgulho em sua voz me dá vontade de o estapear.

— Eu também lembro como se fosse ontem. — Andrew e ele fazem um toque de mãos. Eu e Maia revíramos os olhos.

— Vocês são nojentos. Vou no banheiro — levanto-me e ando em direção ao banheiro. Ouço alguém me chamar e quando me viro, é Andrew.

— Zara, encontrei alguém que pode nos ajudar — diz, mas tem um semblante de preocupação.

— Como assim? Quem você encontrou?

— Ele é da polícia federal, é a única pessoa lá dentro que você pode confiar. — Andrew me entrega um papel com um número, guardo em minha bolsa. — Quando achar que é a hora, você precisa ligar para ele, não sei se vou poder te ajudar nisso.

— Como assim não pode?

— Não posso. Eu me arrisquei para conseguir isso, nem todas as pessoas que falei estavam do lado certo e agora eles sabem quem eu sou e que sei sobre eles, temo que algo possa acontecer. — Assustamo-nos quando todas as luzes são apagadas. Sinto mãos segurarem meus braços e outra, tapar minha boca. Meus gritos são abafados pela mão em minha boca.

— Zara, cadê você? — Ouço Andrew me gritar. — São eles! — Eu sinto o medo em sua voz.

— Socorro! — Tento mas novamente, mas os gritos são abafados. Outra pessoa segura meu braço e puxa.

— Zara, é você?

Andrew continua tentando me ajudar, mas não parece ter só uma pessoa lá. Sinto-o me soltar e a pessoa, que me segura, consegue me arrastar.

— Matem ele — ouço alguém dizer.

— Andrew, foge daqui — grito novamente, mas me calo quando ouço um barulho de tiro e um grito agonizante de Andrew. Fico paralisada, totalmente em pânico. Ouço os gritos das pessoas ao redor, mas não consigo as ver, eu estou cada vez mais distante da confusão que aquele lugar se tornou. Quando volto a enxergar, os homens que me seguram estão mascarados, eles me fazer apagar no mesmo instante.

— Ela vai acordar a qualquer momento — ouço vozes distantes.

Abro meus olhos com dificuldades e demora um tempo até que eu me acostume com a luz. Quando finalmente enxergo as coisas ao meu redor, percebo que estou em quarto branco que contém apenas uma mesinha e a cama que eu estou. Sei que o clã tem algo a ver com isso, sei porque Justin me preparou para isso, Lúcio me considera rebelde e por isso, ele já temia que iria me manter presa até ter meu filho. Ele acha que se for uma menina, eu poderia fugir. Quero dizer a ele que não é, mas eles nos puniriam se descobrissem que sabemos o sexo antes do nascimento. Suas regras dizem que isso tem punições severas. Conheço poucos dessas regras, Melissa e Justin nunca me mostram tudo delas, talvez ele tema que eu saiba todas as consequências que envolve nossas vidas.

— Lúcio — grito com a pouca força que tenho. — Eu sei que foi você que me colocou aqui. — Triunfo todo o meu ódio por minhas palavras. Você não vai me ver sofrer Lúcio, quero gritar. A porta se abre e o corpo magro de Lúcio logo aparece por ela.

— Desculpe, querida, pelo susto que causamos, só queríamos algo triunfal, algo à altura de uma garota como você.

— Não tem motivos para me pôr aqui — digo, tentando me manter calma.

— Claro que tenho, me provou isso mais de uma vez — tento controlar as lágrimas, lembro de como eu falava para Justin que tudo isso de parto me assusta muito, como eu teria medo de não ser forte o suficiente. Como era difícil não ter ninguém me instruindo de tudo que poderia acontecer, já que Melissa e minha mãe estão ocupadas demais com suas vidas. Ele me disse que estaria ao meu lado e que ia rir da minha cara quando tudo acabasse e eu percebesse que não é nenhum bicho de sete cabeças. Se eu ficar aqui, a única pessoa que vai rir de mim é Lúcio, por me ver gritando de dor.

— O que você fez com o Andrew? — lembro do tiro e o grito agonizante dele.

— O seu amiguinho que sabia demais? Ele está no lugar que todas as pessoas que tentam enfrentar o clã estão. — Lúcio se agacha em frente a cama, ficando da minha altura. — Ele foi dessa pra melhor. Um lugar que, se você não tomar cuidado, também vai.

— Você é um assassino.

— Por favor, as ordens não foram minhas, se quiser odiar alguém por isso, pode odiar Marvos. Só lembre que você está aqui unicamente por sua causa, foi avisada sobre a sua rebeldia e quando descobrimos que tinha um amigo seu querendo ajudar, tivemos que nos preocupar, não concorda?

— Eu odeio você! — grito, botando pra fora tudo que eu estou sentindo. Eu não posso acreditar que mataram ele, não posso. Ele tentou me avisar.

— Pode entrar na fila.

— Eu me odiaria se fosse como você.

— Mas é claro que eu me odeio, que monstro eu seria se não fizesse isso? — Eu realmente não entendo ele. — Se serve de consolo, antes, meu lugar pertencia ao meu pai e se ele estivesse vivo, você não teria a mesma sorte. Então agradeça por me ter.

— Agradecer por me trancar em um quarto, grávida?

— Agradecer porque eu fui o único que pediu para que não matassem você depois de ter essa criança — fico sem acreditar que ele fez isso. Lúcio me livrando da morte?

— Por que você fez isso?

— Até mais — ele atravessa a porta que logo se fecha e deixa-me sem resposta. Não quero ficar um mês sozinha, não quero que meu filho venha ao mundo sobre os olhos do clã.

A escolhida. [amostra]Where stories live. Discover now