Prólogo

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Eliza Senna ~

Eu sempre fui daquele tipo de pessoa solta, extrovertida, fala tudo que pensa sem se importar muito, resumindo, eu sou feliz, mas não foi sempre assim, muito pelo contrário! Eu fui uma criança quieta, medrosa, com tantos traumas e problemas.. E pensar que tudo poderia ter sido diferente...ou não.

Até meus 6 anos me lembro de ter uma infância saudável, feliz, como a infância de toda criança deve ser, até o dia em que a mulher que me trouxe ao mundo surtou, ela não é e nunca será minha mãe. 

Não foi do nada, não foi como se de repente ela mudasse e virasse um...monstro, não, ela era incrível pra falar a verdade.

Tudo desandou quando um dia meu pai descobriu que ela estava tendo um caso com o chefe da empresa onde ela trabalhava.

Ela afirmava ser só sexo, que só amava o meu pai e que ia parar - o que não aconteceu, muito provavelmente - e eles tiveram uma briga feia, mas apesar de tudo meu pai ainda a amava, então, a relação permaneceu digamos que "intacta".

Um grande erro.

Meses depois da grande briga, meus avós maternos sofreram um acidente de carro e, infelizmente não resistiram. 

Depois daquilo ela nunca mais foi a mesma, eles eram sua "única família" além de meu pai e eu. 

Ela afundou em drogas e bebidas, todos os dias depois do trabalho ela chegava totalmente embriagada e meus pais brigavam. Papai nunca deixou Carla chegar perto de mim naquele estado, mas nem sempre meu herói estava lá para me defender, e então, ela me batia, sem muito motivo, descontava toda sua raiva e tristeza em mim, sua filha, com a desculpa de que "não estava bem" "estava muito louca" ou "chapada".

Até que um dia, depois de meu pai sair para uma reunião de última hora, meu irmão estava na casa de seu melhor amigo. 

Ela bebeu e bebeu, acabou com duas garrafas de vodca que haviam em casa. 

Não sei como não apagou.

Brigou comigo porque eu havia pedido para ela parar de beber, eu estava preocupada.

E então, me bateu, me bateu tanto... Não conseguia nem me defender. Eu não conseguia mais me mexer, sentia muita dor, pequenininha e encolhida, não tinha mais lágrimas para derramar, elas haviam acabado de tanto chorar e gritar implorando para que aquilo parasse.

Meu pai chegou em casa e viu meu estado, tão machucada - foi o pior dia da minha vida -  e aquela terrível mulher teve coragem de chorar sentada ao meu lado me observando e dizendo coisas como "o que eu fiz" em uma voz baixa.

Me lembro de acordar nos braços de meu pai, ele faltava gritar de tanto que chorava, gotas de lágrimas pingavam sobre meu rosto e eu escutava os gritos, gritos vindo de meu pai, quando ele se deu conta da situação. 

Pareciam estar distantes...Os gritos, já não conseguia escutar muito bem.

A dor que sentia era muito grande para focar na gritaria.

  — "Minha princesinha!... OLHA O QUE VOCÊ FEZ CARLA! NOSSA FILHA... Você--você é um monstro... Filha, acorda por favor!"

— "Me desculpe!... Eu---eu não sei por que fiz isso, eu não estou sã, por favor, me perdoe!"

—"Não existe perdão para isso Carla... Não existe."

Então, meu pai pegou o importante e partiu comigo para o hospital, nunca mais retornando a aquela casa. 

No hospital conheci Victória, uma das minhas melhores amigas até os dias de hoje. Ela tinha câncer na época e estava no mesmo quarto que eu, dividimos quarto por mais ou menos uma semana, tempo onde fiquei no hospital. 

Meu Inimigo de InfânciaМесто, где живут истории. Откройте их для себя