Capítulo XXVIII

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Luiza POV

Abri os olhos e me espreguicei. Valentina estava recostada na cabeceira da cama com a TV em volume baixo, comendo um palito de carne desidratada.

— Que cochilo bom. — Eu a beijei e balancei minhas pernas para fora da cama. — Tenho que
fazer xixi. Sabe o que mais gosto neste banheiro? — falei, olhando por cima do ombro enquanto
caminhava para a porta.

— Papel higiênico?

— Exatamente.
Quando voltei do banheiro, ela me fez experimentar a carne.

— Admita. Não é ruim — disse ela

— É razoável, mas estou muito menos exigente. Onde deixei as pastilhas?

Eu as encontrei no armário. Eu não estava acostumada com ar-condicionado. Por causa disso,apertei mais o robe no corpo e me aconcheguei debaixo das cobertas perto dela.Eu estava rígida e dolorida, mais do que estive quando fui içada da água, e estava grata pela cama tão macia.

Às dez da noite, tentei falar com Carol. Eram nove da manhã em Chicago, mas o celular dela
dava sinal de ocupado.

— Não consegui de novo — falei. Tentei o número da casa dela, mas ficou chamando. — A
secretária eletrônica também não está atendendo.

— Vou tentar o meu pai. Talvez ele tenha falado com ela. — Valentina discou o número de casa e
esperou. Fez que não com um aceno de cabeça. — A linha também está ocupada. Imagino que
estejam todos atendendo a um monte de telefonemas. Podemos tentar de novo de manhã.

Ela colocou o telefone de volta no lugar e acariciou meu cabelo.

— Não sei como vou me acostumar a não compartilhar a cama com você toda noite.

— Então, não vamos nos acostumar — falei.
Apoiei-me em um cotovelo e olhei para ela. Eu não estava pronta para deixá-la ir, por mais
egoísta que me sentisse.

Ela se sentou.
— Você realmente quer isso?

— Quero. — Meu coração pulava, e minha mente dizia que não era uma boa ideia, mas eu não
me importava. — Vamos passar um tempo separadas. Precisamos ficar com nossas famílias. Mas,depois disso, se você quiser voltar, estarei esperando.

Ela suspirou, e uma expressão de alívio tomou conta de seu rosto. Ela me puxou para os seus
braços e beijou minha testa.

— É claro que eu quero.

— Não vai ser fácil, Valen. As pessoas não vão entender. Vão fazer muitas perguntas. — Formou-se um nó no meu estômago, só de pensar no assunto. — Talvez você queira mencionar que já tinha quase dezenove anos quando aconteceu algo entre nós.

— Você acha que alguém vai perguntar?

— Acho que todo mundo vai perguntar.

* * *

Acordei no meio da noite para ir ao banheiro. Adormecemos com a televisão ligada, e, quando eu estava subindo de novo na cama, peguei o controle remoto e passei por alguns canais, parando para assistir às notícias por um tempo.

Eu me sentei ereta quando a CNN anunciou uma notícia de primeira mão, com a legenda APÓS
3 ANOS E MEIO PERDIDAS NO MAR, DUAS CIDADÃS DE CHICAGO SÃO RESGATADAS. A matéria mostrava duas fotos, uma minha e outra de Valentina, paradas no tempo, com as idades de dezesseis e trinta anos.

Delicadamente balancei o ombro dela
— O que foi? — perguntou ela, meio dormindo.

— Olhe a TV.

Valu - Na ilhaWhere stories live. Discover now