Estaca zero

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Eliza Senna ~

— Pera aí, o que tá acontecendo Eliza? — Meu irmão entra em meu campo de vista após empurrar as milhões de pessoas na rodinha que havia se formado ao nosso redor.

— Pergunta pro seu amigo.

— É mais uma das brigas de vocês? Cacete em, eu achei que vocês estivessem bem.

— É, eu também achei. — Encaro Ethan de cima a baixo antes de voltar a andar para frente, as meninas ao meu lado, me enchendo de palavras que eu nem conseguia prestar atenção.

Eu estava focada no desgosto que sentia, na angustia em meu peito, concentrada em me impedir de derramar uma lágrima, com um gosto amargo e metálico em minha boca, provavelmente do sangue que escorria das paredes de minha boca, de tanto morde-las.

— Onde vocês vão? — Meu irmão rapidamente nos alcançou, nos parando, novamente.

— Embora. — Peguei na mão das meninas e as puxei para fora daquele lugar, finalmente podendo respirar.

Acidentalmente deixo uma lágrima me escapar, mas a limpei rapidamente. Não quero chorar por ele, não, ele não merece.

— Eliza, espera, não vai embora, por favor. — Ethan segurou meu ombro, me fazendo parar.

Respirei fundo e tomei coragem para encará-lo, me virando em seguida.

— Sabe, eu nem sei por que eu estou tão chateada, eu não sei como eu tive a capacidade de cogitar que talvez, bem talvez, você tinha mudado, parado de pegar qualquer puta que te dá bola, mas a verdade é que eu te dei bola, e isso só me faz mais uma delas. Você só aproveitou, não é? — Ri amargamente. — Mas pode ficar tranquilo, eu já coloquei minha cabeça no lugar, não tem porquê ficar irritada assim, afinal, nós não tínhamos nada mesmo.

— Eliza... — O menino tombou sua cabeça para o lado e me encarou de um modo que quem não o conhecesse poderia jurar que ele estava chateado. — Você nem me deixou falar direito, tirou suas próprias conclusões. É sério isso? A gente vai voltar pra estaca zero?

— É aonde a gente devia ter ficado desde o início. — Dei as costas e entrei no carro vermelho, onde as meninas já me esperavam. Victória havia ficado atrás, então, eu estava na frente.

— ELIZA! — Pude escutar o grito do menino assim que fechei a porta.

Sofia deu partida e eu liguei o rádio, não querendo ficar em um silêncio constrangedor, pois eu sabia que qualquer coisa que elas falassem agora eu não seria capaz de responder.

Uma música do The neighborhood tocava, o que me lembrou do dia maravilhoso de ontem, ele tocando a guitarra enquanto sorria pra mim...

Rapidamente mudei de estação, onde "Brooklyn baby" havia acabado de começar. Encostei minha cabeça no vidro e observei as casas das ruas por onde passávamos. Permiti que meus olhos liberassem as lágrimas que estavam presas, já cansada de as segurar. 

Senti a mão de minha amiga em meu joelho, fazendo um certo carinho com sua mão livre. Posicionei minha mão por cima da sua e a segurei, as entrelaçando de modo engraçado.

— A gente vai falar sobre isso? — Victória perguntou, delicadamente.

— Não, agora não. — Respondi.

Sofia parou o carro em frente a minha casa, olhando para mim com um semblante preocupado. Alguns segundos depois, ela abriu sua boca, querendo dizer algo, mas a fechou novamente. Um tempo depois, ela disse:

— Quer que eu entre? Posso dormir aqui hoje, papai não liga. Amanhã eu volto pra me arrumar e a gente vai junta pra escola.

— Precisa não Soso, mas obrigada.

Meu Inimigo de InfânciaWhere stories live. Discover now