CAPÍTULO-TREZE

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DOIS MESES DEPOIS

O tempo passou, mas a ferida permaneceu aberta no relacionamento de Sekane e Dandara. As brigas e desavenças entre eles só aumentaram desde o dia em que seu primogênito foi enterrado. Dandara não conseguia perdoar Sekane, apesar de todos os esforços que ele fazia para buscar o perdão da esposa. Ela estava irredutível, passando um mês e meio afastada dele, na casa da mãe.

Mesmo após seu retorno, as coisas não se acalmaram como esperado. Sekane se sentia exausto com tudo isso e preferiu dar espaço a ela. No entanto, não podia evitar sentir a dor de vê-la se afastar cada dia mais.

Sekane mal se lembrava da última vez que dormiram juntos, compartilhando o calor e o cheiro dos cabelos dela. Dandara estava tão magoada e triste que parecia cega para o fato de que o relacionamento deles estava se desfazendo.

— Eu vou voltar a trabalhar. — Comunicou Dandara, entrando no quarto com uma toalha enrolada.

Sekane, que estava sentado na cama, calçando os sapatos, a olhou surpreso e confuso.

— Como assim? Eu não entendi.

— Acho que você entendeu sim. — Respondeu ela, ríspida, vasculhando o guarda-roupa em busca de seu uniforme.

— Dandara, por favor!

— Eu vou me vestir para a gente não se atrasar, o café da manhã já está feito, você pode me dar licença? — Indagou ela, ainda de costas para ele.

Sekane permaneceu imóvel. Caminhou até ela e, ao se aproximar, disse:

— Por que está fazendo isso? Você ainda não está bem, deveria descansar.

— Eu estou bem. — Rebateu Dandara.

— Não, você não está bem. O que está acontecendo? — Sekane perdeu a paciência. — Já não sei mais o que fazer, dei-lhe espaço, tempo, já pedi perdão por tê-la deixado. Não sabe o quanto me arrependo por tudo, Dandara. — Declarou, com os olhos marejados.

Era difícil para ambos, mas especialmente para ele, pois Dandara se fechava e se tornava fria.

— Seu pedido de perdão não vai trazer de volta nosso filho. — Respondeu ela, pegando suas roupas e saindo de perto do esposo.

Sekane a olhou boquiaberto, sem acreditar nas palavras dela. Parecia que ela o culpava pela morte do filho deles. Antes que ela atravessasse a porta do quarto, Sekane a segurou pelo braço, fazendo-a parar.

— Como é? O que você quer dizer com isso? — Interrogou ele, sério, os olhos fixos e as sobrancelhas franzidas, indicando que não gostou do que ouviu.

Dandara fechou o rosto e logo depois se soltou bruscamente.

— Você entendeu muito bem, Sekane.

— Não, eu não entendi, Dandara. — Ele levou a mão à cabeça, gesto que faz quando está nervoso, respirou fundo e prosseguiu. — Dandara, estou tentando protegê-la, mas você faz de tudo para que isso seja impossível.

— Eu faço isso parecer impossível? E PROTEGER-ME DO QUÊ? — Gritou Dandara, alterada. — Quer saber, esqueça essa proteção, eu vou trabalhar. — Acrescentou, dirigindo-se ao banheiro.

Sekane a seguiu, sem conformar-se com esse novo comportamento da esposa. Não entendia por que ela tornava as coisas mais difíceis do que já estavam.

— Dandara, Dandara... — Ela fechou a porta na cara dele antes que pudesse entrar. — Que droga, Dandara, merda. Está tentando me enlouquecer? São 7h da manhã e não quero brigar com você, mas você não ajuda. — Sekane gritou, batendo na porta do quarto de banho. Estava irritado com o comportamento dela e não sabia mais o que fazer. — O que você quer? Me fala, o que você quer de mim? Que eu morra para trazer nosso filho de volta? É isso?

— Vai se ferrar, Sekane. — Gritou ela do outro lado da porta.

Dandara começou a chorar silenciosamente. Mesmo dois meses depois, a dor era como se fosse recente, a dor de uma mãe que não teve a chance de ver o rosto do seu bebê, de ouvir seu choro, de sentir seu cheiro, suas gargalhadas de bebê. Como poderia viver com essa angústia que assolava seu ser? Não tinha como viver sabendo que seu bebê se foi antes mesmo de conhecê-lo.

