CAPÍTULO-DOZE

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A água fria caía sobre os ombros largos de Sekane, enquanto suas mãos se apoiavam na parede de vidro do chuveiro. Observando a água levar todo o seu cansaço e ressaca pelo ralo, ele jogou a cabeça para trás e respirou fundo, buscando aliviar as tensões fortes que o consumiam. As lembranças começaram a invadir sua mente, desde o dia em que conheceu sua esposa, o dia do casamento deles, até o primeiro momento em que descobriu que seria pai. Certamente, aquele dia foi, sem dúvida, o melhor de sua vida.

Ele seria pai, e o que mais um homem como ele poderia querer? Uma família, um bom emprego, uma casa... Tudo isso fazia parte de sua lista para uma boa vida. No entanto, tudo estava sendo tirado aos poucos. Seu coração afundava cada vez mais em uma possível tempestade em sua vida.

Mas algo chamou sua atenção: sua esposa ainda estava no hospital.

— Dandara. Ah, droga. — Sekane saiu apressadamente do box após se enrolar em uma toalha verde.

No quarto, ele vestiu as primeiras peças de roupa que encontrou e saiu correndo para a sala, mas parou bruscamente ao ver Braúlio na cozinha.

— O que faz aqui?

— Ah, bom dia para você também. — Saudou Braúlio, mexendo em uma panela com um copo de whisky na mão.

Sekane ergueu as sobrancelhas, sem entender nada.

— Cara, são oito da manhã, e você está na minha casa e na minha cozinha, às oito da manhã?

— Sim! — Respondeu Braúlio casualmente, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

Sekane levou as mãos ao rosto, cansado demais para uma briga. Mesmo sendo seu amigo, Sekane tinha pouca paciência para quem invadia seu espaço pessoal.

— E como você entrou aqui?

— Ora, Sekane, pela porta, né? E com você completamente embriagado. — Declarou Braúlio, largando seu afazer e caminhando até ele. Assim que chegou perto, desferiu um soco no rosto do amigo, que deu alguns passos para trás pelo impacto do golpe. — Cara, você é o maior babaca que já conheci. Como pode deixar sua esposa, que acabou de perder seu filho, no hospital? Ela é sua esposa, droga. — Asseverou, andando de um lado para o outro.

Sekane olhou para o amigo como se tivesse visto um fantasma, irritado e ao mesmo tempo triste, pois sabia que ele tinha razão.

— Eu também estou sofrendo. — Argumentou Sekane, limpando o canto da boca onde o soco o atingira.

— Jura mesmo, Sekane? Está tão óbvio que você saiu para beber e abandonou sua esposa no leito do hospital.

— Eu já entendi, droga. Eu já me sinto muito culpado por isso e não preciso que você me faça enxergar o meu erro. — Braúlio ficou em silêncio, observando o amigo. Ele de certa forma entendia o amigo, mas era muito frustrante para ele aceitar que Sekane seria capaz de algo tão ruim. — Agora eu preciso ir ver minha esposa. — Acrescentou, pegando as chaves de casa e do carro e saindo, sendo seguido pelo amigo.

Dentro do carro, nenhum dos dois se pronunciou até a metade do percurso até o hospital. Mas o silêncio logo foi quebrado por Braúlio, se desculpando com o amigo.

— Não, você fez bem. Eu estava precisando mesmo de um soco. — Os dois caíram na gargalhada, e assim o caminho até o hospital foi feito em uma atmosfera tranquila.

***

Já no hospital, Sekane adentrou no quarto de Dandara. A visão dela naquele estado, tão vulnerável e triste, mexeu com seu psicológico. Ele se lembrou do juramento que fez de protegê-la e ao bebê, e sentiu o peso de não ter cumprido isso. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, enquanto ele desejava poder tirar a dor dela e carregá-la em seu lugar.

Em passos lentos, ele se aproximou da cama e abriu a boca para verbalizar algumas palavras, mas nada saiu.

— Meu amor! Ei. — Chamou ele, mas não obteve resposta.

Dandara estava acordada, mas em choque. Sua respiração fraca denunciava seu estado, e Sekane se sentou na cama, mas não muito perto dela.

— Ei, amor. Eu... Eu estou aqui, ok? Eu sinto muito.

— VOCÊ SENTE MUITO? — Berrou Dandara, virando-se para o esposo. — Você me abandonou por dois dias, Sekane, e tudo que tem a dizer é "sinto muito"? — As lágrimas voltaram a inundar seu rosto. Sekane engoliu em seco, sem saber o que dizer.

— Eu...

— Você o que? Você foi embora quando eu mais precisei. O nosso filho está morto. MORTO, Sekane. — Ela limpou as lágrimas de forma agressiva, e Sekane entendeu que havia vacilado feio com a esposa. Deveria estar com ela ao invés de sair correndo como um adolescente.

Nada disso, ela tinha toda razão de ficar chateada com ele, e Sekane entendia muito bem isso.

— Me perdoa.

— Era... Era o nosso futuro, Sekane. — Afirmou ela entre soluços. — Por quê? Por que ele tinha que ir? Por quê? — Sekane se aproximou ainda mais dela e tentou abraçá-la e confortá-la. Dandara aceitou, sem questionar, pois precisava dele.

— Me perdoa, meu amor, por favor me perdoa. — Suplicou Sekane, juntando-se à esposa.

Era doloroso demais para ambos, mas Sekane podia sentir o quão forte foi o impacto da perda do bebê para Dandara. Ela chorou a tarde toda, até cair no sono. Depois disso, Sekane saiu por alguns segundos para ir ao banheiro. Braúlio e Cláud

ia já haviam ido embora, pois surgira mais um caso na delegacia.

Quando voltou, encontrou sua sogra sentada perto da filha, apertando sua mão. Ela falava com Dandara enquanto ela dormia.

— Dona Djamila! — A sogra virou-se e o olhar frio já dizia que boa coisa não vinha.

— Você vem comigo. — Determinou ela, depois de se levantar e sair do quarto. Sekane, sem escolha, a seguiu.

Seu rosto virou-se através do tapa que foi dado. Sekane não protestou, apenas aceitou.

— Ah...

— Você não merece a minha filha. Eu confiei ela a você e assim que você a trata? — Indagou ela, chateada. — Como teve a coragem de deixar minha filha no momento mais difícil, em que ela precisa do seu apoio? — Pontuou, bufando pelos narizes.

— Eu peço desculpa, dona Djamila. Eu sei que não existem palavras suficientes para expressar o quão arrependido eu estou, mas eu...

— Mas você é um sem vergonha, desgraçado. Eu deveria saber que você não vale nada. — Replicou ela, extremamente nervosa. — Se foi capaz de abandonar minha filha no leito de um hospital, nem imagino o que poderia fazer com ela. — Sekane olhou perplexo para sua sogra, com as acusações sem fundamento. Certo, ele havia cometido um erro, mas será que deveria ser julgado por todas as suas ações por esse único erro?

Queria responder-lhe à altura, porém a mãe de sua esposa não lhe deu tempo de dizer mais alguma coisa. Ela virou as costas e entrou no quarto, batendo a porta, deixando bem claro que não queria vê-lo perto da filha.

Sekane ficou lá em pé, absorvendo cada palavra que lhe foi dita. Ele poderia retrucar, mas não podia, pois quem mais estava sofrendo era sua esposa. Além disso, fora ele quem a abandonara, então não podia fazer nada em relação aos sentimentos de raiva das pessoas. Ele entendia perfeitamente sua sogra.

Coração Mascarado |Dark Romance |Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin