Capítulo XVIII

597 117 12
                                    

Valentina pov


Eu estava parada na frente da choupana do Esqueleto quando Luiza me encontrou. O suor descia pelo rosto dela.

— Persegui uma galinha pela ilha inteira, mas ela correu rápido demais. Vou pegar essa galinha nem que seja a última coisa que eu faça. — Ela se inclinou e colocou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. Depois olhou para mim. — O que está fazendo?

— Quero destruir essa choupana, levar a madeira para a praia e construir uma casa para nós.

— Você tem ideia de como se constrói uma casa?

— Não, mas tenho muito tempo para descobrir. Se eu for cuidadosa, posso reutilizar a madeira toda e também os pregos. Posso fazer a cobertura com a lona para não deixar o fogo apagar. —Examinei as dobradiças da porta, imaginando se elas seriam aproveitáveis. — Preciso fazer alguma
coisa, Lu

— Acho que é uma ótima ideia — concordou ela.

Levamos três dias para derrubar a choupana e carregar os pedaços para a praia. Tirei todos os pregos antigos e os coloquei na caixa de ferramentas com os outros.

— Não quero ficar perto da mata — falou ela. — Por causa dos ratos.

— Tudo bem.

Eu não podia construir na praia, entretanto, porque a areia era muito instável. Escolhemos um ponto intermediário, onde a areia acabava e a terra começava. Cavamos uma fundação, que ficou
horrível porque não tínhamos uma pá. Eu usava a parte curva do martelo, a unha, para tirar nacos de terra do chão, e Luiza seguia atrás de mim, coletando em um dos nossos recipientes plásticos.
Usei o serrote enferrujado para cortar as madeiras do tamanho certo. Ela segurava as tábuas enquanto eu martelava os pregos.

— Estou feliz por você ter decidido fazer isso — disse ela.

— Vou demorar um pouco para terminar.

— Tudo bem.

Ela andou até a caixa de ferramentas para pegar mais pregos para mim. Depois que me entregou

— Diga se precisar de mais ajuda.

Ela esticou o cobertor por perto e fechou os olhos. Eu a observei por um minuto, imaginando se a pele dela era tão macia quanto parecia. Pensei no outro dia, quando ela beijou meu pescoço embaixo do coqueiro. Eu me lembrei de como foi bom. De repente, ela abriu os olhos e virou a cabeça na minha direção.Desviei os olhos depressa. Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes ela havia me flagrado
olhando para ela. Ela nunca disse nada,nem disse para eu parar, o que era mais um motivo para eu gostar tanto dela.

* * *

Teria sido o meu último ano na escola, e Luiza  detestava que eu estivesse perdendo as aulas.

— Você provavelmente vai ter que fazer uma prova para obter seu diploma de ensino médio.Eu não culparia você se quisesse fazer isso em vez de voltar e terminar os estudos

— Que prova?

— Às vezes, quando o aluno abandona a escola, ele decide fazer essa prova em vez de voltar a ter aulas. Mas não se preocupe, vou ajudar você.

— Tudo bem.

Eu não estava dando a mínima para meu diploma de ensino médio àquela altura, mas parecia importante para ela.

No outro dia, quando estávamos trabalhando na casa, ela ficou me encarando

— Você precisa tirar os nós nesse seu cabelo, e prendê-lo — Ela passou a mão pelas mechas — Não faz
calor?

Valu - Na ilhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora