Capítulo X

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Valentina Pov

Não comemos nada além de coco e fruta-pão nos dezoito dias seguintes, e nossas roupas estavam largas. O estômago de Luiza roncava enquanto ela dormia, e eu sentia uma dor constante na barriga.

Eu duvidava de que ainda estivessem nos procurando, e um sentimento vazio, oco, que não tinha nada a ver com fome, se juntava à dor nas minhas vísceras sempre que eu pensava na minha família e nos meus amigos.

Pensei que fosse impressionar ela se conseguisse caçar um peixe com o arpão. Em vez disso,consegui furar meu pé, e isso doeu para cacete, mas fingi não ter doído tanto.

- Quero colocar pomada antibiótica no machucado - disse Ela.

Luiza aplicou uma pomada de leve no corte e cobriu com um Band-Aid. Ela disse que a umidade da ilha era perfeita para os
germes e que pensar em uma de nós duas pegando uma infecção a deixava em pânico.

- Você vai ter que ficar fora da água até isso sarar, Valen. Quero que você mantenha a ferida seca.

Ótimo. Sem pescar e sem nadar. Os dias passavam lentamente. Luiza ficou quieta. Ela dormia mais, e eu a pegava enxugando os olhos quando eu voltava depois de catar lenha ou explorar a ilha.

Um dia a encontrei sentada na
praia, olhando o céu.

- É mais fácil se você parar de pensar que eles estão voltando - falei para ela.

Luiza olhou para mim - Então só devo esperar que um avião sobrevoe a ilha algum dia por acaso?

- Não sei, Lu -Eu me sentei ao lado dela - Podíamos ir embora no bote salva-vidas - falei. - Encher de comida e usar os recipientes de plástico para coletar água da chuva. Apenas começar a remar.

- E se a comida acabasse ou alguma coisa acontecesse com o bote? Seria suicídio, Valentina,Obviamente não estamos na rota de voo para nenhuma dessas ilhas habitadas, e não há garantias de que um avião vá nos sobrevoar. Essas ilhas estão espalhadas por milhares de quilômetros de água.Não posso enfrentar isso. Não depois de ver o André. Eu me sinto mais segura aqui, na ilha. E sei que
eles não vão voltar, mas dizer isso em voz alta parece uma desistência.

- Eu costumava me sentir assim, mas não me sinto mais.

Luiza me examinou.

- Você se adapta fácil.

Concordei com um gesto de cabeça.
- Nós moramos aqui, agora.

Valu - Na ilhaWhere stories live. Discover now