Capítulo VI

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Valentina POV

Quando o sol saiu, eu mal conseguia levantar a cabeça da areia. Dois assentos de poltronas do avião tinham chegado à costa durante a noite, e alguma coisa azul perto delas chamou minha atenção.

Rolei até Luiza e a sacudi para acordá-la. Ela olhou para mim com olhos fundos, os lábios rachados e sangrando.

— O que é aquilo?

Apontei para a coisa azul, mas o esforço necessário para manter minha mão erguida era demais e deixei meu braço cair novamente na areia.

— Onde?

— Lá, perto dos assentos.

— Não sei — respondeu ela.

Levantei a cabeça e protegi os olhos do sol. Parecia familiar, e de repente percebi o que era.

— É a minha mochila. Lu, é a minha mochila!

Fiquei de pé com as pernas trêmulas, andei até a linha da água e a agarrei. Quando voltei, me ajoelhei ao lado da Luiza, abri a mochila e tirei a garrafa de água que ela tinha me entregado no
aeroporto de Malé.

Ela se sentou— Ah, meu Deus.

Tirei a tampinha e passamos a garrafa uma para a outra, com cuidado para não bebermos rápido demais. Tinha um litro e nós bebemos tudo, mas mal deu para começar a matar minha sede.

Luiza segurou a garrafa vazia — Se usarmos uma folha como funil, podemos coletar a água da chuva aqui.

Trêmulas e fracas, andamos até a árvore de fruta-pão e arrancamos uma folha grande de um dos galhos mais baixos. Luiza a rasgou até que estivesse do tamanho certo e enfiou no gargalo da garrafa de água vazia, deixando a abertura o mais larga possível.

Havia quatro frutas-pão no chão. Nós as
levamos para a praia e as comemos.
Joguei na areia tudo o que tinha na mochila. Meu boné dos Chicago Cubs estava ensopado, mas eu o coloquei assim mesmo. Havia também um casaco cinza com capuz, duas blusas de alça fina, dois shorts, uma calça jeans, calcinhas e meias, uma escova e uma pasta de dentes, e o meu celular. Peguei a escova e a pasta. Minha boca tinha gosto de algo que eu nem conseguia começar a descrever.

Tirei a tampa da pasta de dentes, apertei um pouco na escova e estendi a Luiza

— Você pode dividir comigo minha escova de dentes se não se importar.

Ela sorriu— Eu não me importo, Valentina. Mas escove você primeiro. É sua.

Escovei os dentes, enxaguei a escova no mar e entreguei a ela. Ela apertou mais pasta na escova e escovou os dentes. Quando acabou, enxaguou e me entregou de volta.

— Obrigada.

Esperamos pela chuva e, quando ela veio, no começo da tarde, vimos a garrafa se encher de água. Eu a entreguei a Luiza, ela bebeu metade e me devolveu. Depois de eu terminar, colocamos a folha de volta, e a chuva a encheu de novo Nós duas bebemos mais. Precisávamos de mais, muito mais, provavelmente, mas comecei a pensar que talvez não fôssemos morrer, afinal.

Tínhamos um modo de coletar água, tínhamos fruta-pão e sabíamos como fazer fogo. Agora precisávamos de abrigo, porque, sem isso, não conseguiríamos manter o fogo aceso.

Luiza queria construir o abrigo na praia, porque os ratos a apavoravam. Quebramos dois galhos
com formato de Y e os enfiamos na areia, colocando o galho mais longo que conseguimos encontrar entre eles. Fizemos uma cabana com uma única inclinação muito tosca colocando mais galhos de cada lado. Folhas de fruta-pão forravam o chão, com exceção do pequeno círculo onde construímos nossa fogueira.

Luiza pegou algumas pedras para fazer um círculo em volta dela. Ficaria enfumaçado do lado de dentro, mas isso ajudaria a afastar os mosquitos.

Decidimos esperar até a manhã seguinte para fazer outra fogueira. Agora que tínhamos abrigo, podíamos juntar madeira e guardá-la na cabana para que secasse.

Choveu de novo, e enchemos nossa garrafa de água três vezes; eu nunca tinha provado alguma coisa tão boa na minha vida. Quando o sol se pôs, levamos os assentos, os coletes salva-vidas e a minha mochila para dentro da cabana.

— Boa noite, Valentina. — disse ela repousando a cabeça em um dos assentos, com o espaço para a
fogueira entre nós.

— Boa noite, Lu

Valu - Na ilhaWhere stories live. Discover now