Meu Inimigo de Infância

Eu não transei com ele

Maratona 1/6

Eliza Senna ~

Acordo me sentindo estranha, algo pesado se situa sobre meu corpo, força meu peito contra o colchão.

Sinto algo penicar meu queixo, algo macio e preto.

É cabelo.

Calma, é cabelo?!

Me assusto ao perceber que a cabeça de Ethan está sobre meu tórax, repousando tranquilamente.

Sua respiração á lenta, o seu coração bate calmamente.

O corpo do garoto está praticamente em cima do meu, seus braços jogados sobre o colchão, um de cada lado do meu corpo.

Ó deus, como eu saio daqui?

Tento me levantar lentamente, empurrando o menino para o lado.

O escuto resmungar, e seus braços, que antes estavam jogados, se enrolam sobre minha cintura, me impedindo de vez de levantar.

Eu tenho que tomar banho caralho.

Tento afrouxar o aperto de Ethan ao puxar seus braços, o que não dá tão certo, dado ao fato de que o menino é o dobro do meu tamanho, bem mais forte que eu.

— Ethan.. — Sussurro enquanto o cutuco, mas não tenho resposta.

Tento novamente, dessa vez com a minha boca próxima ao seu ouvido.

— Ethan, me solta... 

Outro resmungo sai da boca do menino, só que desta vez ele afrouxa seu aperto, me possibilitando de o segurar e o rolar pela cama, fazendo com que ele voltasse para o canto onde estava.

Me levanto da cama e olho para o lado, observando o menino ainda adormecido.

Sono de pedra, que isso.

Vou em direção ao closet, pegando meu roupão e uma outra toalha, vou lavar o cabelo.

Entrando no banheiro, faço o esforço de não escutar nenhuma música enquanto me banho, não quero acordar Ethan com minha cantoria.

Ligo o chuveiro, me enfiando embaixo das gotas geladas de água.

Só assim para acordar de manhã.

Pensando um pouco sobre minha vida e tudo que está acontecendo, acabo perdendo o tempo.

Quando desligo o chuveiro, o sol bate na janela com mais força do que anteriormente, os pássaros já cantam, minha pele está mais enrugada do que a de uma senhorinha de 80 anos.

Meu deus, acho que demorei demais...

Abro o box e me enrolo no roupão. Pego a outra toalha e começo a tirar o excesso de água dos meus cabelos. Então, percebo que não trouxe minha roupa para cá, devo ter esquecido de pegar...

 — Droga... 

Abro a porta do quarto, amarrando o roupão em meu corpo.

Olho para a cama e percebo que Ethan já não estava mais lá.

Que ótimo! Não vou passar essa vergonha.

Antes que ele possa voltar, praticamente corro em direção a porta e a tranco.

Vou também em direção as janelas e fecho todas as cortinas, deixando o quarto escuro.

Saio do roupão e o deixo jogado no chão, junto da toalha que estava em minha cabeça.