Capítulo IV

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ATE AMANHÃ 🥰

Valentina POV

Despertei assim que o céu clareou. Luiza já estava acordada, sentada na areia, olhando para o céu. Meu estômago roncava e minha boca não tinha saliva nenhuma.

Eu me sentei ao lado dela — Ei, como está a sua cabeça?

— Ainda dói bastante — Ela respondeu

O rosto dela também não tinha uma aparência muito boa. Hematomas roxos cobriam suas bochechas inchadas, e havia sangue seco e com casca perto do couro cabeludo. Andamos até a árvore de fruta-pão, e ela subiu nos meus ombros e derrubou duas. Eu me sentia fraca, desequilibrada, e foi difícil segurá-la.

Ela desceu e, enquanto ainda estávamos ali embaixo da árvore, uma fruta-pão caiu de um galho e aterrissou nos nossos pés.

Olhamos uma para a outra — Isso vai facilitar as coisas — disse ela.

Tiramos as frutas podres do chão embaixo da árvore; assim, se voltássemos e encontrássemos alguma fruta no chão, saberíamos que ela era boa para comer.

Peguei a que havia caído e descasquei.
O sumo pareceu mais doce, e a fruta não estava tão dura para mastigar. Precisávamos desesperadamente conseguir uma maneira de estocar água, então andamos ao longo da beira da água procurando latas vazias, garrafas, recipientes, enfim, qualquer coisa impermeável que pudesse guardar a água da chuva. Avistamos escombros, que imaginei serem pedaços do avião,
mas nada mais.

A falta de qualquer lixo humano me fez pensar onde diabo estávamos. Adentramos a ilha. As árvores bloqueiam a luz do sol, e os mosquitos aglomeravam-se em volta de nós. Eu batia neles e limpava o suor da testa com o braço. Vimos o lago quando chegamos a uma pequena clareira. Estava cheio de água turva e mais parecia uma poça grande, mas a minha
sede aumentou.

— Será que podemos beber isso? — perguntei.

Luiza se ajoelhou e enfiou a mão lá dentro. Ela fez círculos na água e torceu o nariz com o cheiro.

— Não, está estagnada. Provavelmente não é seguro beber.

Continuamos andando, mas não conseguimos encontrar nada que pudesse guardar água, então voltamos para perto do coqueiro. Peguei um dos cocos do chão e esmaguei-o novamente contra o tronco da árvore, depois o joguei para longe quando não consegui abri-lo. Dei um chute na árvore, o que machucou meu pé.

— Merda! Se eu pudesse abrir um coco, poderíamos beber a água, comer a polpa e usar a casca para guardar água.

Luiza não pareceu notar meu excesso de raiva. Ficou balançando a cabeça para a frente e para trás

— Só não entendo por que ainda não avistamos um avião. Onde eles estão? –
Eu me sentei do lado dela, respirando forte e suando.

— Não sei.

Ficamos sem falar por um tempo, perdidas em nossos próprios pensamentos.

— Você acha que deveríamos fazer uma fogueira? – falei

— Você sabe como? — perguntou Ela

— Não. — Morei em cidade grande a vida inteira e podia contar nos dedos a quantidade de vezes em que tinha ido acampar, e ainda sobrariam dedos. Além disso, acendemos a fogueira com
um isqueiro. — E você? Sabe?

— Também não.

— Podíamos tentar — sugeri. — Acho que temos tempo de sobra – Ela sorriu com minha tentativa de fazer uma piada.

— Tudo bem.

Durante a hora seguinte, esfregamos dois gravetos um no outro. Luiza conseguiu aquecer o dela o suficiente para queimar o dedo antes de desistir. Eu me saí um pouco melhor, achei que tivesse
visto alguma fumaça, mas nada de fogo. meus braços ficaram doendo.

— Desisto — falei, largando meus gravetos e usando a parte de baixo da blusa para enxugar o suor antes que pingasse nos meus olhos.

Começou a chover. Eu me concentrei em tentar capturar os pingos com a língua, agradecida pela pequena quantidade de água que engoli. A chuva cessou depois de alguns minutos.

Ainda suando, andei até a beira do mar, tirei a blusa e entrei na água apenas de calcinha e sutiã. A temperatura da laguna me lembrava a água do banho, mas eu mergulhei a cabeça e senti um pouco
mais de frescor.

Luiza me seguiu, parando antes de chegar à água. Sentou-se na areia e usou uma das mãos para afastar os longos cabelos da nuca. Devia estar torrando dentro de sua camiseta de manga
comprida e jeans.

Alguns minutos depois, ela se levantou, hesitou e depois tirou a camiseta pela
cabeça. Em seguida, desabotoou e abriu o zíper da calça, saiu de dentro dela e andou na minha direção, usando apenas sutiã e calcinha pretos.

— Posso me juntar a você?  — disse ela ao se aproximar de mim na água

O rosto dela estava vermelho, e ela mal olhava para mim.

— Claro.

Eu estava tão atordoada que mal consegui responder. Luiza tinha um corpo incrível. E
reparar nisso devia ser a última coisa em minha mente, considerando a sede e a fome que eu sentia e quão fodida a situação era, mas reparei

Ficamos na água por um bom tempo e, quando saímos, ela virou as costas para mim e colocou as roupas de novo.

Fomos checar a árvore de fruta-pão, mas não havia nenhuma caída. Luiza subiu nos
meus ombros e eu a equilibrei, ela derrubou duas frutas. Eu não estava com muita fome, o que era estranho, já que eu deveria estar. Luiza também parecia não sentir muita fome, porque não comeu a fruta depois de sugar todo o sumo.

Quando o sol se pôs, nós nos esticamos perto da beira da água e observamos os morcegos encherem o céu.

— Meu coração está batendo muito rápido – falei.

— É um sinal de desidratação — disse ela

— Quais são os outros sinais?

— Perda de apetite. Falta de vontade de fazer xixi. Boca seca.

— Estou com tudo isso.

— Eu também.

— Quanto tempo podemos ficar sem água?

— Três dias. Talvez menos.

Tentei me lembrar da última vez em que bebi algo. Talvez no aeroporto de Sri Lanka? Nós conseguimos pegar um pouco de água quando chovia, mas não seria suficiente para nos manter vivas. A percepção de que nosso tempo se esgotava me deixou completamente assustada

— E o lago?

— É uma má ideia — respondeu ela.

Nenhuma de nós disse o que estava pensando. Se o que nos restasse fosse a água do lago ou nenhuma água, talvez tivéssemos que tomar aquilo mesmo.

— Eles vão aparecer amanhã — disse Luiza, mas ela não parecia acreditar nisso.

— Espero que sim.

— Estou com medo — sussurrou ela.

— Eu também.

Rolei para deitar de lado, mas levou muito tempo até que eu conseguisse dormir.

Valu - Na ilhaWhere stories live. Discover now