Dandara sentia-se sozinha nesse momento de dor. Ninguém a compreendia, nem mesmo seu marido, que aos seus olhos tinha uma parcela de culpa.

— Eu... Eu sinto muito, amor. De verdade, eu sinto muito. — Suplicou ele, encostando a testa na porta, suas lágrimas escorrendo pelo rosto. — Você acha que eu também não estou sofrendo? Eu também sofro. Todos os dias eu acordo me condenando por ter atendido a chamada, me culpo pela morte do nosso filho, Dandara, eu também morri quando ele se foi. Mas eu ainda tenho você, meu amor. Ainda quero acreditar que tenho você. — Concluiu Sekane, esgotado pelo sofrimento e pela falta de compreensão de Dandara.

— Se tivesse atendido o telefone, não estaríamos nesta situação, Sekane. — Acusou ela, entre soluços.

— Eu sei, porra, eu sei. — Sekane deu um soco na porta, assustando Dandara que estava encostada nela. — Não sei mais o que fazer para mudar isso. Nunca desejei que nada disso acontecesse, pelo amor de Deus. Olha para nós, não somos assim. Sempre fomos unidos, amor. Abre a porta e conversamos, por favor. — Pediu ele, diminuindo o tom de voz.

Dandara abriu a porta e, sem olhar para ele, tentou passar de lado, mas foi barrada por Sekane, que a segurou pelos ombros, mantendo-a no lugar.

— Me solta, Sekane.

— Não, não vou te soltar de jeito nenhum. — Respondeu ele, balançando a cabeça negativamente. — Nós vamos conversar, e é agora. — Determinou, olhando fixamente para Dandara, que manteve a postura fria.

— O que você quer, afinal? O QUE VOCÊ QUER DE MIM? — Berrou Dandara, furiosa. — Não aguento mais isso, só me deixa em paz, Sekane.

— Deixar você em paz? Que merda você está dizendo? Você é minha esposa, eu também preciso de você, porra. — Dandara olhou para ele, a respiração ofegante rompendo o silêncio tenso.

— E eu de você quando estava a perder meu meu filho. — Retocou friamente. 

— Não faça isso, connosco,  por favor!

— Você pode usar o carro, eu chamo um táxi. — Disse ela, soltando-se dele e caminhando apressadamente para o quarto. Pegou sua bolsa e saiu correndo de casa, deixando Sekane falando sozinho.

***

Na delegacia, Sekane e Dandara mal trocaram uma palavra, exceto sobre trabalho. Sekane estava irritado com toda a situação e acabou descontando nos funcionários. Quando percebeu, já passara da hora do almoço.

Apesar do turbilhão de pensamentos, tentou se concentrar no trabalho ao máximo. A discussão com Dandara o deixara abalado. Mesmo sabendo que ela provavelmente não aceitaria seu convite para almoçar, Sekane decidiu sair de sua sala e ir até a área de trabalho dela.

Dandara havia sido promovida, agora liderava o departamento de narcóticos. Apesar de ser uma das áreas mais perigosas devido às atividades dos criminosos, Dandara era uma mulher forte e corajosa. Seu departamento lidava com casos relacionados ao comércio e uso de drogas ilegais, realizando operações para prender traficantes, desmantelar redes de tráfico e colaborar com outras agências de segurança.

Sekane sentia-se o homem mais sortudo do mundo por ter se casado com uma mulher como Dandara, cujo compromisso com a sociedade era admirável.

— Oi! — Sekane respirou fundo antes de continuar, pois não queria outra briga, especialmente no local de trabalho. — Eu ainda não almocei, você não quer se juntar a mim?

— Não, eu já comi, mas obrigada pelo convite de qualquer forma. — Respondeu ela, com o olhar fixo na tela do computador.

Derrotado, Sekane suspirou e voltou para o seu departamento. No caminho, encontrou Braúlio, que ao ver sua expressão perguntou:

— Está tudo bem?

— Não! Eu já não sei mais o que fazer, Braúlio. — Desabafou Sekane, olhando para sua esposa concentrada no trabalho.

— Ei, vamos para a sua sala e conversamos melhor.

— Claro. — Respondeu Sekane, com a voz baixa e melancólica.

O Mascarado |Dark Romance |Where stories live. Discover now