Capítulo XXIII

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Luiza pov

Entramos na casa quando a escuridão caiu, e os mosquitos apareceram. Valentina se deitou ao meu lado e
nos cobriu. Ela enroscou seu corpo nu em volta do meu e adormeceu segundos depois.Eu estava bem acordada.

Quando ela me beijou, não parei para pensar antes de retribuir. Éramos duas adultas agindo de comum acordo. No entanto, por mais que eu repetisse isso na minha cabeça, sabia que, se um dia
saíssemos da ilha e as pessoas descobrissem o que havíamos feito, haveria consequências pelas minhas
ações.

Enquanto eu estava no escuro, deitada de conchinha com ela, justifiquei meus atos, me convencendo de que havíamos feito algo bom,além disso, se alguém merecia aquilo, éramos nós. Nossas ações eram um problema nosso e de mais ninguém.
Pelo menos foi isso o que eu disse a mim mesma.

* * *
Usando o boné dela, meu cabelo preso atrás para não atrapalhar, eu me apoiei em um dos joelhos. Espalhados no chão, à minha frente, estavam a vareta curva que Valentina usava para fazer fogo,
dois pequenos pedaços de madeira e um ninho seco de casca de coco e grama.
Cerca de uma semana depois de matarmos o tubarão, Valentina disse que havia uma coisa que eu não
sabia como fazer. Ela sempre fazia as fogueiras e queria ter certeza de que eu podia fazer uma também. Ela estava me ensinando, e eu começava a pegar o jeito, embora ainda não conseguisse
produzir nada além de um monte de fumaça e suor.

— Você está pronta? — perguntou ela

— Estou.

— Tudo bem, vamos lá.

Peguei uma vareta, enfiei-a através da laçada do cadarço e usei o laço para girá-lo. Dez minutos depois, eu tinha fumaça.

— Continue — disse ela — Está perto. Você tem que girar o laço o mais rápido que puder.

Girei o laço mais rápido e, vinte minutos depois, os braços doendo e o suor escorrendo pelo rosto, notei uma brasa brilhando. Apanhei-a por baixo e a levei para o ninho inflamável perto de
mim. Peguei o ninho, segurei-o em frente ao rosto e soprei delicadamente dentro dele.Ele irrompeu em chamas, e eu o larguei.

— Ai, meu Deus!

Valentina  bateu a palma da mão na minha, comemorando — Você conseguiu!

— Eu sei! Quanto tempo você acha que levou?

— Não muito. Mas eu não me importo com a rapidez com que você consiga fazer. Só quero ter certeza de que você consegue. — Ela tirou meu chapéu e me beijou — Bom trabalho.

— Obrigada.

A façanha era agridoce, porque, embora tivesse aprendido a fazer fogo sozinha, a única razão pela qual eu precisaria disso seria se algo acontecesse com ela

Valentina POV

Estávamos almoçando quando uma galinha saiu de entre as árvores.

— Luiza, olhe atrás de você.

Ela se virou — Que diabo?

Observamos enquanto a galinha se aproximava. Ela ciscava, sem nenhum tipo de pressa.

— Havia mais uma afinal — concluí.

— Sim, a estúpida. — Luiza apontou. — Se bem que ela é a última sobrevivente, então alguma coisa ela fez de certo, pelo menos.

Ela foi em direção a Luiza — Ah, oi. Você sabe o que fizemos com as suas companheiras?

A galinha inclinou a cabeça e olhou para ela como se estivesse tentando entender o que ela disse.

Valu - Na ilhaWhere stories live. Discover now